“A política anda junto com a gente”, defende o diretor do STIMMMESL, Nelson Lima Rodrigues
O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL), Nelson Lima Rodrigues tem 47 anos e se define como um militante. Trabalhador da Gedore, ele já foi integrou Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e comissões de negociação de PLR, concorreu a vereador e faz parte da Associação de Moradores do Bairro Pasqualini, onde realiza trabalho social na praça Três Figueiras, em Sapucaia do Sul.
Para ele, essa trajetória se deve por acreditar que “a política anda junto com a gente. A política é o debate saudável, a discussão”, defende. Dirigente sindical desde 2002, Nelson fala nesta entrevista de sexta-feira (11) sobre os desafios que marcaram a última gestão do STIMMMESL, como a pandemia e as reformas que retiram direitos, os desafios do movimento sindical e as principais tarefas do próximo período.
Confira a íntegra da entrevista:
Conte um pouco da sua história? Como entrou no movimento sindical?
É uma satisfação poder contar um pouco dessa história que não é tão pequena, já que entrei no movimento sindical há alguns anos. Estou no sexto mandato como dirigente e neste período também fui cipeiro e participei por muito tempo de comissão de negociação de PLR. A minha entrada no movimento sindical foi num momento em que a empresa onde trabalho, que entrei em 1996, estava com dificuldade em relação aos nossos representantes, havia uma deficiência de dirigentes lá dentro e comecei a me destacar com o trabalho na CIPA, construí uma certa credibilidade diante dos trabalhadores e a partir daquele momento, começaram me olhar no sentido que eu precisava dar um passo adiante. Ou seja, aquilo que tinha feito dentro da empresa, como cipeiro e integrante de comissões tinha me dado condições de participar do Sindicato, e na sequência veio o convite dos companheiros para entrar na chapa. A partir daí comecei a participar como representante dos trabalhadores, na época começamos um trabalho, eu e outro companheiro, o Dirlei e construímos um trabalho onde estamos até hoje. Esse trabalho foi ampliando e hoje tem outros dirigentes lá dentro da fábrica também. Neste período, uns 10 anos eu fiquei na comissão de PLR, conduzido pelos trabalhadores e mandato de CIPA tive uns três ou quatro, apresentamos bastante propostas, melhoramos o ambiente de trabalho. Acredito que exerci muito bem as minhas funções.
Você já foi dirigente liberado e agora está dentro da fábrica. Como são as peculiaridades dessas experiências?
Minha experiência foi como sair da piscina e entrar no mar. Quando tu estás dentro da fábrica, estás dentro da piscina, tu enxerga as bordas dela e quando passa a ser liberado, tu não enxerga o horizonte, pois tem que atender a toda a categoria e é uma experiência muito boa. Fui liberado por dois momentos, em 2012 por um período para substituir um companheiro que estava licenciado, e após, em 2013 vim cumprir o mandato até 2018. Foi um aprendizado imenso, tu sai da fábrica, vem para cá, conhece o conjunto da categoria que é muito grande, abrangemos sete municípios, de Esteio a Morro Reuter, então tive a oportunidade de conhecer muitas empresas, encontrar muitos companheiros, foi muito importante. E o retorno para a fábrica também porque tu agregas conhecimento e quando volta, devolve para os trabalhadores da fábrica o que tu construíste quando estava fora. A pessoa volta mais preparada, enfrenta com mais facilidade os problemas que acontecem e executa trabalhos mais importantes que talvez tu não estivesses preparado se não tivesse sido liberado.
Você também já concorreu a vereador. Como a experiência como sindicalista pode ajudar na vida política?
