Após violência da BM, mais de 50 mil tomam as ruas de Porto Alegre na greve geral contra reforma da Previdência
Trabalhadores e estudantes não se intimidaram com a violência absurda, descabida e truculenta da tropa de choque da Brigada Militar, na madrugada desta sexta-feira (14), nas garagens de ônibus. No início da noite, mais de 50 mil pessoas tomaram as ruas do centro de Porto Alegre, fortalecendo a greve geral contra a reforma da Previdência, por empregos e em defesa da educação, que envolveu cerca de 45 milhões de trabalhadores em todo o país, segundo balanço das centrais sindicais.
A mobilização começou às 17h, com a concentração na Esquina Democrática, palco tradicional das manifestações populares na capital gaúcha desde a campanha das Diretas Já, no início da década de 1980. Dirigentes da CUT-RS e centrais sindicais e representantes de movimentos sociais revezaram o microfone em cima do caminhão de som, denunciando a proposta cruel e desumana do governo Bolsonaro, pois, se for aprovada no Congresso Nacional, significará a destruição da aposentadoria e o desmonte da Seguridade Social.
Enquanto milhares de trabalhadores, estudantes e aposentados se concentravam, chegou uma enorme passeata de professores e universitários, que partiu da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reforçando a luta contra os cortes de recursos para escolas, universidades e institutos federais.
As primeiras reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil com conversas vazadas entre o ex-juiz e agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador da República Deltan Dallagnol também estiverem presentes em diversos cartazes e manifestações, assim como muitos gritos de “Lula livre”.
Maior protesto em apenas 30 dias em Porto Alegre
Foi a terceira grande manifestação popular em apenas 30 dias. A primeira foi a greve nacional da educação em 15 de maio, convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e apoiada pelas centrais sindicais e estudantes. A segunda foi o ato contra os cortes na educação e em defesa da aposentadoria, chamada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) em 30 de maio, apoiada também pelas centrais.
Se havia dúvida entre qual dessas manifestações reuniu mais participantes, é possível dizer, sem erro, que a caminhada desta sexta foi a maior do ano em Porto Alegre. Em determinado momento, a manifestação se estendia da Esquina Democrática até as proximidades do Largo Zumbi dos Palmares, onde a mobilização foi encerrada.
Apesar da violência da BM, greve geral tem balanço positivo
O presidente da CUT- RS, Claudir Nespolo, fez um balanço positivo das manifestações. Ele condenou as agressões violentas da Brigada Militar, hoje comandada pelo governo Eduardo Leite (PSDB), aos piquetes nos ônibus e trens, com 56 jovens presos e vários feridos, destacou as paralisações de inúmeras empresas, escolas e bancos, criticou a cobertura manipulada de muitos veículos de comunicação, ressaltou os trancamentos de rodovias e as diversas manifestações no interior do Estado, e salientou o envolvimento de 45 milhões de trabalhadores em todo o país.
“Quarenta e cinco milhões de trabalhadores, de forma direta ou indireta, não foram produzir. Até pode ser que a elite não assuma publicamente, mas eles sabem que a fábrica teve metade dos trabalhadores e isso não gira a fábrica. Eles perderam dinheiro”, explicou.
Nespolo apontou “novos embates” para continuar a luta. “Logo, logo, teremos uma nova greve geral se eles insistirem com essa reforma”. No entanto, ele disse que ainda é cedo para confirmar que uma nova paralisação nacional será marcada, bem como que eventualmente poderá ter dois dias de duração. “Nós vamos aguardar a avaliação das centrais em nível nacional. A luta é nacional e a orientação virá da reunião nacional das centrais”, afirmou.
O dirigente da CUT-RS destacou ainda que não se pode confiar que o governo Bolsonaro aceitou a retirada das mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), e na aposentadoria rural e da capitalização da previdência. Ele avaliou que isso foi uma medida para tentar enfraquecer a greve e que, quando a votação for ao plenário da Câmara, esses itens podem retornar à pauta.
Juventude é o presente desta nação
O secretário de finanças da CUT Nacional, Quintino Severo, destacou a participação de milhares de jovens e disse que eles não são apenas o futuro do Brasil. “A juventude é o presente desta nação”. Para o dirigente sindical, “sem juventude presente não existirá futuro no nosso país”.
“Se, por um lado, essa proposta não traz esperança de no futuro se aposentar, por outro lado, não garante emprego, trabalho e distribuição de renda. É por isso que temos que continuar lutando em defesa dos nossos direitos”, ressaltou Quintino, que já foi presidente da CUT-RS.
Ele destacou que teve paralisações em mais de 380 cidades brasileiras. “Temos condições de andar de cabeça erguida e enfrentar esse governo, esse Congresso e essa reforma da Previdência”.
Deputados rejeitam mudanças do relator da reforma da Previdência
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSol-RS) frisou que as mudanças propostas pelo relator da Comissão Especial da Reforma da Previdência, deputado federal Samuel Moreria (PSDB-SP), não devem esfriar as mobilizações contra a reforma. “A reforma não foi suavizada. A luta continua”, disse ela, lembrando que, nesta sexta, faz 15 meses do assassinato ainda não resolvido da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). Quem mandou matar Marielle?
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) defendeu que os sindicatos e os movimentos sociais precisam manter e ampliar as manifestações contra a reforma. “As mudanças que eles fizerem, foram em primeiro lugar uma conquista da mobilização e da pressão social, que terminou garantindo que três pedaços muito ruins da proposta, que quer desestruturar a Previdência pública do País, fossem deixadas de lado temporariamente. Eles retiraram temporariamente os rurais, a capitalização e o BPC. Se nós não demonstrarmos força para proteger os aposentados do Regime Geral de Previdência, os servidores públicos que estão sendo duramente atacados, nós não chegaremos a lugar nenhum. Essa unidade em torno da luta contra essa antirreforma é uma unidade muito importante”, disse.
Juntos e juntas vamos derrotar a reforma da Previdência
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) atacou as políticas dos governos Bolsonaro e Leite defendeu a unidade na resistência. “É um momento histórico para o Brasil. Cada um que aqui caminha representa milhões de brasileiros que dizem não fascismo, não ao ódio, não ao terror”, destacou.
“Basta de ditaduras, de milícias e de juízes corruptos que não apresentam provas e prendem inocentes. Basta de roubarem os recursos da educação, da saúde pública e a dignidade do nosso povo! Basta de Bolsonaro e de todos que ele representa! Que ele diga: quem mandou matar Marielle? Que responda: onde está o Queiroz? E que responda o que pergunta o Intercept: que conluio é este que prendeu Lula e fraudou as eleições?”, questionou.
“Nós vamos juntos e juntas derrotar a reforma da Previdência, derrotar o machismo e derrotar Bolsonaro e suas milícias”, enfatizou Maria do Rosário.
Fonte: CUT-RS