“O Sindicato é a melhor ferramenta para proteger os trabalhadores”, afirma o diretor do STIMMMESL, Alexandre Gil 

Aos 42 anos, o metalúrgico da Stihl, Alexandre Gil está no seu primeiro mandato como diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL) e confessa que “sempre ouvia o pessoal falar mal do Sindicato, mas escutava e não conhecia a entidade e quando entrei para o Sindicato, conheci um povo que luta muito.” Hoje, o ex-cipeiro é enfático ao afirmar que “O Sindicato é a melhor ferramenta para proteger os trabalhadores”.

Nesta entrevista de sexta-feira (4), Alexandre fala sobre a experiência do seu primeiro mandato como dirigente sindical, a importância de fortalecer a entidade através de conversas e diálogos com os trabalhadores, principalmente os mais jovens. “Hoje tem muitos jovens nas empresas, eles estão estudando e procurando se especializar em áreas técnicas e temos que procurar conversar, dialogar, fazer o jovem acreditar que ele tem que se envolver com o meio sindical, até para não perder direitos.”

 

Confira a íntegra da entrevista: 

Conta um pouco da sua história. Como entrou no movimento sindical? 

Meu nome é Alexandre Gil e comecei a trabalhar na metalurgia com 21 anos, numa empresa em Cachoeirinha chamada AABB, trabalhei dois anos e nove meses lá e numa época de crise fui desligado. Um colega colocou a empresa na justiça e queriam que eu testemunhasse a favor da empresa, disse que não, naquela semana, inclusive, havia ganhado aumento e dois, três dias depois me chamaram no RH e falaram que não precisavam mais dos meus serviços. Fiquei oito meses procurando emprego, até que fui fazer uma entrevista na Stihl, aqui em São Leopoldo e peguei ali, já tem 11 anos. Conheci o Cristiano, que era diretor do Sindicato e comentava com ele as coisas da empresa, que não concordava com algumas atitudes de lideranças e certas coisas que aconteciam e ele me fez o convite para entrar para o movimento sindical. Na época, disse para ele que não era o que eu queria, acabei entrando para a CIPA para poder fazer algo pelos colegas, pedir ventilador, bebedouros que faltavam, coisas simples, cotidiana, mas que não tinham no setor. Passou o período da CIPA e o Cristiano fez novamente o convite e acabei entrando para o Sindicato, tem quatro anos.

 

 

 

A atual gestão está no final de mandato. Como foi a essa experiência para ti? 

Infelizmente alguns diretores saíram por motivos pessoais, eu particularmente gostei muito da experiência, do mandato, nunca tinha vivido algo parecido. Sempre ouvia o pessoal falar mal do Sindicato, mas escutava e não conhecia a entidade e quando entrei para o Sindicato, conheci um povo que luta muito. Tu vê o dia a dia das pessoas aqui dentro, tu vê os problemas dentro da fábrica, as vezes questão na fábrica grande é totalmente diferente das empresas pequenas, vê o pessoal desligado e com falta de pagamento, com empresa que faliu e deixou os trabalhadores desamparados.

 

Tu trabalhas numa empresa que tem PLR. Qual a avaliação que tu faz do PLR para os trabalhadores? 

Na Stihl, nós chamamos a Participação nos Lucros e Resultados de Profit, que visa o lucro. É uma experiência com programação de pontos que a pessoa tem que ter. Mas é um incentivo muito bom, o trabalhador fica motivado com o PLR, fica ansioso para receber.

 

Tu trabalhas no turno da noite, como é o tipo de demanda que chega até ti? 

A diferença que vejo para o turno da noite é quantidade de pessoas trabalhando, mas a demanda que chega para mim é a mesma, pois hoje em dia com as redes sociais ficamos ligados 24 horas, via whatsapp. Então, chega bastante coisa e é quase instantâneo. Deu um problema, pessoal já liga manda a mensagem e quer a resposta em seguida.

 

 

 

Qual é a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores? 

Olha, o sindicato é muito importante na vida dos trabalhadores e eles tem que perceber que é a melhor ferramenta para proteger os trabalhadores.

 

Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência? 

Essas reformas, na verdade, só beneficiaram os empresários porque o trabalhador não foi beneficiado em nada. Só tiraram direitos e querem tirar ainda mais. O que aconteceu com a reforma trabalhista é muito próximo à escravidão, se tu for analisar, muitos direitos foram tirados. Direitos que foram conquistados ao longo dos anos e com muita luta, aí vem um governo de direita que visa só os empresários e retira todos os direitos. E na hora de se aposentar, de pegar um benefício da assistência social, o trabalhador vai sentir.

 

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso? 

Acho que o perfil do trabalhador nas empresas mudou. Hoje tem muitos jovens nas empresas, eles estão estudando e procurando se especializar em áreas técnicas e temos que procurar conversar, dialogar, fazer o jovem acreditar que ele tem que se envolver com o meio sindical, até para não perder direitos. De que adianta se profissionalizar, fazer um curso técnico ou até mesmo uma faculdade, se cada vez mais o salário diminui? Hoje dificilmente uma empresa grande pega um trabalhador se não tem, ao menos, o ensino médio. Antigamente não, meu pai foi metalúrgico muitos anos e tinha só a terceira série. Hoje isso não acontece. Então, temos que trazer esse pessoal para a conversa, para o diálogo, mostrar o sindicato no dia a dia.

 

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período? 

Para mim, é derrubar o governo de direita e implementar o de esquerda, porque se nós continuarmos com um governo de direita, a tendência da gente continuar perdendo direitos é muito maior. No caso, temos que botar alguém de esquerda.

 

E da indústria? Como gerar empregos? 

Com incentivo do governo. Pois o emprego com diminuição de salário e retirada de direitos não é geração de empregos. Para gerar empregos tem que trazer empresas para cá, investir nas médios e pequenas empresas que muitas vezes geram mais empregos do que as grandes. Produzir material para as grandes empresas dentro do próprio município, procurar incentivos, mostrar o que o local aqui pode agregar. É complicado gerar emprego pois tem muita empresa hoje está usando a indústria 4.0, que é robotizar tudo.

 

 

Como atrair mais sócios para o sindicato? 

Muita gente procura o Sindicato por causa dos benefícios que tem na sua estrutura e temos que fazer o convencimento de que não é só isso, quando fazemos a convenção coletiva são mais de 50 cláusulas que negociamos e muitas vezes essa informação não chega no trabalhador. Muitas vezes, o trabalhador acha que “ah vou lá para o Sindicato porque tem a quadra, tem a piscina, tem a casa na praia” e o Sindicato não é só isso. É a luta do dia a dia, às vezes a pessoas não percebem, mas se não se associarem, não fortalece a luta e não é fácil lutar por um auxílio estudante, pelo reajuste para aumentar o salário. É difícil chegar na patronal e fazer a luta quando o trabalhador não está se importando para o Sindicato.

 

Gostaria de acrescentar algo? 

Diria para os trabalhadores que estão dentro das empresas que venham conhecer o Sindicato, que leiam a Marreta, entrem nas redes sociais do Sindicato pois tem muita informação importante que pode beneficiar, às vezes, não a ti, mas um filho, um esposo, outro colega que precisa de determinada informação.

 

Fonte: STIMMMESL

Imagens: Israel Bento Gonçalves

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