Brasil já poderia ter recebido 150 milhões de doses de vacinas, aponta CPI da Covid

diretor do Instituto Butantan disse que o governo mandou
cancelar contrato de 100 milhões de doses da Coronavac.

O Brasil poderia ter recebido, até meados de maio, cerca de 150 milhões de doses de vacinas, segundo depoimentos coletados pela CPI da Covid. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse na sessão da quinta-feira (27) que o governo Bolsonaro mandou cancelar contrato de 100 milhões de doses da Coronavac. A elas somam-se recusas de oferta da Pfizer confirmadas em depoimento realizado no dia 13 pelo presidente regional da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo.

A conta foi feita pelo senador Humberto Costa (PT-PE), após confirmar números dados por Dimas Covas na inquirição feita anteriormente pelo relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL). “Se nós fizermos aqui uma ‘conta de padaria’, juntando o que deixamos de comprar da CoronaVac com o que deixamos de comprar da Pfizer, aproximadamente até meados do mês de maio nós teríamos no Brasil algo em torno de 150 milhões de doses para a população”, concluiu. “Quantas vidas teriam sido salvas, preservadas”? De acordo com dados do Ministério da Saúde, até às 19h de quarta (26) o Brasil tinha aplicado cerca de 63,7 milhões de doses e distribuído 96,5 milhões.

Aproximadamente

Conta de padaria é uma expressão popular para se referir a uma soma aproximada. O raciocínio de Humberto Costa leva em consideração as 100 milhões de doses da CoronaVac, mais 18,5 milhões da Pfizer e cerca de 40 millhões da AstraZeneca/Oxford. Esses números não incluem a totalidade das doses da Pfizer recusadas pelo governo federal, que chegam a 70 milhões. Considera apenas o montante que estaria à disposição ainda no primeiro semestre. O senador destacou ainda que 60 milhões das 100 milhões de doses da CoronaVac ignoradas pelo Ministério da Saúde, sob comando de Eduaro Pazuello, chegariam ainda em 2020, mas acabaram sendo repassadas a outros países, o que Dimas Covas confirmou: “sim, foram destinadas a outros países, é óbvio”.

Fabricação caseira

Outro ponto destacado pelo senador pernambucano na CPI da Covid foi a falta de apoio do governo federal na reforma de uma fábrica para que seja possível a produção no Brasil de vacinas contra o coronavírus. Dimas Covas explicou. “A atual fábrica está sendo reformada com dinheiro da iniciativa privada. Houve doação de mais de R$ 180 milhões.” Humberto Costa, então, insistiu sobre aporte do Estado. “Não, não tem nenhum centavo do governo federal”, confirmou o diretor do Instituto Butantan. A previsão é que a instalação esteja pronta no final do ano e que comece a operar no primeiro trimestre de 2022, produzindo 100 milhões de doses por ano, visando campanhas anuais de vacinação.

Ainda neste tema, Dimas Covas relatou que o Butantan deixou de produzir vacinas por um mês em razão da falta do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) oriundo da China, representando atraso na produção de cerca de 7 milhões de doses. “A julgar pelo que vossa senhoria disse, e é testemunha presencial da reunião que houve com embaixador da China, muito provavelmente isso aconteceu por conta dessas ‘sábias palavras’ externadas pelo presidente”, acrescentou Humberto Costa, numa clara ironia às constantes agressões de Jair Bolsonaro, seus filhos e integrantes do governo aos chineses. O depoente concordou.

Jefferson Rudy/Agência Senado
                                 Humberto Costa ironizou a postura de Bolsonaro em relação à China. 

Imunidade de rebanho

Dimas Covas, que é médico, também foi questionado sobre a tese da imunidade de rebanho e argumentou que ela já foi descartada há muito tempo. “No começo da pandemia, alguns países da Europa chegaram a sugerir a possibilidade. Mas naquele momento se sabia muito pouco do curso da pandemia. Então, as medidas de combate – e a vacina é uma –, mas (tem-se) as outras, chamadas não farmacológicas, são fundamentais. Isso foi feito por todos os países do mundo civilizado, a gente só precisaria copiar de forma eficiente. Alguns estados fizeram, mas de forma heterogênea, não houve uma autoridade central coordenando.”

Atrasos da segunda dose

Antes de Humberto Costa quem inquiriu o diretor do Butantan na CPI da Covid foi a senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder da bancada feminina. Ela começou afirmando que o depoimento, até então, “foi um dos mais importantes, relevantes e eu diria até um dos mais demolidores em relação a informações e dados e comprovações de omissão e negacionismo de autoridades públicas na condução da pandemia.” Ela seguiu, elogiando o trabalho do Butantan e dizendo que o instituto está “salvando oito em cada dez brasileiros”.

Simone Tebet foi na linha da demora na disponibilização de vacinas questionando sobre o intervalo entre as doses após lembrar que Pazuello, já de saída do Ministério da Saúde, orientou para que as reservas para a segunda dose fossem liberadas para a aplicação em quem ainda não havia tomado nem a primeira. A decisão, segundo a senadora, gerou atraso de até 20 dias na dose complementar e ela quis saber qual seria a consequência para a população.

Jefferson Rudy/Agência Senado
                       Simone Tebet, no telão, quis saber sobre atrasos na aplicação da segunda dose. 

“A questão da segunda dose é importante porque, de fato, ela é fundamental para completar o esquema vacinal. Vinte e oito dias é um período ideal, mas a vacinação posterior não invalida. Se a pessoa tomar com 30, 40, 60 dias ela não perde. Só vai demorar mais para ser protegida”, explicou. “O que não pode é não tomar a segunda dose”, completou.

Dose de reforço

Tebet também questionou sobre uma eventual necessidade de uma terceira aplicação. Dimas respondeu que prefere chamar de dose de reforço. “Isso será necessário para todas as vacinas, não só em relação à própria duração da imunidade, mas em relação às variantes. Isso é, de fato, uma ameaça. Por isso, uma dose adicional, já com as variantes, está sendo pesquisada, inclusive pelo Butantan.”

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