Audiência de mediação entre metalúrgicos e Gerdau termina sem acordo
Depois de duas horas de negociação, terminou sem acordo a audiência de medição no Tribunal Regional do Trabalho (TRT4), realizada na tarde desta sexta-feira (27), entre o Grupo Gerdau e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de São Leopoldo e Região em relação ao dissídio dos funcionários da unidade de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. A data-base da categoria é julho.
Em convenção coletiva fechada no mês de outubro foi definido que o dissídio seria no mínimo a reposição da inflação, 9,31%, parcelado em duas vezes: 5% a ser paga retroativa, e outra de 4,31%, quitada em dezembro. O acerto se estendeu a toda a categoria. Entretanto, a empresa Gerdau propôs a substituição do percentual por um abono de R$ 5 mil para os trabalhadores da fábrica de Sapucaia. A proposta foi rejeitada pelo sindicato, gerando um impasse com a empresa siderúrgica e, ao mesmo tempo, entre parte dos trabalhadores e a entidade sindical.
Crise como argumento
Na audiência desta sexta, um dos advogados da Gerdau, Sérgio Juchem, disse que a empresa fez a proposta em virtude da crise financeira e para evitar demissões. Isso porque, argumentou ele, no último trimestre, a empresa, que tem unidades em vários Estados do país, registrou um prejuízo de R$ 1,9 bilhão. Segundo o advogado, a média dos salários dos trabalhadores da unidade de Sapucaia é de R$ 2,7 mil, mas o abono foi calculado com base no teto pago pela fábrica, que é de cerca de R$ 4 mil. Junto com o abono de indenização, a fábrica propôs garantia de emprego até janeiro de 2016. “A crise é tão avassaladora e não parece cessar. A cláusula de reajuste foi substituída por outro formato, as outras cláusulas estão sendo praticadas”, justificou Juchem.
Procuradora do Ministério Público do Trabalho (MTP), Beatriz Junqueira Fialho disse que o problema da Gerdau não é só a crise, mas também de gestão, uma vez que o grupo fez uma operação e que as ações caíram. “Não é só pela crise, mas por uma série de questões”, afirmou ela.
Pressão nos funcionários
Presidente do sindicato, Valmir Lodi afirmou que não havia como aceitar a proposta, pois há uma convenção coletiva que se estende a todas as empresas metalúrgicas da região. “Qualquer outra negociação seria impossível. Nós temos uma convenção e precisa ser cumprida”, sustentou o dirigente sindical, alertando que, se for desconsiderado o acordo abrirá um precedente. Além disso, todos os metalúrgicos da região teriam de ser consultados, por meio de assembleia, novamente, já que a convenção atinge 3,5 trabalhadores da região.
Lodi acusou, ainda, a Gerdau de pressionar os trabalhadores a cobrar do sindicato o abono. No dia 20, centenas de funcionários foram até a frente da entidade sindical para pressionar a direção. “Os trabalhadores da Gerdau estão acuados”, afirmou o presidente, acrescentando que eles temem demissões. Já os representantes da empresa negaram a pressão e afirmaram que o sindicato não quer “ouvir as bases”.
Alternativas rejeitadas
Já a vice-presidente do TRT, Ana Luiza Heineck Kruse, que conduziu a audiência de mediação, frisou que as “questões políticas (com os trabalhadores) têm de ser gerenciadas e que a decisão do grupo de empregados não pode ser desconsiderada, apesar de reconhecer a preocupação do sindicato com toda a categoria. “Pode ser bom para o grupo, mas não para a categoria”, admitiu ela. Ana Luiza chegou a propor a possibilidade de prorrogar o prazo de estabilidade do emprego e uma compensação do reajuste na próxima data-base.
Os representantes da Gerdau se reuniram e empurraram para 1º de março o prazo de garantia do emprego, sugerindo que o sindicato levasse a proposta para a categoria decidir em assembleia, que poderia votar em segredo para evitar pressões. Contudo, os dirigentes sindicais reafirmaram o cumprimento da convenção coletiva, uma vez que no período de um ano os trabalhadores perderiam R$ 4 mil, caso aceitassem o abono. “Em cinco anos deixaríamos de receber R$ 20 mil”, completou Lodi. O presidente também disse que a categoria já foi consultada para aprovar a convenção coletiva e que os trabalhadores da fábrica de Sapucaia foram ouvidos recentemente em assembleia rejeitando a proposta. “Aquilo não foi uma assembleia”, rebateu uma funcionária que assistia à audiência, demonstrando o impasse entre parte de trabalhadores e sindicato.
A representante do MPT chegou a fazer uma nova proposta na tentativa de uma conciliação. Beatriz propôs 10 meses de estabilidade no emprego e a metade do percentual de 9,31% na próxima data-base, mas a audiência terminou sem acordo. As partes, por sua vez, afirmaram que o diálogo continua aberto.
Fonte: Sul 21