Mais de 4 mil pessoas exigem “Fora Temer! Nenhum direito a menos” na retomada das mobilizações em Porto Alegre

Diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região participaram do ato

 

O ato “Fora Temer! Nenhum direito a menos”, ocorrido na tarde ensolarada deste domingo (31) no Parque da Redenção, em Porto Alegre, marcou a retomada das mobilizações de rua que deverão se estender ao longo do mês de agosto, em defesa da democracia e dos direitos ameaçados pelo golpe e pela agenda ultraconservadora do governo interino de Michel Temer. Esse foi o principal anúncio feito por lideranças da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, que promoveram a manifestação deste domingo. A atividade foi marcada por ato político e apresentações culturais que animaram os participantes

 

As entidades que integram as duas frentes anunciaram também que está sendo construída uma greve geral para paralisar todo o país em defesa da democracia e contra o golpe. Segundo os organizadores, mais de 4 mil pessoas participaram do protesto.

 

Golpe contra a democracia e os direitos

“Todo mundo já se deu conta que esse golpe é contra a democracia, os direitos sociais e trabalhistas”, resumiu o presidente da CUT-RS e representante da Frente Brasil Popular, Claudir Nespolo. “Já acabaram com o Ciência Sem Fronteiras, adotaram regras que tornaram o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) mais difícil e querem aprovar agora o PL 257, que acaba com o serviço público. Querem destruir todo o legado de direitos construído e defendido por Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Lula. Não vamos permitir que isso aconteça”, acrescentou.

 

“Será que não tem seis senadores que ainda não se deram conta que isso é golpe?”, questionou Claudir. “Vivemos isso aqui no Rio Grande do Sul, pois votaram contra o PT, contra o Tarso e agora o Sartori está sucateando o Estado”, alertou.

 

O dirigente da CUT criticou ainda o papel que a Rede Globo vem desempenhando em todo esse processo, defendendo o afastamento da presidenta Dilma Rousseff e, agora, querendo criar um clima de normalidade. “Todo o dia a Globo golpista repete que as coisas estão começando a melhorar. A Rede Globo alimenta o espírito de vira-latas junto à população brasileira, defendendo a entrega das riquezas do pré-sal para empresas petroleiras norte-americanas. Pois nós não iremos sair das ruas e vamos enfrentar os golpistas e organizar a greve geral”, enfatizou Claudir.

 

Golpe desmascarado

A representante da Frente Povo Sem Medo, Bernadete Menezes, apontou que o esvaziamento e o fracasso do ato em defesa do impeachment da presidenta Dilma, convocado também para este domingo, no Parque Moinhos de Vento, na capital gaúcha, é uma evidência de que o golpe foi desmascarado. “Não tem quase ninguém lá no Parcão, porque a classe média também está se dando conta de que há um golpe em curso e os seus direitos também estão ameaçados”, disse.

 

“O golpe não é só contra a Dilma, mas também contra os direitos, contra a Previdência, as leis trabalhistas e a saúde pública. Lá no Congresso, nesta segunda-feira, teremos delegações de todo o país para derrotar o PL 257, que representa um brutal ataque contra os serviços públicos e contra os servidores públicos de todo o país. Esse projeto é apoiado aqui no Rio Grande do Sul pelo governador Sartori, que também faz parte do golpe. Esse sem vergonha renegociou a dívida do Estado e agora segue parcelando o salário dos servidores”, afirmou a sindicalista.

 

Berna falou ainda dos ataques à Previdência. “A desculpa é que nós, mulheres, estamos vivendo demais, que não basta ser estuprada e ter três jornadas, e que eles querem é que nós morramos logo”, denunciou. “O governo golpista vai rasgar a CLT e a Constituição. A elite tem nojo da classe trabalhadora”, disparou.

 

O perigo do PL 257

A diretora de Saúde da CTB-RS, Débora Melecchi, destacou que, em menos de dois meses, “o governo ilegítimo de Temer vem tentando passar o rodo sobre os direitos dos trabalhadores, querendo alterar toda a legislação previdenciária e trabalhista”. Ela chamou a atenção também para a ameaça que representa a PEC 241 para a saúde pública e o Sistema Único de Saúde (SUS).

