Multidão protesta em Porto Alegre contra o racismo e em apoio ao Seu Jorge

Uma multidão realizou uma manifestação antirracista, na tarde ensolarada deste sábado (22), no bairro Bela Vista, em Porto Alegre. O ato contra o racismo e em apoio e solidariedade ao cantor Seu Jorge teve início na Praça da Encol, seguiu com a caminhada pelas avenidas Nilópolis e Nilo Peçanha, terminando em frente ao clube Grêmio Náutico União (GNU), que fica nas proximidades.

O ato foi convocado por coletivos negros e movimentos sociais, como o Movimento Negro Unificado, o Movimento Vidas Negras Importam e a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro-RS), com o apoio da CUT-RS e centrais sindicais e da bancada negra na Câmara Municipal.

Os manifestantes denunciaram o racismo estrutural, que é um conjunto de práticas discriminatórias, institucionais, históricas, culturais que privilegiam pessoas brancas e desfavorecem a população negra e indígena.  É um processo longo de desigualdade, que se desdobra na violência contra jovens e mulheres, no encarceramento em massa, no genocídio do povo negro, na pobreza e na exclusão social.

Não faltaram palavras de ordem, como “acabou o amor, isso aqui vai virar Palmares”, “racistas, fascistas, não passarão” e “fora Bolsonaro”.

Todo apoio a Seu Jorge

Eles também protestaram contra os insultos racistas com imitações de macaco feitas ao Seu Jorge no final do show realizado no último dia 14, na reinauguração do salão do clube. Conforme testemunhas, que já prestaram depoimentos no inquérito aberto na Polícia Civil, o cantor foi hostilizado com gritos de “uh, uh, uh”, simulando o som do animal, além de sido xingado com ofensas como “negro vagabundo” e “preguiçoso”.

As agressões aconteceram ao final do espetáculo, onde o cantor chamou ao palco um jovem menor de idade, tocador de cavaquinho, e fazer um apelo para que não ocorra no país a redução da maioridade penal para 16 anos. O projeto tramita no Congresso Nacional, sendo defendido pela campanha de Bolsonaro.

Repúdio ao racismo

“Repudiamos qualquer instituição que tenha o princípio de segregar, humilhar e desrespeitar pessoas de pele preta. Estamos aqui, pessoas brancas e pretas, juntas, combatendo o racismo e mostrando que existe, sim, uma política antirracista, que é possível, através do nosso voto no próximo dia 30, para mudar essa realidade nefasta”, afirmou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Isis Garcia.

O representante do Vidas Negras Importam, Gilvando Silva Antunes, ressaltou que “estamos aqui, negros e não-negros, para fazer um alerta sobre a questão do racismo. Todos os dias, milhares e milhares de pessoas são discriminadas em função da sua cor. Esse tipo de preconceito tem de ser varrido”.

“Racismo é crime e não se negocia”

A vereadora e deputada estadual eleita Laura Sito (PT) afirmou que a agressão ao Seu Jorge “partiu de uma elite racista que, incentivada por uma conjuntura acirrada pelo ódio, não aceita a população negra e pobre em espaços de destaque e de poder”. Para ela, “cada vida negra é perdida pelo silêncio daqueles e daquelas que se julgam não racistas, mas não fazem nada para combater o racismo. Nós não aceitamos mais”.

O vereador e deputado estadual eleito Matheus Gomes (Psol) disse “que este é um local onde não estamos acostumados a protestar” e lembrou que o território era “uma colônia africana até metade do século passado, mas aos poucos fomos sendo expulsos deste entorno”.

“Eles achavam que o Seu Jorge devia subir no palco para fazê-los dançar e se divertir, enquanto nos oprimiam e nos exploravam. Esse tempo ainda não se encerrou, inclusive porque o Rio Grande do Sul teve outras manifestações de racismo, como a do Bibo Nunes, que é um racista”, denunciou.

Bolsonarista, o deputado federal não reeleito do PL divulgou um vídeo durante a semana, dizendo que universitários de Santa Maria, no interior gaúcho, “merecem ser queimados vivos”. Segundo Matheus, “hoje nas universidades tem jovem negro, indígenas e gente de periferia. Se fosse a universidade de 20 anos atrás, ele jamais falaria isso”.

“Racismo é crime e não se negocia”, acentuou a vereadora e deputada federal eleita Daiana Santos (PCdoB). “É a vida do nosso povo negro que está ameaçada e exigimos os nossos direitos”, destacou.

O ato contou também com pronunciamentos da vereadora Karen Santos (Psol), da vereadora suplente Reginete Bispo (PT) e de representantes de movimentos, além da participação da deputada estadual reeleita Sofia Cavedon (PT) e do vereador Jonas Reis (PT) e de dirigentes de entidades sindicais e associações.

A manifestação teve ainda a participação de associados do clube, como o psicanalista Roberto Amorim, sócio e atleta do União. Ele disse que já colheu mais de 150 assinaturas numa carta com pedido de desculpas, que será enviada ao Seu Jorge.

“Se o Seu Jorge é recebido com imitações de macaco, imaginem o que acontece com um cidadão comum, alguém que tem sua pele como marcador. Queremos que isso jamais se repita no clube”, frisou Amorim.

Provocações na dispersão

Na dispersão do ato, que teve acompanhamento da Brigada Militar, ocorreram duas ocorrências. O motorista de um carro que passava provocou com gritos de “Lula ladrão” em frente à Praça da Encol, tendo sido vaiado por manifestantes que se deslocavam pela Nilópolis, muitos usando adesivos e levando bandeiras do candidato do PT.

Um bolsonarista, na mesma praça, segurando uma bandeira do Brasil e fazendo um gesto com a mão imitando arma, também provocou os manifestantes. Houve troca de socos e cadeiradas, mas tudo foi logo contornado com a presença dos brigadianos.

União divulga nota sobre manifestação

Em nota à imprensa, o Grêmio Náutico União se posicionou sobre a manifestação antirracista e os ataques sofridos por Seu Jorge. Confira!

“Em relação às manifestações contra o racismo promovidas neste sábado (22) em frente ao Grêmio Náutico União, elas são legítimas e têm total apoio do Clube, desde que realizadas de maneira pacífica. O Grêmio Náutico União lamenta os fatos ocorridos durante apresentação do cantor Seu Jorge, no dia 14 de outubro, em suas dependências, com a presença de associados e não-associados.

O Clube se solidariza com o artista, que foi escolhido para realizar o show por sua representatividade na cultura nacional e pelo reconhecimento internacional, e destaca o respeito ao profissional e ao seu trabalho. O Grêmio Náutico União repudia qualquer tipo de discriminação e está colaborando com a Polícia Civil para a apuração dos fatos”.

 

 

Fonte: CUT-RS com GZH

Foto: CAROLINA LIMA – CUT/RS

 

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