“O papel fundamental de um sindicato é a luta por uma sociedade mais justa e democrática”, afirma o diretor do STIMMMESL, Jaques Soares da Silva
O metalúrgico Jaques Soares da Silva tem 37 anos, trabalha há 17 na Stihl e está iniciando seu mandato como diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL). “O pouco que já conheci com os integrantes da diretoria, percebi uma vasta experiência dos mais antigos, também fui bem acolhido por todos e vejo que esse grupo é muito forte. Pois a união de uma equipe é o que comanda o sucesso dos seus feitos. Essa é a minha expectativa”, acredita ele.
Casado, pai de um menino de 8 anos e morador de São Leopoldo, Jaques conta na entrevista desta sexta-feira (15) porque optou por entrar no movimento sindical, fala sobre suas percepções referente ao sindicalismo e como fortalecer a luta em defesa dos trabalhadores. “O papel fundamental de um sindicato é a luta por uma sociedade mais justa e democrática”, afirma.
Confira a íntegra da entrevista:
Conte um pouco da sua história. Como se interessou pelo movimento sindical?
Sou Jaques, tenho 37 anos, sou casado, tenho um filho de 8 anos chamado Arthur Jaques, que é um grande rapaz. Trabalho na área metal mecânica há quase 20 anos. Trabalhei na Taurus e estou na Stihl há 17 anos. Tenho formação profissionalizante em mecânica industrial, ferramentaria e manutenção pelo SENAI, sou técnico mecânico formado pela Fundação Liberato, também fiz graduação em Gestão de Produção Industrial e estou concluindo Engenharia de Produção. Desde criança frequento o Sindicato, pois meu pai foi metalúrgico e sócio da entidade no passado. Na época, meu pai tinha um conjunto musical gaúcho e realizava bailes no Bigornão. Então, nessa época já frequentava a sede e também moro aqui perto. Bom, trabalhei mais de 10 anos com o Júlio Cesar da Silva, o Julião, que era diretor sindical e é um grande amigo que fiz neste ramo metalúrgico. Então, através do Julião conheci o Ademir, o Valdemir, pois ele vinha para cá e me convidava, acabei criando amizade com a direção. Tínhamos um jogo de futsal semanal no Bigornão com o pessoal da diretoria do Sindicato. Também estudei e tinha amizade com o Genilso, na infância. Então, comecei a ter uma relação com o pessoal, antes mesmo de ser convidado a participar da diretoria. Por fim, a diretoria com o Valmir, Valdemir e Alexandre me convidaram para compor a chapa 1 e eu queria fazer alguma coisa nova. E estou gostando, aprendendo, vendo coisas novas. Optei por entrar no movimento sindical por motivos pessoais mesmo e estou bem faceiro, nem tudo são flores, mas estou gostando, o pessoal é bem unido.
Você está iniciando seu primeiro mandato, qual a expectativa?
O intuito de participar da diretoria sempre foi de incrementar ao grupo e aprender algo novo para minha vida pessoal, através da troca de experiências, tendo como objetivo a luta pelos direitos da classe trabalhadora. Eu sempre fui de querer resolver o problema dos outros, então acho que tenho um bom perfil, não gosto de injustiça. O pouco que já conheci com os integrantes da diretoria, percebi uma vasta experiência dos mais antigos, também fui bem acolhido por todos e vejo que esse grupo é muito forte. Pois a união de uma equipe é o que comanda o sucesso dos seus feitos. Essa é a minha expectativa.
O que você diria para um trabalhador entrar para o movimento sindical?
Diria que o movimento sindical é muito importante na vida do trabalhador, pois tem por finalidade a sua representatividade na luta por seus direitos básicos. O trabalhador tem direitos que não estão na CLT. Isso é incrível, o trabalhador acha que tudo é lei, eu também achava… Mas muitos direitos são garantidos pelos acordos coletivos que são elaborados pelos sindicatos de sua categoria, que visam minimizar as perdas contratuais, laborais e sociais entre capital e trabalho. Depois que entrei no Sindicato, lá na Stihl, o pessoal já mudou um pouco, como vê o Sindicato.
Você acha que falta consciência de classe para os trabalhadores?
Conversando com o pessoal sobre o auxílio por tempo de trabalho, por exemplo, acham que é um direito que eles não perdem e eu explico para eles. Então acredito que sim, pois a maioria dos trabalhadores não tem a percepção do próprio papel no sistema produtivo, devido a falta de informação, pois existem os dois lados, a empresarial que visa o capitalismo e o outro que é a mão de obra, ou seja, o trabalhador. A classe operária precisa se unir e fortalecer quem visa e defende seus direitos e interesses.
Na tua opinião, qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores?
