“Os brasileiros terão subemprego na vida e aposentadoria na morte”, afirma Dilma na Conferência “Mulheres e a Democracia”

Trabalhadoras metalúrgicas participaram da atividade

 

O Plenário Otávio Rocha da Câmara de Vereadores de Porto Alegre ficou pequeno para acolher as centenas de trabalhadoras que acompanharam a Conferência “Mulheres e a Democracia”, com a presidenta Dilma Rousseff. A atividade aconteceu na noite desta quinta feira (30), no centro da capital gaúcha. Ao criticar as reformas da Previdência e trabalhista, Dilma enfatizou que “os brasileiros terão subemprego na vida e aposentadoria na morte”.

 

O “volta Dilma” esteve presente nos cartazes, faixas e corações de papel, pendurados nas roupas das mulheres que recepcionaram a presidenta deposta com palavras de ordem e música.

 

Dilma abordou como a questão relaciona sociedade e estado. “Desde cedo descobrimos que devemos lutar não só contra a discriminação, mas também contra a opressão”.

 

Para ela, as políticas adotadas logo após o golpe sinalizam o rumo que a agenda defendida pelos golpistas toma. “Tanto na reforma da Previdência como na terceirização, é sobre nós, mulheres, que recai o efeito mais perverso dessas medidas”, enfatizou Dilma ao recordar as políticas públicas do seu governo. “Queríamos, sim, mais gastos com educação e saúde”, destacou.

 

“Reduzimos a pobreza e havíamos feito um recorte dessa pobreza. Ela era negra, feminina e criança. Por isso, criamos uma rede de proteção e empoderamento das mulheres”, explicou.

 

Segundo Dilma, a mulher numa família pobre exerce o papel de centralidade. “A presença da mulher é a garantia de sobrevivência da unidade familiar. Por isso, 94% do Bolsa Família era destinado às famílias chefiadas por mulheres, num total de 14 milhões de  núcleos familiares atendidos”.

 

Para ela, não há política social forte no país que não tenha base no empoderamento feminino. “Nossa primeira pele é de mulher. A segunda é de cidadã”, declarou sob forte aplauso.

 

Outro aspecto destacado por Dilma, que pautou o seu governo, foi o tripé casa, educação e aposentadoria. “Não tem como fazer política de universalização se não se começa pelos mais pobres. O Estado tem que dar subsídio para quem tem menos renda e é mais frágil.”

 

O golpe ainda não acabou

Dilma sublinhou também que o golpe aconteceu para reduzir direitos e estancar o avanço. “Foi um golpe parlamentar, pois teve um impeachment sem crime. E deram esse golpe porque há quatro eleições nós derrotávamos o projeto neoliberal.”

 

Criticando a reforma da Previdência, Dilma afirmou que todos os cálculos sinalizam que as mulheres não se aposentarão e que a situação da trabalhadora rural é ainda muito pior.

 

“Devemos ter claro que eles não fazem isso só por perversidade. Querem transformar esse sistema que é público e tem muito recurso em privado. A maneira que isso se dá é dificultando o acesso à aposentadoria”, disse ela.

 

“Não pararam por aí”, continuou ao criticar a aprovação da terceirização em todas as atividades das empresas. Ela lembrou que os trabalhadores terceirizados ganham menos, tem uma jornada maior e são as maiores vítimas de acidentes de trabalho. “Quem aqui votaria nesta imensa perda de direitos?”, indagou Dilma.

 

“Quando se tira uma presidente eleita de maneira legítima e democrática, se pode tudo depois”, salientou.  “Porém, há uma pedra no caminho deles, que é o nosso encontro marcado com a democracia em 2018″.

 

De acordo com ela, o golpe não acabou.  “Podemos perder a eleição e aceitamos perde-lá porque isso faz parte da democracia. Mas não aceitamos perder no tapetão”, afirmou. Dilma observou que o programa Minha Casa Minha Vida se tornou, com a mudança de governo, o “Minha Casa, Minha Mansão”.

 

“Só tem uma força capaz de impedir que o pior cenário aconteça, é o povo. Sei o valor da democracia, quando existe de forma plena, por isso precisamos ter a consciência de que vivemos um golpe”, encerrou.

 

A ex-presidente salientou que, em diversos momentos da sua atuação no governo, foi utilizada uma tipologia para descrever o gênero feminino como sendo frágil, instável, complicado, extremamente inseguro e medroso, enquanto o gênero masculino era descrito como firme, sério e trabalhador.

 

“Uma categorização em que uns são bons e outros são ruins”, disse. “Podemos contar o golpe por aí, porque a mídia usou esses estereótipos. Em muitos momentos, contraditoriamente, eu era uma mulher dura no meio de homens meigos, como eu dizia. Em outros momentos, eu era uma mulher frágil que não deveria ir ao Senado Federal enfrentar o momento decisivo do impeachment. Eles tocaram todas as notas”, afirmou. “Não nos iludamos. É sempre assim quando se lança contra as mulheres todas as campanhas”.

 

A presidenta ganhou uma cesta de produtos do MST, que foi entregue por mulheres que representam as mais de 25 entidades promotoras da Conferência.

 

Reconhecimento

A secretária de Mulheres da CUT-RS, Ísis Marques, acredita que as sindicalistas cutistas deviam isso à Dilma. “Ela é cidadã de Porto Alegre e reafirmar o espaço da mulher e da democracia na Câmara, e na figura da Dilma é muito importante.”

 

“Ela é construtora da democracia que temos hoje”, salientou Isis ao recordar a história de Dilma. “Vamos sempre disputar os espaços para que ela esteja presente”, garantiu a dirigente sindical.

 

A deputada estadual Manuela D’Avila (PCdoB) afirmou que veio para “ouvir a mulher que os golpistas tiraram do poder para acabar com os direitos trabalhistas”. Ela relatou que no período que foi deputada federal era visível a inconformidade do parlamento por ter uma presidenta mulher. “Hoje a noite é de feminismo”.

 

Lembrando o aniversário do golpe de 64, a deputada federal Maria do Rosário (PT) destacou que a “ditadura de hoje quer retirar direitos. E sempre as primeiras atacadas são as mulheres”. Para ela, “as mulheres não podem e não serão reduzidas”.

 

Para a vereadora Sofia Cavedon (PT), Dilma é exemplo da mulher de esquerda.  “Foram pessoas como ela que enfrentaram a ditadura que garantiram que hoje estivéssemos aqui. E que depois do golpe não ficássemos em silêncio”, salientou.  A vereadora encerrou chamando o ato desta sexta-feira, 31 de março, às 18h, na Esquina Democrática, que as centrais estão organizando pela democracia, em defesa da Previdência e da CLT, contra as reformas de Temer.

 

 

 

Fonte: CUT-RS

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