 

A proposta congela os gastos públicos por 20 anos, período em que o dinheiro economizado seria canalizado para o pagamento da dívida pública. Como no caso do PL 257, essa proposta recai diretamente sobre os trabalhadores, os servidores e os serviços públicos, especialmente em áreas essenciais à população brasileira como educação, saúde e segurança.

 

A moradora da ocupação Lanceiros Negros, Priscila Voigt, salientou a luta pela moradia e lembrou a recente ocupação do Departamento de Municipal de Habitação (Demhab). “A população de rua está morrendo de frio e tem milhares de edifícios abandonados”, criticou.

 

Derrotar o golpe no Senado

Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), a partir desta segunda-feira (1º) inicia-se uma fase decisiva para o desfecho da crise política em que o país está mergulhado. Temer, assinalou o deputado, quer colocar em votação já nesta segunda o PL 257 que, no caso do Rio Grande do Sul, pode representar a anulação de reajustes aos servidores aprovados pela Assembleia Legislativa durante o governo Tarso Genro.

 

Pimenta revelou que o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prometeu acertar, na segunda semana de agosto, a situação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ameaçado de cassação.

 

Para o parlamentar gaúcho, os atos contra Temer realizados neste domingo em diversas cidades do Brasil representam a retomada das mobilizações para enfrentar essa fase final do processo do golpe.

 

Ele acredita que há uma chance real de vitória no Senado, na votação do impeachment. “Em março, Dilma tinha entre 9 e 12% de aprovação e 85% querendo o impeachment. Mesmo na recente pesquisa fraudada da Folha de São Paulo, 37% disseram que o que está acontecendo é um golpe. Nós temos 17 senadores que ainda não declararam o voto. Destes, precisamos de cinco. Vários destes senadores já disseram que definirão seu voto de acordo com a posição da opinião público de seus estados. Por isso, Lula está voltando ao Nordeste para conversar com a população”.

 

Próximos passos

Para enfrentar projetos como o PL 257, que, em troca da renegociação da dívida, exige que os estados apliquem arrocho salarial sobre os servidores públicos, cortem concursos e congelem investimentos, representantes de entidades sindicais, movimentos sociais e partidos, que lutam contra o golpe, prometeram voltar a intensificar as mobilizações de rua.

 

Nesta terça-feira (2), o governo interino quer votar, na Câmara, a mudança das regras de exploração do pré-sal já aprovada no Senado. Com esses projetos, disse Pimenta, Temer quer “acertar as contas com os financiadores do golpe”. Haverá uma grande manifestação na próxima sexta-feira (5) contra o golpe no Rio, antes da abertura das Olimpíadas.

 

Três mulheres novamente coordenaram o ato contra o golpe, dentre elas a secretária de Finanças da CUT-RS, Vitalina Gonçalves. Ela anunciou que no próximo dia 16 será realizado um dia nacional de luta e que haverá uma grande marcha em Porto Alegre, no final de agosto.

 

“Estamos reunidas e reunidos aqui para dizer não à reforma trabalhista, não à reforma da Previdência e estamos construindo uma grande mobilização e a greve geral. Vamos parar esse país”, salientou Vitalina. “As nossas tarefas são duras, mas são para o povo brasileiro”, finalizou.

 

Mística e cultura

O evento contou também com uma mística na abertura, realizada pelo Fórum Inter-religioso e Ecumênico de Porto Alegre, coordenado por Cibele Kuss, que ressaltou a importância “de humanizar a luta.” Ela também condenou o conservadorismo do Congresso, o machismo, a cultura do estupro e a exploração das minorias.

 

O cacique da comunidade indígena do Cantagalo, de Viamão, sublinhou as dificuldades que os índios enfrentam há mais de 1.500 anos. “Lutamos pelo fortalecimento da cultura indígena, assim como lutamos para que este governo seja derrubado”, resumiu. Ao final, frutas foram distribuídas para os participantes.

 

O grupo de Teatro Geração Bugiganga, de São Leopoldo, encenou a esquete “Deixa eu falar” e o ato ainda contou com a apresentação musical de Os Poets e Pereira da Viola, que fechou a atividade com uma grande dança de roda.

 

Fonte: CUT-RS com Sul 21

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