“Quem é sindicalista tem que pensar na luta da entidade e não em si”, diz o ex-diretor do STIMMMESL, José Luis Chiaramonte

Aposentado, o ex-metalúrgico da Gedore, José Luis Chiaramonte tem 57 anos e de 2006 até 2017 foi dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL). “Fiquei quatro mandatos no Sindicato, três na ativa e um já como aposentado”, conta ele que enfatiza que “quem é sindicalista tem que pensar na luta da entidade e não em si.”

Morador de São Leopoldo, José é casado e pai de três filhos (uma gestora ambiental, um preparador de goleiro e um metalúrgico). Nesta entrevista de sexta-feira (30), ele lembra da sua história, que iniciou como cipeiro na Gedore, aborda a conjuntura e os desafios do movimento sindical. “É uma trajetória, é uma vida que tu vais levando aqui dentro, às vezes tu deixas de estar com a tua família em casa, para estar no sindicato”, diz.

Confira a íntegra da entrevista:

 

Conte um pouco da sua história. Como se interessou pelo movimento sindical?

Eu comecei como cipeiro. Após quatro anos na Gedore, entrei para a Cipa e logo apareceram o Loricardo e o Gerson Frangão me convidando para entrar no Sindicato e conversei com eles, disse que não entendia nada de política, de sindicato e dessas coisas. Eles me disseram que não teria problema, pois faria cursos e formação e de fato, fiz vários cursos. Fiz formação na Escola Sul, fui em congressos em Porto Alegre, Paraná, Santa Catarina e daí tu vais pegando gosto pela coisa. Tem o João Marcelo, formador, foi um cara que ensinou muito, todos os cursos que ele deu, resultou em sindicalistas bons, com interesse em fazer alguma coisa. E fui indo, fiquei quatro mandatos no Sindicato, três na ativa e um já como aposentado. Entrei no Sindicato em 2006 e fiquei até 2017, me aposentei em 2014.

 

 

O que mais te marcou na tua experiência como dirigente sindical?

O que mais me marcou é tu fazer alguma coisa. No Sindicato a gente sempre tenta fazer alguma coisa para melhorar, mas não é com todos os trabalhadores que tu tem aceitação. Eu tive muita rejeição dentro da empresa, muitos colegas não conversavam mais comigo por medo porque eu era do Sindicato, mas com o passar do tempo consegui convencê-los e me tornei o sindicalista que era dentro da Gedore, uma liderança. Claro que numa firma grande sempre terá alguém que rejeita, mas a maioria te apoia e os que rejeitam em algum momento vão precisar de ti ou do Sindicato. E dentro do movimento sindical tu tens que ter paciência, tem dias que tu se estressa…

 

O que você diria para um trabalhador entrar para o movimento sindical?

Isso é complicado, o cara tem que gostar para ti convencer ele. Eu tenho vários exemplos, dentro da Gedore, trouxe o Palhano, o Pardal… Tu tens que conversar com as pessoas, não dar ilusões. Tem muito sindicalista que entra e logo sai porque dão ilusão, as pessoas entram achando que vão ganhar alguma coisa e não é assim. É uma trajetória, é uma vida que tu vais levando aqui dentro, às vezes tu deixas de estar com a tua família em casa, para estar no sindicato. Teve época que eu ficava 15 dias fora em eleições. E tu tens que ter a família do teu lado e gostar do que está fazendo, se não tu desiste.

 

Muitos diretores entram no movimento sindical após serem cipeiros ou negociadores de PLR. Qual a importância dessas ferramentas, tanto para os trabalhadores, como para os sindicatos?

A CIPA é a coisa mais importante para uma pessoa que quer entrar neste segmento de fazer algo pelo trabalhador. E a CIPA te dá mais estabilidade que um sindicato, pois se a empresa não quiser um sindicalista lá dentro, faz um acordo e tal ou te manda embora e tu vais tentar reverter na justiça. Já numa CIPA, é muito difícil sair. Agora uma coisa importante é que o cipeiro precisa conhecer a empresa.

 

Você acha que falta consciência de classe para os trabalhadores?

Falta. Mas o problema da consciência de classe que a gente aprende nos cursos é que os sindicatos não tem acesso dentro dessas escolas profissionalizantes. As pessoas que saem dali e vão para dentro da empresa, acham que são patrão. Então se torna ruim, é mais fácil tu pegar uma pessoa de idade e sindicalizar ele do que um guri, tem menos resistência. De 20 guris jovens, tu consegues um que tem a cabeça aberta, o resto é tudo com cabecinha de patrão, doutrinados. Pois hoje quem comanda essas escolas técnicas são os patrões.

