Lula: crescimento só volta com democracia e eleição direta
Ex-presidente defende proposta de recuperação que considera período de "anormalidade" vivido pelo país. "O Estado tem a obrigação de acionar a máquina", afirma em encontro da CNM/CUT
A economia só voltará a crescer com a recuperação da democracia, o que inclui eleições diretas, e com presença forte do Estado, o que exige credibilidade, afirmou na terça-feira (24) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Credibilidade você só conquista com um governo eleito pelo povo", disse Lula a uma plateia de mais de 100 dirigentes de entidades sindicais de metalúrgicos da CUT, para acrescentar que o atual governo "deu o golpe exatamente para fazer o que vocês não querem".
"Ou a gente recupera a democracia, ou a gente volta a eleger um presidente da República, ou não vamos ver a economia voltar a crescer", assegurou o ex-presidente em sua participação na reunião ampliada da direção da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), iniciada na manhã desta terça, na sede da entidade, em São Bernardo.
Ao contar que se encontrou ontem (23) com um grupo de economistas, o ex-presidente disse que é preciso apresentar uma proposta alternativa, considerando o momento instável do país. "Temos de agir com certa anormalidade. Temos autoridade moral e política de apresentar uma proposta alternativa." Uma proposta "contundente", disse Lula, mas que também não seja o "tudo ou nada".
Seja qual for a proposta, o Estado tem de ser central, ressaltou Lula. "O governo tem de ser o motor de arranque. Se não for o Estado, é ninguém. O Itaú não empresa dinheiro a longo prazo, o Bradesco não empresta dinheiro a longo prazo. Quem empresta dinheiro a longo prazo é o Estado, o banco de desenvolvimento. O Estado tem a obrigação de acionar a máquina."
Ele afirmou ver uma discussão "um pouco invertida" nos jornais sobre seu governo, que teria cometido um equívoco ao sustentar um modelo econômico baseado no consumo. "Quero que alguém me diga qual é o empresário que vai fazer investimento se não tiver consumo? Quem vai plantar batatinha se não tiver consumo de batatinha?", questionou o ex-presidente, reafirmando que o país precisa "conquistar o direito de ter um presidente legitimamente eleito pelo voto".
Pito no Meirelles
Para Lula, mesmo com algum aumento da dívida pública, o Estado tem de ajudar a impulsionar a economia por meio do investimento em infraestrutura e do aumento do crédito, em vez de aplicar uma política de cortes, como o atual governo – mas observou que isso exige credibilidade, que vem do respaldo eleitoral. Ele voltou a citar a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, que recentemente, diante do ministro da Fazenda brasileiro, Henrique Meirelles, disse que a prioridade das políticas econômicas deve ser o combate à desigualdade social. "Nossa companheira francesa deu um pito no Meirelles", ironizou. Na sexta-feita (20), Lula havia dito em evento do PT que o FMI, comparado a Temer, é "esquerda porreta".
O ex-presidente também observou que houve erros no governo Dilma, como a política de desonerações, muito mais ampla do que em sua gestão. Assim, uma política destinada a manter o nível de emprego e as políticas sociais acabou causando problemas. "A caixa foi ficando vazia. A gente não olhou corretamente", comentou Lula, que participou de debate promovido pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT).
Ele criticou ainda a Operação Lava Jato, não pelo combate à corrupção. "Não estamos levando a sério o que a chamada Operação Lava Jato está fazendo com a economia brasileira. Segundo várias informações, o efeito chega a 2,5% do PIB." Vendo interesses estrangeiros em jogo, Lula afirmou que a elite brasileira ainda padece do complexo de vira-lata. "Não estou preocupado com aqueles que devem 300 reais, estou preocupando com aqueles que devem bilhões e não pagam, com o prejuízo à economia com aquela operação (Lava Jato)."
E reafirmou que seu governo conseguiu derrubar alguns tabus. "Era possível aumentar as exportações e o mercado interno. Provamos que era possível trabalhar as duas políticas. Era possível aumentar o salário mínimo e ter aumento real de salário sem aumentar a inflação. Nos meus oito anos de mandato, a inflação ficou dentro da meta estabelecida."
"É hora de gritar", disse o ex-presidente, pedindo aos sindicalistas que se preparem. "Não sei se vocês estão fazendo ginástica. Eu corri 10 quilômetros hoje."
O evento continuou à tarde, com paineis que contaram com a presença do secretário geral da CUT, Sérgio Nobre, que falou sobre a reforma trabalhista; do ex-ministro Carlos Gabas, de Maria Isabel Noronha, presidenta da Apeoesp (sindicato dos professores de SP), e do secretário de Políticas Sociais da Contag (Confederação dos trabalhadores na agricultura), José Wilson, que avaliaram a reforma da Previdência.
Pouco antes, a técnica da Subseção do Dieese da CNM/CUT, Cristiane Ganaka, apresentou aos participantes os principais pontos do pacote de medidas microeconômicas lançado em dezembro pelo governo golpista e seus efeitos sobre a economia e o mercado de trabalho.
Fonte: Rede Brasil Atual