Sindicalistas do Brasil e Itália debatem estratégias contra os efeitos da crise econômica
A conjuntura dos dois países e os embates do movimento sindical nos ramos metalúrgico, químico e financeiro foram debatidos na tarde da segunda (8), no Seminário Internacional O Papel das Organizações Sindicais em São Paulo e Lombardia-Milão, realizado nas sedes da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT) e da Federação dos Metalúrgicos (FEM-CUT/SP) , em São Bernardo do Campo. O evento visa aprofundar as estratégias do movimento sindical para defesa de direitos em meio a crise financeira e é realizado numa parceria entre a CUT São Paulo e Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL Lombardia e Milão) até terça-feira (9).
A mesa de abertura contou com a presença do presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, do presidente e do secretário geral da CNM/CUT, Paulo Cayres e João Cayres, respectivamente, do presidente da FEM-CUT/SP, Luiz Luiz Carlos da Silva Dias, o Luizão, a secretaria geral da CGIL de Milão, Elena Lattuada, e o responsável pelas relações internacionais da CGIL de Milão, Giovanni Zampariolo.
Entre outros pontos em comum, Brasil e Itália também passam por uma onda conservadora e seus governos têm aprovado leis contrárias aos interesses dos trabalhadores. Com dados da produção, importação e exportação de multinacionais de São Paulo e da Lombardia, região norte da Itália, os dirigentes puderam comparar avanços e desafios nos acordos coletivos e na ação sindical das centrais.
Precarização mundial
O secretário geral da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos de Bergamo (FIOM CGIL Bergamo), Eugenio Borella, explica que o ramo é o que mais sofre com a instabilidade econômica e, nos últimos seis anos, o governo italiano se restringiu a isenções tributárias para as empresas.
Mesmo com incentivos, diz Borella, a questão envolve a precarização mundial do trabalho e a busca por um diálogo internacional é o meio para conhecer as estratégias das multinacionais em todos os países. "As regras e as condições são diferentes em cada país e é preciso evitar que isso seja um dos fatores para produzir onde custa menos, onde há menos obrigações com os trabalhadores e com o meio ambiente".
Para proteção do emprego, além de cláusulas em acordos coletivos, a Itália tem um fundo social e um "fundo de ocupação", financiados pelas empresas e pela sociedade, com recursos que podem, por exemplo, evitar demissões em massa. "Vocês foram contra as marés de privatização da década de 1990, os italianos, não, e a reestruturação dos bancos, comprados por multinacionais, expulsou 30 mil trabalhadores do setor. Por sorte, o problema foi administrado pelo fundo social, fruto de uma negociação dos sindicatos no final da década de 1980", relata Luca Natali, secretário da Federação Italiana dos Trabalhadores de Crédito e Seguro (FISAC CGIL).
Segundo Natali, com o grande número de empréstimos que não serão recuperados, e a forte queda na renda familiar, há muita prudência na política de crédito e os bancos italianos se concentraram na venda de serviços, como os seguros, aumentando a pressão por metas sofrida pelos bancários.
Sindicatos na economia
Mario Principe, secretário da Federação Italiana dos Trabalhadores da Indústria Química, Têxtil e de Energia (FILCTEM CGIL Milão), esmiuçou o caso de uma empresa com sede em Milão, onde o acordo entre sindicato e patrões garantiu jornada flexível, fim do cartão de ponto e cinco dias por mês para trabalho em casa – tudo atrelado à produtividade, beneficiando, principalmente, as cerca de 300 mulheres que compõem o quadro de 450 funcionários.
Mas o caso é exceção e não regra nos acordos, ressalva o dirigente, pois o setor químico, teoricamente rico, foi outro bastante afetado na década de 1990, com a venda de vários laboratórios farmacêuticos italianos a multinacionais. "Há uma necessidade de se examinar o papel do sindicato na economia porque, na Itália, no passado, a intervenção do Estado na economia ficou como algo negativo, mas é preciso uma intervenção pública moderna dentro da economia", defende.
Fonte: CNM/CUT