“A gente como dirigente é apenas a ponta do iceberg”, afirma o diretor do STIMMMESL, Tiago Pietroski Castro
O metalúrgico Tiago Pietroski Castro trabalha na Gerdau há 15 anos. É pai de três filhos, natural de Francisco Beltrão no Paraná, veio ainda criança para o Rio Grande do Sul e atualmente, vive em Nova Santa Rita. Aos 34 anos está iniciando o primeiro mandato como diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL). “Tem o tempo de maturação mesmo, a ideia foi maturando, maturando e se deu a oportunidade agora”, disse ele sobre ter recebido o primeiro convite para integrar a direção em 2015.
Nesta entrevista de sexta-feira (19), Tiago fala sobre suas expectativas para o mandato, a importância do movimento sindical para os trabalhadores e os ataques à classe trabalhadora, entre outros assuntos. “Imagina se não existisse sindicato, independente da categoria em si, os patrões, as empresas fariam um massacre, a gente estaria a merce deles o tempo todo”, acredita.
Confira a íntegra da entrevista:
Conte um pouco da sua história. Como se interessou pelo movimento sindical?
Comecei a trabalhar cedo, desde muito novo. Com 13 anos já trabalhava dentro de empresa e fui crescendo, ganhando responsabilidade, assumindo novos desafios… Quando entrei para o ramo da siderurgia, vi a diferença na categoria, o pessoal se mobilizava de outra maneira, era diferente do outro ramo que trabalhava, onde não tinha isso. E desde então sempre fui apoiando, sempre fui sócio, mas nunca havia me envolvido assim diretamente com o Sindicato, mas tinha muitos amigos aqui, que são dirigentes, um deles é o Braga que é meu amigo e a gente sempre conversou, ele já havia me convidado outras vezes para entrar na direção, mas acho que chega um momento que desperta um interesse maior e se é para eu entrar em algo, em alguma coisa e não contribuir, prefiro não entrar. Por isso que acho que tem o tempo de maturação mesmo, a ideia foi maturando, maturando e se deu a oportunidade agora.
Você está iniciando seu primeiro mandato, qual a expectativa?
A expectativa é buscar bastante conhecimento, é uma área que e nova para mim. Como falei atuava muito nos bastidores, apoiava, mas quando tu está na prática mesmo é diferente. Então a ideia é buscar conhecimento com os mais velhos, conversar com os mais novos e buscar construir algo para a categoria, de modo geral, algo positivo.
O que você diria para um trabalhador entrar para o movimento sindical?
Bom, é o que costumo dizer lá na empresa que você está dentro de um movimento onde tudo é possível de acontecer, desde que você esteja mobilizado e unido porque sem a união dos trabalhadores nada vai ter um sentido. A gente como dirigente é apenas a ponta do iceberg, tem os trabalhadores, existe uma categoria atrás de nós, então a gente é só o início e sem eles, sem a mobilização e união de todo mundo não adianta nada.
Você acha que falta consciência de classe para os trabalhadores?
Acho que falta sim, um pouco de consciência. Eu vejo por mim até, quando entrei no ramo metalúrgico era completamente diferente, os mais novos não se importam com a luta dos mas antigos. Não sei se “importar” é a palavra mais apropriada, mas não eles não tem a consciência da grandeza dessa luta. A gente vê o pessoal fazendo mobilização, mas onde eu me encaixo nisso? E com o tempo você vai vendo a importância gigantesca disso, uma história que vem de longa data.
Na tua opinião, qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores?
Vejo hoje que o sindicato é representação. A maior importância do Sindicato é a sua representatividade dos trabalhadores. Porque você imagina se não existisse sindicato, independente da categoria em si, os patrões, as empresas fariam um massacre, a gente estaria a merce deles o tempo todo.
Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência?
Isso daí, sem dúvida, trouxe o maior prejuízo para a população de modo geral porque a grosso modo uma reforma, uma mudança é bem vinda. Na nossa vida a gente faz reformas e mudanças, mas a gente pensa no que? Vamos reformar e mudar para buscar algo melhor, não adianta tu reformar algo para piorar. Esses ataques e acho ótimo essa palavra, porque é um ataque mesmo… Pessoas que já estavam para se aposentar e meu pai é um exemplo disso, uma pessoa com 58 anos terá que pagar pedágio para se aposentar mesmo já tendo tempo na carteira, e esse é um exemplo apenas. É muito fácil eles sentarem, fazerem uma votação e alterar a vida de quem realmente gera a riqueza de um país como o nosso. E o povo brasileiro, sem dúvida alguma, é um dos mais trabalhadores e guerreiros do mundo, então tinha que ser tratado como tal e não simplesmente pegar uma dúzia de políticos, se reunir, achar que aquilo é melhor e deu… O povo brasileiro não quer nada de graça, vejo muito isso, o trabalhador não quer nada de graça, mas quer um trabalho digno, qualidade de vida, que seus impostos sejam aplicados de forma igualitária, para todo mundo. Diferente de um grupo de políticos que só pensam em benefício próprio e a gente paga por isso.
O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso?
Acho que o nosso Sindicato, particularmente, tem bastante prestígio na categoria, escuto falarem muito bem do Sindicato na empresa onde trabalho, muito por já conhecerem os dirigentes. Mas, olhando como um todo, olhando para todos os Sindicatos, acho sim que tem oportunidade de melhoria, principalmente de formação. O pessoal mais novo não entende muito bem o que é CLT, Convenção Coletiva e acho que trazer esse tipo de informação para as fábricas, não só as grandes, mas as pequenas também, mostrar a realidade, pode ser um meio de trazer a consciência das pessoas, da importância de ter alguém te representando.
Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período?
Acho que é a constância de estudos, sabe. A gente continuar estudando, trocando experiências, olhar o que está sendo feito em outros lugares do mundo, trazer para a realidade do trabalhador e ver onde dá para se enquadrar. Buscar sempre conhecimento, pois se você tem conhecimento e aplica ele da forma correta, bons frutos você vai colher.
E da indústria? Como gerar empregos?
Acho que seria a história das reformas, uma reforma política e tributária seria fundamental, para começar. E olhando os grandes polos, trazer uma cadeia de produção mais próxima, estruturada, onde logística seja integrada com produção geraria mais emprego, acredito que abriria mais portas.
Como atrair mais sócios para o sindicato?
Levar a nossa luta, mostrar a nossa história, principalmente para as gerações novas. Levar para eles a importância das conquistas que foram feitas no passado, as grandes lutas. Mostrar sempre o que é Convenção Coletiva, CLT, o que está ali dentro para as pessoas terem um norte, saberem da importância de ter uma entidade que te representa, porque hoje muitos, que você conversa pensa que são os dirigentes que estão lá, não é assim. Somos só a ponta do iceberg, como falei antes, há toda a categoria por trás e se a gente não estiver unido, mobilizado, todos juntos para conseguirmos novas façanhas, vai ser mais fácil manter o que já tem.
Fonte: STIMMMESL
Imagens: Israel Bento Gonçalves (STIMMMESL)