Vender Correios por um “valorzinho” como quer governo é crime de peculato
A decisão do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) de colocar os Correios à venda por um “valorzinho”, um preço simbólico, como declarou a secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillie, pode ser enquadrada no crime de peculato. A PPI, secretaria responsável pelas privatizações, é ligada ao Ministério da Economia.
Segundo o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, do governo de Dilma Rousseff (PT), o governo Bolsonaro só poderia vender os Correios por um preço simbólico se transformasse a empresa em Sociedade Anônima, com abertura de um IPO (Oferta Pública Inicial) para vender suas ações na Bolsa de Valores, o que não é o caso.
O Projeto de Lei (PL) nº 591, aprovado pela Câmara, e que precisa passar ainda pelo Senado, é de venda no chamado modelo “porteira fechada”. Ou seja, todos os ativos dos Correios serão entregues a quem comprar a estatal.
Além dos imóveis que os Correios possuem existe ainda um patrimônio público que chama a atenção de pouca gente, mas que tem um valor inestimável, ressalta Aragão, que é a numeração dos Códigos de Endereçamento Postais (CEPs).
“Todo o sistema de CEP hoje é a base de todos os mapas de GPS no Brasil. A empresas recebem fortunas com um projeto do governo, feito pelos Correios, que foi o de dar um número para cada rua deste país. Em cima disso você tem várias aplicações tecnológicas”.
“Foi o poder público que investiu no sistema dos CEPs e ele não pode abrir mão de graça. Ali cabe claramente uma ação popular para impedir a venda desses bens que pertencem a União”, completa Aragão.
As declarações da secretária de que vai vender uma empresa que só no ano passado teve um lucro de R$ 1,5 bilhão, sem fazer caixa, levou a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), a acionar o seu departamento jurídico para tomar as medidas cabíveis.
De acordo com o secretário-geral da entidade, José Rivaldo da Silva, a Fentect vai formalizar uma denúncia junto aos órgãos de controle e ingressará com medidas jurídicas para responsabilizar a secretária que utiliza cargo público pra depreciar ativos do governo, e dar vantagens a grupos de empresários.
“Essa declaração traz uma grande preocupação porque ninguém pode brincar com coisa séria. Este é o tom do governo Bolsonaro para as questões relevantes, mas infelizmente não é surpresa este tipo de conduta da turma do entreguismo”, diz José Rivaldo.
A declaração de Martha Seillie é repulsiva e mostra que este governo não conhece nada sobre a empresa que em seus mais de 350 anos de história tem um valor inestimável, complementa indignado o secretário de comunicação da Fentect, Emerson Marinho.
“Se fosse negociar o valor da marca Correios e seus imóveis, inclusive tombados pelo Patrimônio Histórico, não teria nem como precificar”, diz Marinho.
Imóveis dos Correios vendidos a preço abaixo do mercado
O secretário de comunicação da Fentect, diz que a entidade está apurando também as denúncias de que imóveis dos Correios estão sendo vendidos a preços abaixo do mercado. A denúncia é que muitos imóveis estão sendo arrematados pelo banco BGT Pactual, do qual o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi sócio.
Emerson Marinho alerta ainda para outras denúncias que vem recebendo sobre imóveis sendo vendidos a preços bem abaixo do valor.
“Recebi uma denúncia de que um terreno dos Correios cujo valor seria de R$ 4 milhões foi vendido por apenas R$ 380 mil. Isto vem ao encontro do que noticiou o site Intercept Brasil, de que quem comprar a empresa levará junto cerca de 2.500 imóveis, por todo o país, avaliados em 2020 em R$ 3,850 bilhões” afirma Marinho.
O problema é que esta última estimativa está bem abaixo dos R$ 5,692 bilhões avaliados em 2014. Ou seja, em apenas seis anos depois da última avaliação, o governo Bolsonaro informou este valor menor dos imóveis dos Correios nas demonstrações de resultados apresentadas em maio de 2021, meses depois do governo oficializar o projeto de privatização da estatal, diz o Intercept Brasil.
Essas denúncias precisam chegar ao maior número possível de brasileiros para que haja uma forte resistência contra a sua privatização, acredita o secretário-geral da Fentect.
“A nossa esperança é tentar fazer o povo compreender que a privatização prejudica toda uma sociedade, e de que só a luta pelo ‘fora. Bolsonaro’ fará o país voltar a ter uma politica mais voltada ao povo”, conclui José Rivaldo.
Fonte: CUT Brasil