Assembleia dos educadores termina em repressão da BM e presidente do CPERS é agredida
A assembleia do CPERS Sindicato, realizada no início da tarde desta terça-feira (26) na Praça da Matriz, em Porto Alegre, terminou em repressão pela tropa de choque da Brigada Militar. O incidente ocorreu após os educadores aprovarem a continuidade do calendário de mobilização da greve iniciada no dia 18 e quando o comando de greve da categoria aguardava para ser recebido pelo chefe da Casa Civil, Otomar Vivian (PP).
A mobilização começou por volta das 13h30, reunindo milhares de pessoas nos arredores do Palácio Piratini e da Praça da Matriz — segundo a direção do sindicato, entre 15 e 20 mil pessoas participaram.
O novo presidente da CUT-RS, professor Amarildo Cenci, manifestou todo o apoio dos trabalhadores e das trabalhadoras do RS à greve dos educadores e demais servidores públicos contra o pacote de maldades do governador Eduardo Leite (PSDB). Para ele, “o caminho do diálogo prometido na campanha eleitoral foi abandonado e o governo tucano age com truculência para destruir o Estado, os serviços públicos e os servidores, o que não podemos aceitar. Por isso, é preciso resistir e lutar como os trabalhadores da educação estão fazendo com muita dignidade”.
Tudo transcorreu normalmente, com a aprovação de uma série de atividades de luta para dar continuidade à greve da categoria, inclusive com a decisão de entregar um documento ao governo do Estado, pedindo a retomada do diálogo e a retirada do pacote de reforma administrativa que traz mudanças que destroem o plano de carreira dos professores, inclusive dos já aposentados.
O problema ocorreu quando o governo se recusou a receber o documento dentro do Piratini, aceitando a recebê-lo apenas na calçada. Neste momento, um grupo de pessoas que estava atrás do cordão de isolamento que separava o palácio da assembleia aparentemente ficou revoltado com a decisão e forçou a derrubada dos gradis e a entrada dentro da sede do governo.
Rapidamente, policiais militares que estavam dentro do Piratini utilizaram spray de pimenta e distribuíram golpes de cassetete para conter o avanço. Entre os agredidos, estava a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.
Ela subiu no caminhão de som e fez um breve pronunciamento relatando o episódio, pedindo calma aos educadores e que não dessem “motivos” para a repressão e para o governo encerrar o diálogo com a categoria. A presidente do Cpers exibia um galo na cabeça em decorrência do golpe. Logo em seguida, ela conversou brevemente com a reportagem.
“Eu não sei [o que aconteceu]. Quando eu estava cumprimentando o chefe da Casa Civil [Otomar Vivian], eu vi que começou uma correria. Me empurraram e daí o choque me deu com o cassetete na cabeça”, disse Helenir após o episódio, acrescentando que iria para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) para avaliar o ferimento. Ela ainda lamentou o episódio. “Alguém disse que deve ser alguém infiltrado, eu não sei o que aconteceu”.
Diversos educadores ficaram feridos pelos golpes e pelo gás de pimenta. O professor Rafael Quadros, de Porto Alegre e membro do comando de greve do Cpers, exibia dois cortes na cabeça e muito sangramento no rosto.
“A gente estava para ser recebido, para entregar um documento. Nós estamos aqui em 15 mil pessoas, num ato gigantesco e queríamos ser recebidos de uma forma digna pelo governo. O chefe de gabinete falou que ia receber o comando na porta do Piratini, e a gente dialogou que queria ser recebido dentro de uma forma digna. Nesse momento, a gente tentou entrar e fomos recebidos a pauladas. Eu recebi uma coronhada na cabeça, sangrou bastante. Outras professores do comando também foram agredidas”, denunciou.
“Enfim, apanhamos como marginais quando a gente só queria ser recebidos de uma forma digna por esse governo autoritário, que passa a ideia de que é democrático e não é, não quer dialogar, não dialogou em nenhum momento sobre esse projeto. Hoje fez sangrar trabalhadores, pessoas que dão a vida pela educação pública, e fomos recebidos de uma forma cretina. A gente queria dialogar, porque ele fala tanto que é aberto ao diálogo, quando ele tem a oportunidade de dialogar num ato que mostra a força da categoria, ele nos trata como se fôssemos bandidos”, disse.
Toda a confusão durou pouco minutos. Depois de a porta ser fechada, um grupo de manifestantes ainda tentou jogar objetos na direção da porta. Logo em seguida, um pelotão da tropa de choque da BM que estava nos arredores se posicionou diante do portão do Piratini e a direção do sindicato, do carro de som, pediu para que todo mundo se retirasse do local.
A situação então normalizou-se. Um ato unificado com outros sindicatos de servidores estaduais, federais e municipais, que estava marcado para as 16h, chegou a começar, mas foi interrompido por volta das 16h30 quando a chuva ameaçou cair sobre o Centro de Porto Alegre.
De acordo com o CPERS, pelo menos dez pessoas foram levadas ao HPS para receber atendimento, incluindo a presidente e outros dois integrantes da direção. O sindicato informou, por volta das 17h30, que Helenir já havia passado pela triagem e aguardava para realizar uma tomografia.
Fonte: CUT-RS com Sul 21