 

Na tua opinião, qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores?

Tem trabalhador que não tem consciência e tem muito trabalhador que tem. E ele só vai ter consciência a partir do momento que precisa. Tive muitos colegas dentro da Gedore e falo dali porque vivi 19 anos dentro da empresa, e vi que eles não queriam se associar, falavam que nunca precisariam do Sindicato, aí trabalha 20 anos e leva um pé no traseiro e fica sem saber o que vai fazer da vida. Também vi um colega perder uma vista, ir para a rua e quando disse que ele tinha direito a um seguro que a empresa dava, ele só foi ter consciência quando viu acontecer com outro. Quando ele foi pra rua, veio com a esposa aqui no Sindicato perguntar o que poderíamos fazer e eu disse “a única coisa é encaminhar para o jurídico”, ela questionou, disse que o Sindicato não fazia nada e contei que quando fui associar ele, me disse que nunca precisaria do Sindicato. São coisas assim, que pra ti convencer os trabalhadores e mudar isso aí, só o dia que o Sindicato conseguir entrar e dar palestras, formações dentro dessas escolas técnicas.

 

Fale um pouco da sua vida agora e como a experiência no STIMMMESL pode ter te ajudado?

O que levei para mim é o que aprendi e aprendi bastante. Hoje, eu não tenho vergonha de falar sobre qualquer assunto, de debater um cenário político, por exemplo. Não vou dizer que sei tudo, mas tudo que aprendi foi aqui, entrei no Sindicato e não sabia nada, meu quadro escolar é segundo ano do segundo grau. E sempre tentei participar de tudo, cursos, palestras, seminários… E sobre a minha vida, me aposentei e dei espaço para outros. Temos que trazer gente jovem para dentro do Sindicato, ter novas cabeça, juventude, não digo que os mais velhos tem de sair de uma hora para outra, mas temos que abrir espaços. E o que aprendi e levei para dentro da minha casa, minha vida, foi a vivência que tive aqui, as coisas boas, porque as coisas ruins a gente tem que deixar para trás.

 

 

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso?

Olha, acho que vamos conseguir reverter se não fazer outro erro agora com a mudança do cenário político. Mas não podemos pecar como já pecamos, quando tínhamos tudo na mão para melhorar o sindicalismo, não fizemos, nós nos acomodamos. Isso não pode acontecer. Perdemos a aposentadoria especial, por exemplo, por comodismo. Eu me lembro uma vez que o Lula veio a Porto Alegre, disse que no governo dele todo mundo ia ganhar, mas teria que sair de casa para pedir e se mobilizar. E o sindicalismo de maneira geral se acomodou. Acho que o nosso movimento tá desacreditado por causa disso aí, deixamos de conseguir coisas.

 

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período?

Nosso desafio é eleger o Lula, para conseguir alguma coisa lá na frente. Se isso não ocorrer, o movimento sindical vai diminuir cada vez mais, como já diminuiu. Hoje, as rescisões de contratos nem são mais feitas aqui dentro, só se o trabalhador exigir. Não temos mais lei, não sei como ainda não proibiram a campanha salarial, pois as leis que colocaram tudo é acertado com o patrão. Nós perdemos quase tudo com esse presidente que está aí.

 

Como atrair mais sócios para o Sindicato?

Tem que fazer sindicalização, tem que dar brinde, isso não é comprar. Faz parte da história do Sindicato dar esse brinde. Tem que ir para as portas de fábrica sindicalizar e não só em um período, mas seguidamente, uma vez por mês, tirar uma data. E dentro das empresas tem que ter um trabalho forte. O Elias fazia isso no horário do meio dia, uma semana associava, na outra, entregava carteirinha. E para associar tem que ter rotatividade nas empresas, para o peão da fábrica conhecer os diretores. Não é fácil, mas se todo mês, em cada fábrica, tu conseguir associar dois ou três, o Sindicato cresce.

 

Gostaria de acrescentar alguma coisa?

A única coisa que posso acrescentar é que eu como sindicalista sempre gostei do que fiz e hoje, se tiver movimento, alguma atividade do Sindicato, eu venho e participo, continuo sócio e se conseguir sindicalizar alguém, mando aqui. Entro pela porta da frente aqui e tem ex-sindicalista que tem vergonha de vir aqui. Quem é sindicalista tem que pensar na luta da entidade e não em si.

 

 

Fonte: STIMMMESL

Imagens: Israel Bento Gonçalves (STIMMMESL)

 

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