Queimadas na amazônia impactam não só o céu das cidades brasileiras, mas também o bolso e a saúde da população

O aumento do número de queimadas na Amazônia pode impactar a conta de energia elétrica e na saúde dos brasileiros

O que parecia um aviso de tempestade no céu de São Paulo na segunda-feira (19) na verdade, era um sintoma do desmatamento acelerado no Centro-Oeste e no Norte do país. A onda de incêndios sem precedentes é o segundo passo da conversão da floresta em pastagem, sendo o primeiro a derrubada das árvores. De acordo com nota técnica elaborada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o aumento no número de queimadas na região amazônica tem relação com a ação humana e a prática de “limpar” áreas recém-desmatadas e outros tipos de terreno. O estudo indica que o desmatamento é o provável fator responsável por este cenário, e não a estiagem, como defendeu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em seu perfil no Twitter. “Tempo seco, vento e calor fizeram com que os incêndios aumentassem muito em todo o País”, disse na rede social.

O Ipam divulgou em uma nota técnica que, apesar da seca, há mais umidade na Amazônia hoje do que havia nos últimos três anos, o que não justificaria o aumento no número de focos de calor. “A ocorrência de incêndios em maior número, neste ano de estiagem mais suave, indica que o desmatamento possa ser um fator de impulsionamento às chamas, hipótese testada aqui com resultado positivo: a relação entre os focos de incêndios e o desmatamento registrado do início do ano até o mês de julho mostra-se especialmente forte. Os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento. Este municípios são responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho.”

Ainda de acordo com o Ipam, os registros de incêndios em 2019 são nitidamente maiores nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima, se comparados àqueles dos últimos quatro anos. O destaque ainda mais negativo, contudo, fica para o estado do Acre, onde o impacto das queimadas pode resultar em prejuízos para a saúde pública. Não é mais o Ibama que autoriza as queimadas, mas os estados. E nesse período crítico como agora, agosto, setembro, são proibidas em vários deles. Nesse período a legislação local não autoriza queima nenhuma. As queimas que acontecem, de um modo geral, são irregulares, aproveitando-se da época em que a seca está mais intensa.

Outra consequência é que os incêndios na Amazônia diminuem o número de chuvas produzidas e, consequentemente, o volume de água nos reservatórios que produzem energia hidrelétrica. Quem sente no bolso é a população, que vê o preço da conta de energia subir. Como pano de fundo, está uma política antiambiental e omissa do governo de Jair Bolsonaro (PSL). É o que alerta o pesquisador e professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Pedro Côrtes.

Ainda segundo Côrtes esta é a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos. “Muito se tem dito a respeito dos “rios voadores”, que nada mais são do que a umidade que está sobre a Amazônia, não consegue ultrapassar a barreira dos Andes, margeia os Andes pelo lado territorial e entra pela região Centro-Oeste, segue pelas regiões Sudeste, Sul e leva essa umidade para uma região onde há alta produção agrícola e industrial — não só no Brasil, como também nos países vizinhos. Quando a gente promove o desmatamento, acontece que o capim [que fica após a retirada de vegetação], que tem uma raiz superficial, não consegue extrair umidade do solo como fazem as grandes árvores da Amazônia, onde há raízes que vão a dezenas de metros drenando a água do subsolo e, por meio da evaporação, formam as nuvens dos chamados rios voadores.”

A partir do momento que começa a desmatar, além dos problemas ambientais locais, há uma redução na formação desses “rios voadores”. Consequentemente começa a ter uma redução do volume de chuvas na região Centro-Oeste, importante área agrícola, além das regiões Sudeste, Sul e na Argentina, Paraguai e Uruguai. Isso por si só já promove uma alteração climática, explica o pesquisador.

Na manhã desta quarta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar Ongs e insinuou que elas poderiam estar por trás das queimadas que atingem a região amazônica. “O crime existe e nós temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, repasses de fora, 40% ia para ONGs, não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta de dinheiro. Pode estar havendo, não estou afirmando, a ação criminosa desses ‘ongueiros’ para chamar a atenção contra minha pessoa contra o governo do Brasil”, afirmou.

Ao abrir mão de recursos da Noruega e Alemanha, que bloquearam repasses para o Fundo Amazônia, Bolsonaro não fragilizou as “Ongs”, mas sim o próprio sistema de proteção da Amazônia, segundo a representante do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos. “Todo o orçamento ambiental, que já é frágil, fica ainda mais frágil com a saída desses parceiros internacionais”, aponta, em entrevista. sofrem também com as queimadas.

O Fundo Amazônia financia projetos da União e de estados e arcou inclusive com custos de estruturação de ações de prevenção e combate a incêndios na região junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), além de parcerias com o Corpo de Bombeiros do Acre, Pará e Mato Grosso.

Duas pessoas morreram em Rondônia no último dia 14, tragadas pelas chamas. Há animais mortos por toda parte, mata destruída e fumaça que se espalha por milhares de quilômetros, atravessando estados, levando doenças respiratórias. Em vez de transferir recursos urgentes para o combate às chamas e à prevenção de novos incêndios, com mais fiscalização às derrubadas, Bolsonaro põe a culpa na conta de siglas que ele nem sabe quais são.

Fonte: STIMMME SL com informações da Rede Brasil Atual e FTMRS

 

 

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