#AdiaEnem: “Protesto virtual incomoda porque eles governam pelas redes”, diz presidente da UNE

Nesta sexta (15), estudantes vão às redes sociais, terreno de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, para pressionar ministério da Educação a adiar a prova do Enem 2020 por conta da pandemia de coronavírus. Manutenção do calendário prejudica estudantes pobres

 

O movimento estudantil realiza nesta sexta-feira (15)uma manifestação virtual que não apenas se insere no contexto imediato, a pressão política pelo adiamento do Enem, como também no cenário de uma estratégia a médio prazo, que objetiva um desgaste sistemático do presidente Jair Bolsonaro e seu governo. Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), a petição #AdiaEnem já tem mais de 170 mil adesões.

Há exato um ano, mais de um milhão de pessoas foram às ruas protestar contra os ataques à educação promovidos pelo então iniciante governo Bolsonaro, no movimento conhecido como 15M.

“Embora a gente não possa estar na rua hoje, a internet é uma ferramenta importante na nossa pressão”, diz Iago Montalvão, presidente da UNE. Isso porque, em sua avaliação, a utilização das redes sociais como instrumento de pressão incomoda o governo Bolsonaro em um terreno em que ele se movimenta com habilidade. “Querendo ou não, eles se sentem afetados pelas manifestações virtuais. Principalmente porque governam pelas redes sociais.”

As entidades estudantis realizam na tarde de sexta um “tuitaço” a partir das 18 horas. A ideia é, desde a manhã, mobilizar estudantes e sociedade civil para que comentem a questão do Enem em todas as redes do Ministério da Educação (MEC).

Os ativistas prometem ainda publicar fotos com artistas, influenciadores e estudantes em todas as redes, “para mostrar a sociedade a importância do adiamento do Enem”, diz Montalvão, que afirma estar cumprindo quarentena. “Só saio para ir ao supermercado.”

Para a UNE, as pressões se mostraram eficazes no ano passado, como demonstrou o recuo do Executivo diante das enormes mobilizações contra o corte de 30% do orçamento federal na área da educação, especialmente a mobilização nacional de 15 de maio de 2019.

O bloqueio de 30% das verbas do orçamento para custeio das universidades federais (corte global de R$ 1,7 bilhão das instituições) foi o primeiro ato de “destaque” do atual ministro Abraham Weintraub, que em abril de 2019 substituiu o então titular do MEC Ricardo Vélez Rodríguez.

No ano passado, o Enem foi marcado por graves e inéditos erros na correção de cerca de 6 mil provas. As falhas no Sisu também foram motivos de protestos.

Para Montalvão, a pressão pelo adiamento do exame já dá sinais de que pode dar resultado. Ontem Bolsonaro admitiu a possibilidade de reavaliar o calendário do Enem.  “Estou conversando com o Weintraub. Se for o caso, atrasa um pouco, mas tem que ser aplicado esse ano”, disse o chefe do Executivo.

Na Justiça

O presidente da UNE menciona também o fato de o Tribunal de Contas da União (TCU) ter indicado que o adiamento do Enem é uma questão de bom senso. O ministro do órgão Augusto Nardes justificou, em despacho do dia 4, que a pandemia de coronavírus se reflete na educação e coloca em risco os fundamentos do exame.

No atual cenário, a realização das provas do Enem prejudica os estudantes com menor poder aquisitivo, e portanto menos capacidade de estudar pela internet.

A Secretaria de Controle Externo da Educação do TCU proferiu parecer favorável ao adiamento. Na segunda-feira (11), o TCU pediu ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova, que se manifeste em cinco dias sobre o tema.

Embora a UNE e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) tenham perdido ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) na qual pleiteavam o adiamento da prova, as entidades continuam a luta judicial. “Já entramos com mandado de segurança, dessa vez na Justiça Federal do Distrito Federal. Se for o caso, vamos também recorrer no STJ. Além disso, tem uma ação da Defensoria Pública da União em São Paulo que pode ser outro caminho”, diz Montalvão.

Impeachment?

Para ele, a questão do impeachment de Bolsonaro depende mais de estratégia política do que de vontade. “Nosso desejo é que Bolsonaro fosse retirado do poder, mas entendemos que o processo da luta é complexo e exige estratégia.”

Para o dirigente, pode não ser eficaz haver vários pedidos de impeachment ou que cada partido ou movimento protocole pedidos nesse sentido. “Precisamos criar mais desgaste e ganhar mais setores da sociedade. É fundamental acumular forças com outros movimentos, e depois, com uma ampla unidade, a gente entrar em conjunto com as entidades e partidos com um pedido de impeachment”, explica o dirigente. “Sozinhos não vamos entrar.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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