FMI diz que recuperação econômica dos países dependerá de agilidade na vacinação

Um dos únicos países do hemisfério ocidental que fechará 2021
com taxas de desemprego mais altas do que no primeiro ano de pandemia

Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado nesta semana, contrapõe a falsa dicotomia entre salvar a economia ou a vida na pandemia de covid-19 que já matou mais de 3 milhões de pessoas no mundo. De acordo com a organização, a recuperação econômica de cada país dependerá, na verdade, dos esforços das nações para garantir a melhor distribuição de vacinas. Também para o FMI a vacinação é fundamental.

As projeções do fundo, contudo, alertam que a retomada da economia tem se dado de maneira desigual entre os países. O relatório do FMI praticamente divide o mundo em dois. De lado estão as nações mais ricas, que têm conseguido promover políticas de apoio econômico e também de vacinação em massa. E que, por consequência, vão se recuperar mais rápido. Do outro, estão os países chamados emergentes e mais pobres que terão mais dificuldades de retomada por não terem investido suficientemente no apoio e na imunização.

Nesse sentido, a expectativa do FMI é que a economia brasileira cresça 3,7% neste ano e 2,6% em 2022. Bem abaixo do crescimento econômico mundial, estimado em 6% para este ano e 4,4% para o próximo. Pelas previsões do fundo, o Brasil também deve ser um dos únicos países do hemisfério ocidental a ter a taxa de desemprego mais alta do que em 2020. O FMI projeta um crescimento de 13,2% para 14,5% neste ano.

Nem saúde, nem economia: o caso brasileiro
“O relatório do FMI deixa claro que aqueles que lidam melhor com a questão da saúde e da vida estão tendo uma recuperação econômica. Isso é um recado para o atual governo brasileiro que precisa minimamente repensar sua posição em relação à pandemia”, destaca o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. Em entrevista a Glauco Faria, em sua coluna no Jornal Brasil Atual, o especialista adverte que apesar da instituição falar em recuperação, o crescimento, considerado baixo no Brasil, será também insuficiente para repor as perdas econômicas no primeiro ano da crise sanitária. “As próprias previsões do FMI estão superestimadas, porque o mercado brasileiro já trabalha com uma taxa de crescimento abaixo dos 3%”, explica.

A queda econômica brasileira é maior do que em outras nações inclusive da América do Sul e do Norte. De acordo com o fundo, na Argentina, por exemplo, o desemprego cairá de 11,4% para 10,6%. Nos Estados Unidos a taxa será ainda menor, passando de 8,1% para 5,8%. Em todos os casos, o ritmo de vacinação de cada nação será decisivo para confirmar as projeções.

Mas no Brasil, as perspectivas quanto a isso também são menos promissoras. Até o final de março, segundo cálculos do Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, o país estava em 64º no ranking mundial de vacinação em termos de população imunizada. O Brasil inclusive perdeu sua vantagem em relação aos Estados Unidos, garantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o programa referência em imunização. Os norte-americanos vacinam diariamente quatro vezes mais, segundo o mesmo portal.

Brasil contrário à quebra de patente
“O Brasil perdeu uma oportunidade e desmontou o que tinha de excelência”, critica Fausto. “Vamos lembrar que na crise anterior, da pandemia do H1N1, o Brasil vacinou mais de 70 milhões de pessoas em menos de três meses. Isso porque tinha uma clara ação coordenada do Ministério da Saúde, do SUS. O que vemos é o contrário. Um governo federal que nega a questão da pandemia (de covid) e começou a falar de vacina agora, com seu quarto ministro da Saúde.”

A questão se agrava à medida que faltam também doses para todos os países, principalmente para os mais pobres, empurrados para o final da fila de compra. Enquanto nações mais ricas adquirem mais vacinas do que precisam, mais de 100 países ainda não conseguiram começar sua campanha de imunização. Em paralelo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem defendendo a quebra de patente dos imunizantes. O que levaria a preços mais baixos e significaria mais vacinas sendo produzidas. Mas, apesar da trágica situação do Brasil, entre os recordistas mundiais por mortes e adoecimentos pela covid-19, o governo Bolsonaro é um dos poucos países que se posiciona contra essa solução.

A posição, segundo o Diesse, prova que o Brasil também retrocede no campo diplomático. Ao contrário do que era visto desde os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) aos de Lula e Dilma (PT), considerados fundamentais para barateamento dos medicamentos contra o HIV e sua posterior quebra de patentes. “O que estamos vivendo tem significado uma política do caos. Ao excepcionalizar, separar a vida e a economia, (o governo) está levando ao poço a nossa economia no geral. Mas, principalmente, está matando uma quantidade enorme de vidas que poderiam ser poupadas com enfrentamento mais racional dessa crise”, lamenta Fausto.

Fonte: Rede Brasil Atual (RBA)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dezoito − quatro =