CUT visita Marcopolo e defende vale transporte social e gratuidade para desempregados

Empobrecida e precarizada pelos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), a classe trabalhadora não consegue arcar com as altas tarifas do transporte coletivo para se deslocar ao trabalho. Principalmente os 69 milhões que representam a soma dos trabalhadores informais, subocupados, desalentados e desempregados não têm como gastar R$ 11,00 (R$ 5,50 é a tarifa de Curitiba, a mais cara do Brasil), por dia, em passagens de ônibus.

Esse contingente que depende de transporte coletivo para ir e voltar ao trabalho ou para procurar emprego é muito maior do que o total de trabalhadores com carteira assinada que, por lei, tem direito a subsídios via vale transporte (44,8 milhões segundo o IBGE). Ter direito, porém, não significa que sejam efetivamente beneficiários.

“Os brasileiros estão gastando mais com transporte coletivo do que com refeição. Temos de ampliar esse debate, exigir soluções e fazer propostas”, afirma o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre. É, por isso, complementa o dirigente cutista, que o movimento sindical deve defender o projeto do vale transporte social para garantir gratuidade das tarifas a desempregados, população de baixa renda e entrar no debate sobre mobilidade urbana e renovação da frota, com mudança de matriz energética para não poluente.

Nobre na Marcopolo

Segundo o dirigente da CUT, entre os motivos que levam o Brasil a ter 4,9 milhões de desalentados (pessoas desempregadas que desistiram de procurar um posto de trabalho), além da errática política econômica de Bolsonaro, está no alto preço das tarifas de transporte coletivo. “Não cabe mais no orçamento, já muito arrochado pelos baixos salários e pela precarização”.

Sérgio Nobre destaca que, mesmo os trabalhadores formalizados e com acesso a subsídio, gastam cada vez mais com transporte coletivo. Esse valor, segundo o Dieese, já atinge R$ 72,00 (16%) no bolso de quem ganha salário mínimo, de R$ 1.212,00 este ano, e 20% para quem tem o rendimento médio brasileiro, que é de R$ 2.447,00. Para piorar, o governo Bolsonaro estuda mexer e reduzir o subsídio.

100% nacional igual a mais empregos

Para falar de vale transporte social, energia renovável, renovação de frota e a importância de soluções para baratear e melhorar a qualidade do transporte coletivo à classe trabalhadora, uma comitiva de sindicalistas com Sérgio Nobre; o presidente da Industriall Brasil, Aroaldo Silva, o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, e o secretário-geral da CNM-CUT, Loricardo de Oliveira, visitou a fábrica da Marcopolo, na cidade de Caxias do Sul (RS), na semana passada.

Reprodução

Maior produtora de carrocerias de ônibus do país, essa empresa nacional que responde por 50% de todos os ônibus produzidos na América Latina, já fabrica veículo 100% elétrico e com zero emissão de poluentes, totalmente nacional. Os sindicalistas foram recebidos pelo presidente da fábrica, James Bellini, e diretores.

O presidente da Industriall Brasil, Aroaldo Silva, disse que o objetivo da visita à Marcopolo foi conhecer o ônibus elétrico, um projeto 100% desenvolvido e produzido em solo brasileiro. “Porque é preciso fazer esse debate sobre economia não carbonizada, renovável, pois a matriz energética está mudando e, com isso, mudará também a mobilidade urbana, o que afetará diretamente a classe trabalhadora”, afirmou o dirigente, que diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

“Um projeto de ônibus 100% nacional, elétrico e não poluente envolve pesquisas e desenvolvimento de tecnologia que ficam no Brasil e que tem tudo a ver com a cadeia produtiva, com mais qualidade de transporte para os trabalhadores e com geração de empregos, o presente e o futuro da classe trabalhadora”, afirmou o presidente nacional da CUT.

Segundo Sérgio Nobre, a visita à Marcopolo dialoga com esses dois debates urgentes e complementares: a renovação da frota com ônibus movidos não poluentes e o vale transporte social que garanta gratuidade à parte necessitada da população.

“É muito importante a classe trabalhadora se apropriar desse tema essencial, porque, na hora em que chegar o veículo elétrico, se o Brasil seguir em crise como está hoje por causa de Bolsonaro, sem possibilidade de investimentos e sem articulação da política industrial por parte do governo, é muito grande a probabilidade de esses veículos serem importados, tirando produção e emprego dos brasileiros”, afirma o presidente da Industriall Brasil.

Calendário e comitês de luta

Sérgio Nobre também destacou a importância e a urgência do debate sobre mobilidade urbana para a classe trabalhadora, tanto que o tema será destaque das ações estabelecidas pelo Calendário de Lutas 2022 para o Estado de São Paulo, que será lançado às 18h desta segunda-feira (14), em Hortolândia. O tema também estará no radar dos Comitês de Luta da CUT, lançados em fevereiro passado.

O presidente nacional da CUT cita dados do IBGE e do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) para destacar o impacto do transporte público na qualidade de vida da classe trabalhadora. “Desde 2016,  46% da força de trabalho sem ocupação se locomove do que os especialistas chamam de ‘forma ativa’, ou seja, a pé, o que impede os desempregados de buscar trabalho”, afirma Sérgio Nobre. Quem consegue pagar as passagens fica até 2 horas e 43 minutos dentro do transporte, em capitais como São Paulo, conforme estudos.

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Sérgio Nobre diz também que mais de oito em cada dez (83%), ou seja, 56 milhões de passageiros por dia usam ônibus e que entre os usuários de transporte coletivo, apenas 20% são beneficiários de gratuidades. As seguidas altas dos combustíveis impostas pelo governo Bolsonaro só pioram essa situação, principalmente de que precisam procurar emprego, porque amenta a inflação, a carestia.

Na quarta-feira (10), o governo federal golpeou mais uma vez  os trabalhadores com reajustes médios do diesel, gasolina e gás de cozinha de 24,9%, 18,8% e 16,0%, respectivamente, nas refinarias. São os maiores percentuais aplicados de uma só vez desde janeiro de 2020, de acordo com dados da própria Petrobras. O óleo diesel, usado nos ônibus, entre janeiro/2020 e setembro/2021 teve reajuste de 67%.

Além da alta dos preços dos combustíveis, a partir da pandemia, o setor de ônibus passou a registrar queda de 30% do número de passageiros. Esse cenário, segundo estudos, deverá aprofundar o ciclo vicioso de perda de passageiros e elevação de tarifas no transporte público e acentuar a elevação de tarifas no transporte público e a tendência histórica de substituição do transporte coletivo pelo individual nas cidades brasileiras. Isso afeta negativamente o trabalhador, o meio ambiente, todo o país, na visão do presidente nacional da CUT.

Sérgio Nobre destaca que a defesa do vale transporte social vai além das bases de representação dos sindicatos, cujos trabalhadores têm carteira assinada. Atende à resolução do 13º Congresso Nacional da CUT, “pois o movimento sindical não pode defender somente o trabalhador formalizado, mas sim a enorme parcela de informais, trabalhadores por aplicativos, desempregados, desalentados, ou seja, toda a população que trabalha e sofre com esse governo que odeia trabalhador, odeia povo”.

 

Fotos: Reprodução

Fonte:  CUT Nacional

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