“A consciência de classe tem que ser construída”, afirma o diretor do STIMMMESL, Lucas Cantos

Lucas Cantos tem 40 anos, é casado, pai de um casal de filhos, morador de São Leopoldo e metalúrgico da Taurus desde 2006. Atualmente está no segundo mandato como diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL) e defende que “a consciência de classe tem que ser construída, todo dia”.

Filho de uma mãe solteira e o mais velho de quatro irmãos, ele conta nesta entrevista de sexta-feira (18) como entrou no movimento sindical, os desafios de ser sindicalista, a realidade de trabalhar no turno da noite de uma das maiores empresas da região e aborda a importância das entidades sindicais. “Sem o Sindicato o trabalhador não consegue dialogar com o patrão”, garante.

Confira a íntegra da entrevista:  

Conte um pouco da sua história. Como entrou no movimento sindical? 

Sou filho de mãe solteira, o mais velho de quatro irmãos, dois casais e desde pequeno tive contato com os movimentos sociais. Quando criança ficava em creche comunitária, lar para menores que os pais não tinham condições, ficava em período integral lá e voltávamos para casa a tarde. Após o nascimento da minha outra irmã, virei i irmão pai, já era maior, tinha 11 anos, minha mãe trabalhava fora e eu cuidava da casa e das crianças, pois era necessário. E entrei no movimento sindical, em 2014, quando a empresa nos passou que iria fechar a forjaria na Taurus, comunicaram que os que não conseguissem se realocar em outra área poderiam procurar emprego. Como eu já estava casado desde 2009, com uma filha pequena, recém tinha adquirido a casa própria, segundo grau completo e um curso técnico, ganhava um salário razoavelmente bom na época e não tive escolha, encontrei o falecido Jorge (ex-presidente do Sindicato), que me perguntou como estavam as minhas promoções na Taurus, eu disse que não havia mais perspectiva e ele disse que tinha um convite para me fazer. O Jorge e o companheiro Décio, que também era da direção, foram na minha casa, conversaram com a minha família, explicaram bem como funcionava o Sindicato, então entrei na gestão de 2015 e agora estou no final do segundo mandato.

Você está no seu segundo mandato, como está sendo essa experiência pra ti? 

Costumo dizer que estou diretor sindical, porque antes de estar dirigente eu sou filho, esposo, pai e trabalhador. E tem sido conflitante porque muitas vezes a informação é muito vertical, tanto no profissional como a parte ativa no sindical, é de cima para baixo e pronto. Há pouco diálogo, isso é conflitante porque você tem ideias para melhorias… Mas é uma ótima experiência de estar defendendo os colegas de trabalho, a classe trabalhadora de fazer algo diferente. O dialogo é muito importante neste meio.

Você trabalha no turno da noite, como é o tipo de demanda que chega até ti? 

Muitas vezes as demandas são as mesmas do dia. O que é diferente é que o grupo é mais reduzido então temos espaço para o diálogo, tanto com os trabalhadores como com a chefia da empresa, os gestores e através do dialogo conseguimos sanar o problema antes que eles inflamem. Só quando não dá mais mesmo, trazemos para o conjunto da direção. Mas o que dá para fazer lá dentro, a gente faz.

Você acha que falta consciência de classe para os trabalhadores?  

Sim, falta bastante. Mas a consciência de classe tem que ser construída e é uma construção contínua, de todo dia.

Na tua opinião, qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores? 

Os sindicatos são muito importantes porque são mecanismos de defesa, de conquistas e principalmente de lutas. Sem o Sindicato o trabalhador não consegue dialogar com o patrão. É difícil, por exemplo, o trabalhador ir na sala de um chefe e pedir um aumento. Existe muita barreira que o impedem.

Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência? 

Pouco antes, o movimento sindical passava por uma turbulência, uma crise com cada um puxando para o seu assado, questões de correntes e siglas, o que dificultou muito para o trabalhador e causou muita confusão na cabeça do povo. Porque em 2016, quando teve o golpe, se a classe trabalhadora estivesse conosco acho que conseguiríamos barrar, porque estava praticamente meio a meio. Íamos para a Esquina Democrática e víamos 35, 40 mil pessoas, mas parecia que era pouca gente, fazíamos uma greve geral e metade entrava para trabalhar. Acho que primeiramente temos que colocar os pés no chão, ver onde erramos para ali na frente conseguir o nosso lugar ao sol de novo.

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso? 

Para reverter isso, acho que só com diálogo.

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período? 

Conquistar os jovens. Até porque com essas reformas, os mais afetados foram os jovens, quem vai começar a trabalhar agora não tem perspectiva de se aposentar, vão morrer trabalhando.

E da indústria? Como gerar empregos? 

Deixando de fazer a rotatividade, elaborando planos de carreiras e investindo nas pequenas empresas, ao invés de importar produtos, investir no produto local, interno.

Como atrair mais sócios para o sindicato? 

Precisamos estudar, não ter uma ação vertical, ter a mente mais aberta para os jovens e eles precisam ter espaço dentro de Sindicato, seja na área de lazer, parte de cultura, atividades de jogos, puxar os movimentos sociais juvenis, grêmios de escola, pois eles são os futuros trabalhadores e com eles entrando na indústria já com uma mente melhor vão saber o que é o Sindicato. Pois muitos dos jovens que associamos hoje já tem uma referência, lembram que vinham aqui com os pais, jogar bola, nas piscinas, recordam que o pai não foi demitido porque o Sindicato conseguiu segurar…

Fonte: STIMMMESL

Imagens: Israel Bento Gonçalves

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