Exclusão digital no Brasil se agravou durante uma pandemia

Em março, Bolsonaro vetou projeto que garantia internet grátis para alunos
e professores da rede básica de educação

Pesquisa sobre uso da internet durante a pandemia, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, aponta que em 2020 o telefone celular foi o principal dispositivo usado para acompanhar as aulas e atividades remotas, sobretudo nas classes D e E, somando 54% deste segmento da população.
Desse total, 36% tiveram dificuldades para acompanhar as aulas por falta
ou baixa qualidade da conexão à internet, o que evidencia um cenário de exclusão digital no país.

A dificuldade encontrada por muitos em continuar estudando a distância,
fez com que a Câmara dos Deputados e o Senado aprovassem projeto que
garantia internet grátis para alunos e professores da rede básica de
educação. Porém, ao chegar nas mãos do presidente Jair Bolsonaro, a proposta foi vetada.

Segundo o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, o grau de desigualdade digital não é só no acesso instrumental, ou seja, na falta de um aparelho celular ou computador, mas também diz respeito ao alto custo dos planos.

“O grau de exclusão na desigualdade digital não é só no acesso, mas também no alto custo da banda larga no Brasil. A internet é um privilégio de áreas ricas, não temos uma expansão da banda larga igual a telefonia. Diante disso, o mercado o aposta em quem tem dinheiro para pagar e aumenta seus preços, sem levar uma infraestrutura para todos”, explica, à repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual.

Desigualdade digital

A pesquisa TIC Domicílios 2018 já mostrava que, em todo o país, 42% dos lares não possuíam computadores. Os pesquisadores também advertiam que a conectividade era bastante precária. “Muitas famílias não têm sequer televisão em casa, imagina ter uma boa internet”, observaram em reportagem da RBA publicada no ano passado.

Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) já havia avaliado que o acesso à internet é um direito humano do século 21. Porém, sete anos depois, a exclusão ainda é uma realidade no Brasil, como observa Marcelo Saldanha, ativista digital em defesa da internet como direito fundamental e presidente do Instituto Bem Estar Brasil.

“O mapa da Anatel sobre a concentração de serviços mostra a localização principalmente nas grandes cidades, na área litorânea e também em locais com maior poder aquisitivo. Há políticas econômicas que beneficiam essas empresas, o que imputa obrigações, mas as operadoras ignoram”, afirmou Saldanha.

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