Ajudou muito. A política vive no nosso dia a dia, a política anda junto com a gente, a política é o debate saudável, a discussão. Concorri a primeira vez em 2012, pelo PCdoB, em 2016 e 2020, pelo PT e foi muito importante essa experiência. Pois ter representantes dos trabalhadores é muito importante, olhar para eles no momento que as coisas estão acontecendo. Não fui eleito, mas fui sempre tive candidaturas bem aceitas, atualmente sou 3º suplente do partido em Sapucaia e a experiência ajudou muito no sentido de conversar e ouvir os trabalhadores, as propostas que apresentei foram voltadas para o trabalho e foram construídas no conjunto dos trabalhadores. A última eleição, concorri praticamente dentro da fábrica, me licenciei 15 dias antes da votação. Aprendi muito, pois não aprendemos só com a vitória, mas com a derrota também. E fiquei muito feliz pela oportunidade de concorrer que o partido em deu, por todos que me apoiaram e por ter toda essa bagagem do movimento sindical.
A atual direção está no final do mandato, como foram esses anos para ti?
A nossa direção fez o possível e o impossível diante da conjuntura que enfrentamos com pandemia e reformas que retiraram direitos, conseguimos ter bons acordos coletivos, enfrentar todas as questões. Na pandemia fizemos diversos acordos com as empresas para garantir empregos e para que os trabalhadores não fossem prejudicados, fiscalizamos também os protocolos de segurança no início da pandemia, quando ninguém sabia o que aconteceria. Acho que o Sindicato foi muito bem neste mandato, enfrentou os problemas, observamos na categoria que os trabalhadores estão contentes com o trabalho que o Sindicato tem feito. Acho que sempre tem alguma coisa que pode melhorar, mas a gente está de parabéns pela disposição que temos de seguir o melhor caminho na defesa dos direitos da nossa categoria.
Qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores?
É muito importante. Tu imaginas os trabalhadores sem sindicatos, teria que negociar todo e qualquer tipo de acordo direto com o patrão e com a empresa, a vida ficaria muito difícil. Como estamos no dia a dia dentro da fábrica, a gente sente a importância que é o Sindicato, pois qualquer tipo de coisa que acontece com o trabalhador, ele vem procurar a gente, são 24 horas recebendo mensagens, ligações ou até mesmo pessoalmente com perguntas sobre a realidade do trabalhador. O dirigente sindical acaba sendo um pouco de cada coisa, pois o que acontece com um trabalhador, ele vem relatar para um sindicalista, que é a pessoa que ele acaba tendo uma confiança. O Sindicato é um suporte muito importante na vida dos trabalhadores e deve cada vez mais ser fortalecido como uma ferramenta de luta. Tem muitas coisas que temos hoje, benefícios, auxílios, acordos que se não fossem os sindicatos, não teríamos.
Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência?
Com certeza os ataques foram muito violentos e um atrás do outro, por exemplo se tu pegar a reforma trabalhista e da previdência, foi uma paulada só, ambas trouxeram prejuízos para os trabalhadores. Tu vê a precariedade que estão os direitos trabalhistas com essa reforma e pegou em cheio os sindicatos que não conseguem atuar por conta da lei. E a reforma da previdência não foi diferente, a gente vê hoje, o berreiro dos trabalhadores que estavam com um pé para encaminhar a aposentadoria e agora terão que trabalhar mais alguns anos e não sabem se conseguem aposentaria integral. E os argumentos que eles falavam, que era para gerar emprego foi bem pelo contrário, só prejudicou. E o discurso que a previdência tinha déficit não se sustentou, hoje vimos que não era verdade. O teto de gastos também, vemos a educação e outras áreas sofrendo por conta da falta de investimentos. Observamos hoje um retrocesso, essas reformas nos jogaram para trás. Então são coisas que, cada vez mais, torna o estado mínimo e tem que fazer o oposto, abrir o estado para a roda da economia girar.
O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso?
