Leite reconhece que proposta de retomar aulas pela educação infantil é motivada pela economia

O governador Eduardo Leite reconheceu, nesta quinta-feira (13), que a proposta de retomar as aulas presenciais, começando pela educação infantil, com crianças entre 0 e 5 anos, é uma decisão relacionada à abertura das atividades econômicas. “Em função da nossa economia estar, cada vez mais, retomando as atividades, precisamos ter um local para deixar as crianças”, explicou, durante transmissão por rede social. Leite também destacou que a educação infantil é uma etapa não obrigatória para os pais enviarem os filhos, assim como não há o cumprimento de dias letivos.

A intenção contraria o resultado de uma consulta pública realizada pelo próprio governo estadual em julho, com sindicatos, associações e secretarias municipais. A pesquisa indicou que 89% dos participantes preferem que a educação infantil seja a última a voltar às aulas presenciais. Questionado pelo Sul21 de por que não considerar o resultado da consulta pública, Leite discordou e disse que o governo está levando em conta a pesquisa, mas apenas invertendo a ordem da educação infantil.

“Nós consideramos o resultado da pesquisa, tanto é que o único ponto é a antecipação da possibilidade de retorno da educação infantil, mas o restante do calendário é aquele que foi apresentado”, afirmou. “Vários pais e mães estão trabalhando presencialmente, nossa economia está, cada vez mais, retornando ao normal, e cada vez mais, pais e mães, estarão sem onde deixar seus filhos. Portanto, a educação infantil se torna mais essencial, enquanto outras etapas de ensino ainda podem remotamente atender.”

Pela proposta apresentada pelo governo estadual, o ensino infantil será o primeiro a retornar, no dia 31 de agosto, seguido pelo ensino superior, em 14 de setembro, o médio e técnico, em 21 de setembro, os anos finais do ensino fundamental, em 28 de setembro, e os anos iniciais do ensino fundamental, em 8 de outubro. Segundo o governo, a volta às aulas presenciais ocorrerá apenas nas regiões que estiverem em bandeira amarela ou laranja e será num modelo híbrido, ou seja, combinado com as aulas on-line.

Desde que foi anunciada esta semana, a proposta tem sido criticada por profissionais da educação e da área médica. Além de iniciar com as crianças menores, que têm mais dificuldade em cumprir protocolos de segurança, o atual momento enfrentado pelo Rio Grande do Sul, com altos índices de contágio e mortes por covid-19, também é apontado como equivocado para tratar da volta às aulas presenciais.

“É uma proposta fora do contexto das próprias ações do governo. Nos deixa muito confusos, dá a impressão de que a mensagem inicial não era verdadeira ou que agora quem está determinando as ações são outros interesses e não a preservação da vida”, afirma o infectologista Alexandre Zavascki, consultor do Comitê Covid-19 da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia. “Vamos expor as crianças à uma doença, elas certamente vão ser infectadas. Não entendo porque expor os mais jovens.”

A retomada das atividades econômicas, justificativa apresentada pelo governador, também não é bem vista pela reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a médica Lucia Campos Pellanda. “Esse não é o momento de voltar nada. Estamos com casos muito altos ainda e uma pequena mudança pode causar esgotamento do sistema de saúde”, ressalta.

Sem obrigatoriedade

Durante a entrevista desta quinta-feira (13), Leite explicou que a ideia foi primeiro apresentada para a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) porque as prefeituras são mantenedoras de redes de ensino e precisam se organizar, seja para uma volta em setembro ou mais adiante.

O governador também destacou o risco de as escolas privadas quebrarem e a rede pública não ter condições de absorver a demanda. Leite ponderou que os alunos do ensino fundamental e médio, em escolas privadas, estão estudando pelo modo on-line, porque já tem autonomia, mas o mesmo não acontece na educação infantil. “Aí a maior parte dos pais, ou boa parte dos pais, não paga a escola porque não está tendo aula, e boa parte das escolas de educação infantil acaba quebrando. Se essas escolas deixarem de existir, a rede pública não vai ter capacidade de suportar a demanda que virá.”

Apesar das críticas que a proposta tem recebido, ele enfatizou que o possível retorno não será obrigatório e aqueles pais que tiverem condições, podem e devem manter os filhos em casa.“É até recomendável que permaneçam com os filhos em casa, mas aqueles que não têm outra opção, precisam ter a opção de um local”, afirmou. “Mantenham seus filhos consigo, mantenham em casa, não serão obrigados a enviar seus filhos, mas permitam que, aqueles que tenham a necessidade de um espaço onde protocolos serão observados, que eles tenham essa opção.”

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que o retorno dos estudantes às aulas no modelo presencial, terá o consentimento dos pais em todos os níveis de ensino. Para aqueles pais que não quiserem enviar os filhos, uma alternativa deverá ser encontrada. “O acesso à educação é garantido pela Constituição Federal e por órgãos como o Conselho Estadual de Educação (CEEd) e Ministério Público. Desta forma, a rede de ensino deverá oferecer uma opção de educação ao aluno, seja de forma remota ou por meio da entrega física dos materiais didáticos pelos professores”, diz a nota.

 

Fonte: Sul 21

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