Taxa de desemprego só volta a nível pré-recessão em 2022, indica estudo

Se a economia brasileira se comportar como a de outras 37 nações que passaram por recessão nas últimas décadas, o desemprego deve levar cinco anos para voltar ao nível pré-crise (6,5%, em 2014).

 

Além disso, a taxa natural de desemprego (aquela que não acelera a inflação) subirá dois pontos percentuais, para perto de 10%. No segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego brasileira ficou em 13% (de cada 100 brasileiros interessados em trabalhar, 13 não conseguiram se ocupar), segundo a Pnad contínua, medida pelo IBGE.

 

O estudo sobre o impacto da crise no mercado de trabalho foi feito com 123 episódios recessivos de 1961 a 2017 e publicado nesta terça (22) pelo banco Credit Suisse.

 

Os 34 trimestres necessários para que a taxa de desemprego volta aos níveis de 2014 têm por hipótese um crescimento da economia de 2% a partir de 2018.

 

Num cenário otimista, de 4% ao ano, o recuo da taxa de desemprego levaria 26 trimestres, se a economia brasileira seguisse o padrão dos episódios estudados pelo banco.

 

PIB primeiro

A história das últimas décadas mostra que a taxa de desemprego só volta aos níveis pré-recessão depois que o crescimento do PIB retoma seu vigor anterior.

 

Foi essa a ordem nos 50 casos, dos 123 analisados, em que tanto atividade econômica quanto taxa de desemprego já haviam se recuperado, segundo dados da OCDE.

 

Em outros 59, o PIB já havia voltado à velocidade pré-crise, mas a taxa de desemprego não. Há outros 12 episódios em que nenhum dos indicadores se recuperou até o primeiro trimestre de 2017.

 

O estudo do Credit Suisse avaliou o tempo de retomada de PIB e emprego nos 50 casos de recuperação total.

 

Na média, a retomada do PIB levou 7 trimestres e a da taxa de desemprego, 9.

 

Quando se avaliam, porém, os países cuja profundidade da recessão foi semelhante à do Brasil — em que a economia já encolheu sete pontos percentuais desde 2014 —, os prazos crescem.

 

Nesses casos, a mediana da recuperação do PIB foi de 15 trimestres e a da taxa de desemprego, de 17 trimestres.

 

"São patamares mínimos", diz o economista Leonardo Fonseca, da equipe do Credit Suisse, porque nesses 50 países o crescimento foi forte o suficiente para permitir a queda da taxa de desemprego.

 

No caso do Brasil, a estimativa é que o PIB precise crescer acima de 1,7% ao ano para que a taxa de desemprego comece a recuar.

 

"Se a economia do país crescer muito perto desse número, a queda do desemprego pode demorar muito. Para que ele caia mais rápido, seria preciso crescer perto de 3% ou 4% ao ano."

 

Novo patamar

Outra questão importante, segundo Fonseca, é o desequilíbrio duradouro provocado pela recessão no mercado de trabalho.

 

Numa amostra de 53 países cujas recessões se encerraram antes da crise global de 2008, a taxa natural de desemprego não voltou aos níveis que tinha antes. Na mediana, ficou 1,5 ponto acima, 30 trimestres depois do início da crise.

 

Já nas crises mais profundas, semelhantes à brasileira, a alta foi de 1,9 ponto percentual.

 

O economista ressalva que analisar o caso específico do Brasil tem limitadores, como o fato de que a Pnad contínua começa apenas em 2012, o que dificulta observar como o desemprego se comportou em outros períodos recessivos da história.

 

Na comparação internacional, é preciso considerar fatores como o grau de flexibilização do mercado de trabalho-regras e encargos sobre contratações podem adiar a retomada.

 

"Num país com flexibilidade grande, como os Estados Unidos, a queda do desemprego depois da crise de 2008 foi muito mais rápida que em outros países."

 

No caso brasileiro, a reforma trabalhista pode tornar o mercado de trabalho um pouco mais flexível. "Quando o país começar a apresentar crescimento mais forte, isso pode se traduzir numa volta mais rápida da taxa de desemprego."

 

Outro fator que poderia mitigar o impacto sobre o desemprego, diz Fonseca, é o investimento em educação, principalmente dos mais jovens.

 

Isso compensaria a perda de experiência que eles vão sofrer pelo desemprego mais alto, que dificulta a entrada no mercado de trabalho.

 

Fonte: Folha de São Paulo

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