A gente não pode perder de vista o trabalhador. Tems que voltar as bases, recuperar o trabalhador, dialogar, acho que esse ano de eleição é um ano muito importante. Nós da esquerda, do movimento sindical, social, de um modo geral, temos que voltar as bases, as portas de fábricas e conquistar os trabalhadores novamente porque tem coisas que eles ainda não compreenderam e tem coisas que estão na lei, o Sindicato não consegue passar por cima, tem coisas que permanece o negociado sobre o legislado, mas não é tudo assim, tem coisas que esbarramos na lei, cito como exemplo a insalubridade. Precisamos voltar a dialogar com os trabalhadores, sabemos que tem a pandemia, é difícil fazer assembleias, mas aos poucos temos que ir voltando. Temos que achar alguma maneira, através das plataformas e redes sociais, mas também temos que chamar os trabalhadores para eles voltarem com mais força para o Sindicato e a partir daí retoma o comando desse país, porque só assim vamos conseguir retomar os direitos dos trabalhadores para que as pessoas possa viver melhor. Vemos as dificuldades, a falta de empregos, de alimentos, é uma precariedade imensa, temos um governo que é um parasita, um negacionista, não tem ação e iniciativa. Acho que esse ano é muito importante para a classe trabalhadora para voltarmos a ser feliz e o movimento social e sindical tem um papel importante que é conversar com os trabalhadores. Isso é possível e vamos fazer.
Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período?
Acho que é eleger o nosso projeto, que é o projeto da esquerda, esse é o principal desafio do movimento sindical. A partir disso é conduzir nossas bandeiras, nossas propostas para retomar o conjunto dos trabalhadores e mostrar que nós estávamos certos. A apesar de que lá atrás já termos conversado com os trabalhadores, eles pagaram para ver e a conta é essa que estamos pagando com o preço da gasolina, do gás, da alimentação, uma série de coisas. Agora é a hora de dizermos “erramos uma vez, mas não vamos repetir o erro”. Vamos ser protagonistas desse projeto e trazer os trabalhadores para a luta, acho que esse é o principal desafio e não é tão simples assim. Eleição é eleição e o que está na mesa hoje é o nosso projeto de governo e não passa apenas pelo governo, mas por um conjunto de deputados federais e estaduais, se não, daqui a pouco elegeremos um governador um presidente que ficarão isolados e isso não pode acontecer. Tem que eleger com condições de governar de botar o nosso projeto e o trem nos trilhos. E a partir disso, com o Sindicato protagonista voltar a fazer o seu papel que é ser um Sindicato que representa todos da nossa categoria e também os terceirizados que prestam serviços nas empresas onde estamos. Acho que esse é o papel principal do sindicato neste período.
E da indústria? Como gerar empregos?
Seria importante a gente produzir produtos que trazemos de fora, internamente. Tem muita coisa importada, da Índia, da China que podemos fazer aqui. Então esse também é um papel nosso, a partir da retomada do governo de investir no nosso país, aquelas peças que são possíveis fazer aqui, incentivar as empresas a investir no nosso país e no nosso estado para que a gente consiga retoma esses produtos, ter um mercado interno mais aquecido. Acho que esse é um papel importante da indústria e cabe a nós, também, incentivar e dar caminhos para que isso aconteça através dos representantes que a gente vai escolher.
Como atrair mais sócios para o sindicato?
A partir do nosso trabalho dentro das empresas e com o conjunto da direção, mostrar para o trabalhador que o Sindicato não é só o acordo coletivo, as vezes, o trabalhador fala muito nas piscinas, no dissídio, mas o Sindicato é um conjunto de ações. Tem um conjunto de coisas que o trabalhador não conhece, a gente tenta mostrar, ele vê, mas não enxerga, porque pergunta, por mais informações que a gente coloque no boletim, no site, ainda não é o suficiente e deve ser um trabalho permanente. Talvez devêssemos retoma os torneios que fazíamos, para associar e fortalecer o Sindicato, tínhamos também cursos de computador, de dança… Passando a pandemia, podemos pensar em projetos desses tipos, com cursos e um leque de coisas que podemos oferecer. Penso que é por aí o caminho.
Gostaria de acrescentar alguma coisa?
Agradecer a oportunidade de fazer essa entrevista. Espero ter contribuído com alguma coisa para refletirmos juntos sobre o que pode ser bom para o conjunto da classe trabalhadora e para termos um mundo melhor. Não só no sentido de governo de país, de estado, de município, mas também de qualidade de vida e saúde pública, pois a pandemia tem nos causado preocupações.
Fonte: STIMMMESL
Imagens: Israel Bento Gonçalves