Eu estou vendo agora como é importante, pela experiência que tenho, pelos membros do Sindicato e pelo medo que as pessoas tem de perder o trabalho, o emprego. Tenho dificuldade em associar na Stihl porque o pessoal acha que a empresa vai ser contra. E o principal objetivo de uma organização sindical é a representatividade dos direitos e interesses dos trabalhadores. Pois sem o Sindicato haveria muita exploração e injustiças na classe trabalhadora. Os empresários precisam muito dos trabalhadores, pois sem eles não haveria empresas e nem capital. A união dos trabalhadores ocasiona desespero por parte dos empresários, pois união é sinônimo de força para lutar e avançar nos acordos coletivos, visando os direitos dos trabalhadores. O papel fundamental de um sindicato é a luta por uma sociedade mais justa e democrática.
Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência?
A minha mãe é jovem, tem 54 anos e sempre trabalhou de carteira assinada e ela não conseguiu se aposentar por causa de três meses. Fui com ela no advogado e por conta de três meses ela terá que pagar pedágio e trabalhar até os 58 anos. Eu me apavoro com isso. E essas reformas foram totalmente inviáveis para os trabalhadores, não gerou melhorias para a população, aumentos os custos e percentuais de repasse para o INSS, teve como um dos objetivos afastar o trabalhador dos sindicatos. Prejudicou muitas pessoas que estavam próximas de se aposentar, tendo que pagar pedágios e com um tempo maior de espera para receber o benefício. O que realmente precisa ser feito é uma reforma política, na minha opinião, e otimizar a contribuição de imposto de renda, pois quem recebe pouco não deveria pegar esse imposto. O governo alega que esses programas estão prejudicando a saúde econômica do país, mas na verdade, é a má administração do dinheiro público, que é gerado através de impostos e muito suor da classe trabalhadora. Esse golpe foi uma sacanagem para beneficiar os empresários.
O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso?
O principal ponto para reverter o movimento sindical desacreditado é através de um trabalho sério e com comprometimento, não visando interesses próprios. Pois uma entidade sindical para fortalecer sua categoria precisa ter credibilidade com os trabalhadores. Acredito que temos que agir e fazer muito mais, pois um exemplo vale muito mais que mil palavras. Vejo que com pessoas sérias e comprometidas os trabalhadores terão mais confiança e respeito pelo trabalho que o Sindicato realiza pelo trabalhador. Também acredito que o Sindicato precisa fortalecer sua base visando um próprio mandato, porque através dos mais jovens a luta continuará.
Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período?
Vejo que o principal desafio é eleger um governo que luta pela classe trabalhadora, pois através da atual política estamos perdendo direitos. Existe uma grande desigualdade social na população, no entanto, isso deve ser minimizado. A inflação está muito alta, as pessoas com menor poder aquisitivo estão enfrentando muitas dificuldades financeiras, os combustíveis estão muito alto. O leite e a carne estão se tornando artigos de luxo. Então, precisamos mudar, parar com essa retirada de direitos dos trabalhadores e gerar uma administração pública mais eficaz, parar de justificar que os problemas são a previdência social e as leis trabalhistas, por causa de corrupções e má administração do nosso país.
E da indústria? Como gerar empregos?
Acredito que o principal ponto seria a prática de políticas industriais, visando polos ou distritos para a indústria, onde empresas forneceriam componentes uma para outras, em vez de trazer de outras cidades ou até mesmo por importação. Precisamos fortalecer e aumentar o nosso PIB gerando matéria prima para as indústrias, incentivar mais as multinacionais para o país trazendo novos recursos e novos empregos. Através de um aumento do PIB, por consequência, haverá um aumento de taxa de crescimento econômico, ampliando assim o investimento e o consumo. Controlar a inflação e reduzir as taxas de juros também é importante, com isso haverá mais procura por produtos e serviço e por consequência uma maior necessidade de mão de obra.
Como atrair mais sócios para o sindicato?
Um ponto que vejo aqui como fundamental e parece que o pessoal se ilude um pouco com as empresas grandes, penso que temos que mapear as pequenas. Então, para mim, a forma para atrair mais sócios seria através da inovação, com novas ideias e mais juventude. Otimizando nossa sede através de melhorias e principalmente através de um mapeamento nas pequenas empresas, onde mais necessitam do sindicato para apoiar os trabalhadores nas dificuldades e nos atos de injúria, pois sempre vale a pena lutar por justiça e dignidade. Então acho que ações nas fábricas pequenas vai contribuir muito e com renovação também, trazendo os jovens.
Gostaria de acrescentar alguma coisa?
Vejo que o trabalhador, na verdade, não tem consciência do que é a importância de uma entidade sindical. O Sindicato tem uma força que as empresas, querendo ou não, tem respeito pela entidade. O Sindicato não é inimigo das empresas, pode pensar de forma oposta, mas é a favor das empresas, do emprego, só que existe para trabalhar combatendo as injustiças e garantindo os direitos. E os trabalhadores tem que apoiar os sindicatos porque sem eles as coisas não seriam como são, seriam bem piores.
Fonte: STIMMMESL
Imagens: Israel Bento Gonçalves