Por trabalho decente, movimento sindical deve se apropriar do debate da Indústria 4.0

Em painel sobre inovações tecnológicas, durante Congresso Extraordinário da CUT, representantes do Macrossetor da Indústria debatem ações internacionais em defesa do emprego e direitos

 

O Macrossetor da Indústria da CUT (MSI) vai intensificar a luta contra a reforma trabalhista e propor ações conjuntas com as entidades sindicais da América Latina e Caribe em defesa do trabalho decente, ainda mais presente com a chamada 4ª revolução industrial ou Indústria 4.0.

 

A informação é de Maicon Vasconcelos, secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), organização que, ao lado das confederações cutistas de trabalhadores na alimentação, na construção, químicos e têxteis compõe o MSI. “O processo de transformação já está em curso e temos de reagir”, disse.

 

Maicon assinalou que a intenção é a de realizar, no primeiro semestre de 2018, um grande evento para aprofundar o debate sobre o trabalho nas grandes cadeias globais de produção, tendo como foco a Indústria 4.0 e as relações de trabalho.

 

A decisão foi tomada pelo Macrossetor da Indústria na última quarta-feira (30), ao final do painel ‘Diálogo Latino Americano e Caribenho sobre inovações tecnológicas e os impactos no mundo do trabalho’, que integrou a programação do Congresso Extraordinário da CUT, realizado em São Paulo.

 

A atividade reuniu os presidentes das cinco confederações dos trabalhadores na indústria (Paulo Cayres, da CNM, Lu Varjão, da CNQ, Cida Trajano, CNTRV, Cláudio Gomes, da Conticom, e Siderlei de Oliveira, da Contac) e o secretário geral da CUT, Sérgio Nobre.

 

Todos destacaram a importância do Macrossetor para unificar as ações dos trabalhadores, especialmente no momento em que o Brasil atravessa um de seus piores momentos, com o golpe que está destruindo direitos sociais e trabalhistas.

 

Na plateia, além de trabalhadores dos cinco ramos industriais brasileiros, estavam também sindicalistas de outros países, como Benjamin Davis, da United Steel Workers (sindicato dos trabalhadores em siderurgia dos EUA e Canadá), Monicah Gachuki, do Quênia, e Ebenezer Acheampong, de Gana (estes dois últimos que estão participando de curso na Unicamp, no programa Universidade Global do Trabalho.

 

“Revolução” para maximizar lucros

A atividade começou com a palestra “As transformações tecnológicas na indústria hoje”, feita pelo técnico da Subseção do Dieese da CNM/CUT, André Cardoso. Ele apresentou um histórico sobre as três revoluções industriais ao longo da história (final do século 18, início do século 20 e início dos anos 1970) e a atual – que está sendo chamada de Indústria 4.0. Todas elas, segundo ele, buscam novas formas de acumulação capitalista, otimizando processos produtivos com incremento tecnológico, reduzindo postos de trabalho e maximizando lucros.

 

A partir de sua apresentação, os participantes debateram a importância do movimento sindical se apropriar deste tema para intervir com maior capacidade nas relações capital-trabalho. “É difícil se contrapor a estes processos. Temos que disputar a apropriação do uso da tecnologia. Hoje ela só é usada para aumento do lucro das empresas; temos que usá-la para a melhoria do bem-estar do trabalhador”, destacou Paulo Cayres.

 

O dirigente da USW, por sua vez, lembrou que a “promessa desta nova revolução industrial” é que os produtos trarão maior conforto para as pessoas e empregos qualificados com boa remuneração, com fechamento de vagas com a automação. “Mas, até o momento, o que se vê na retomada econômica recente dos EUA é a criação de postos não qualificados”, contou Davis. Ele recordou também que o debate sobre fechamentos de postos aconteceu com o Fordismo (segunda revolução industrial) e que não se pode esquecer que os trabalhadores são consumidores e que o capitalismo precisa de consumidores. “Essa revolução não ajuda ninguém se não pudermos consumir esses produtos maravilhosos”, alertou.

 

No outro extremo, estão países como os do continente africano, onde os debates sobre tecnologia e organização sindical ainda são distantes da realidade. “Na África subsaariana, há poucas indústrias e uma agricultura de subsistência não muito mecanizada, com alta taxa informalidade da mão de obra (de 80%). As leis trabalhistas não protegem essas massas de trabalhadores informais e é difícil organizá-los”, relatou a queniana Monicah Gachuki.

 

Vários participantes do painel lembraram também que no próprio Brasil há diferenças significativas nos processos produtivos e que esse debate deve ser levado a todas as regiões. A coordenadora do MSI, Cida Trajano, destacou a importância também do movimento sindical formular propostas para a política industrial e que a proposta de criação do Instituto da Indústria – conduzida pelo Macrossetor – será fundamental para que os trabalhadores se insiram também no debate sobre inovação tecnológica.

 

“Este debate deve ser democratizado para todas as regiões, porque é fundamental para a estratégia de resistência internacional da classe trabalhadora, por empregos decentes e por direitos efetivos”, enfatizou Maicon Vasconcelos.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa da CNM/CUT

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