“O nosso Sindicato é referência aqui na região”, garante o diretor do STIMMMESL, Adão Silveira dos Santos 

Com 50 anos, Adão Silveira dos Santos tem uma longa trajetória. Metalúrgico da antiga Amadeo Rossi, trabalha atualmente na Taurus, há anos integra a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e a Comissão de Negociação de Participação nos Lucros e Resultado (PLR). Está iniciando o quinto mandato como dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL), desta vez como membro do Conselho Fiscal.  

Natural de Soledade, há 30 anos mora no bairro Feitoria, em São Leopoldo. Casado e pai de um casal de filhos, Adão é enfático ao afirmar que “o nosso Sindicato é referência aqui na região”. Na entrevista desta sexta-feira (6), ele fala sobre a importância da CIPA e da PLR, das reformas que retiraram direitos e dos desafios do movimento sindical 

Confira a íntegra da entrevista: 

 

Conte um pouco da sua história. Como entrou no movimento sindical? 

A minha história é longa. Estou há cinco mandatos aqui no Sindicato, dois do ex-presidente Jorge, dois do Valmir e iniciando o quinto agora. Trabalho há 35 anos, mais ou menos, comecei na antiga Amadeo Rossi, trabalhei seis anos, fui demitido, oito meses depois, quase um ano acabei voltando e entrei na CIPA para defender os trabalhadores. A cada dois anos fui me elegendo na CIPA sempre como o funcionário mais votado, na época a empresa tinha quase três mil trabalhadores. Então sempre fiz um trabalho de apoio com os companheiros e ali os patrões foram se levantando contra mim, hoje em dia eles não querem quem defenda o trabalhador, querem cipeiro que esteja do lado deles, que não bata de frente, quando tu bates de frente eles viram contra ti. Eles colocavam gente deles também, mas a peaozada votava sempre em mim e a minha vinda aqui para o Sindicato foi a partir disso. Uma vez o telefone tocou e era o presidente do Sindicato, o Loricardo na época, convidando para vir aqui que ele queria conversar comigo, acabei vindo e ele disse que as minhas eleições de cipeiro mais votado chegavam até o Sindicato, pois era protocolado, já era considerado um representante oficial. Aí que decidi compor a chapa do Sindicato, a partir disso, comecei a trabalhar pela CIPA e pelo Sindicato dentro da empresa.   

 

 

 

Você está iniciando mais um mandato como dirigente sindical, como está a expectativa? 

Estes últimos tempos, com essa conjuntura que temos no país, com esse governo… Os últimos quatro anos foi bem dificultoso. Mas agora vamos ver com as eleições, quem sabe um novo presidente, a expectativa é que melhore. Hoje está difícil defender a causa trabalhista, os direitos dos trabalhadores, eles vem te cobrar e aí, tu tem que cobrar, porém cobrar os patrões dentro da lei é muito fácil. Quero ver o cara ser sindicalista, ser dirigente e defender os trabalhadores fora da lei… Por isso, pode ser difícil esses quatro anos. 

 

Qual a importância da CIPA como forma de organizar os trabalhadores? 

A importância da CIPA dentro do local de trabalho é que ela é um fator fundamental para os trabalhadores. Tem aqueles cipeiros que querem a estabilidade para si e tem o cara que quer fazer o trabalho de cipeiro mesmo, da segurança de trabalho para si e para o em torno, para os colegas. Isso aí é um trabalho muito importante, muito relevante e ainda mais o cipeiro sendo um diretor sindical como eu sou. Eu nunca perdi na CIPA, sou um sindicalista cipeiro, então tenho que fazer os dois trabalhos dentro da fábrica. 

 

E da PLR como um programa de distribuição de renda entre os trabalhadores? 

Faço parte da comissão de PLR, também, há três anos e fui eleito por maioria, 278 votos consegui fazer. Os trabalhadores confiam no cara, no sindicalista, confiam no cipeiro e é onde eles votam. Acham importante, sempre cobram o cara que se elege, pois a PLR é uma renda extra. Como foi feito, na Taurus, um acordo ano passado de pagar uma parte em dezembro e o restante agora, mês passado. É muito importante isso, pois as pessoas trabalham e querem algum incentivo e a PLR é um incentivo para o final do ano e para sobrar um dinheirinho. O salário hoje não dá para nada, é água, luz e aluguel, para comprar alguma coisinha só com o 13º salário e PLR. O salário não tem mais poder de compra.  

 

Na tua opinião, falta consciência de classe para os trabalhadores?  

Falta. Não digo bastante… Mas a metade dos trabalhadores não tem consciência de classe. Essa consciência estão nos mais antigos, vejo ali dentro da empresa, quem tem consciência são ao mais antigos, os que estão há mais tempo no mercado de trabalho. Os novatos, que entram agora com 18, 19, 20 anos, entram para começo de mercado de trabalho e não tem consciência de classe, acham que vão conquistar o mundo, o salário deles, não tem medo de ninguém, não precisam de ninguém. Então consciência para eles, é apenas ao longo do tempo. 

 

Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência? 

As reformas que foram feitas é o desmonte da classe trabalhadora. E é um desmonte da Previdência Social também. Perdemos o que conquistamos há 20 anos atrás. Perdemos quase tudo o que tínhamos, foi pouco coisa o que eles não mexeram. E a reforma da Previdência, é praticamente trabalhar até morrer, não tem mais aposentadoria com 65 anos para homens e 62 para mulheres. Como vai ter serviço, qual a empresa que vai segurar um homem, uma mulher com mais de 60 anos com dor no ombro, nas costas, nos braços, em trabalhos que precisam de força e de esforço repetitivo? Essa pessoa, imagina, ficar desempregada com 50 anos? Onde trabalho, na Taurus, 50 anos não corresponde a 20% das pessoas, a maioria é bem mais jovem. Imagina onde essas pessoas vão trabalhar, terão que juntar latinha, cortar grama para poder chegar mais 15 anos até se aposentar. Então foi um desmonte para o trabalhador, pois o rico tem a previdência privada, quem precisa somos nós. 

 

 

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso? 

O movimento sindical, o movimento da luta precisa de um apoio geral e retornar uma ação com a CUT e os demais sindicatos para fazer um movimento grande para os trabalhadores voltarem a acreditar na luta de classe, que não é só os diretores que fazem, que eles precisam fazer também. Nos apoiar quando vamos fazer uma parada numa firma, porque hoje o patrão está olhando, não para mim que sou um líder, para os dirigentes… O patrão olha mais para os trabalhadores que estão a nossa volta, se eles estão acreditando em nós, aí o patrão tem medo. E não vai ter luta de classe se o pessoal não se movimentar e fazer a luta todo mundo unido. O patrão quer é o individualismo, chamar cada um para um canto.  

 

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período? 

É um pouco o que já falei agora, fazer um grande movimento com inteligência e sabedoria para conquistar o trabalhador para o nosso lado. Hoje, a classe trabalhadora está dividida, tem os antigos e os novatos e os novos são a maioria, nós estamos junto com os mais antigos, precisamos aumentar esse número e nos tornar maioria. O movimento sindical tem que ter 70, 80% dos trabalhadores do nosso lado para podermos fazer uma luta bem maior.  

 

E da indústria? Como gerar empregos? 

A indústria depende o movimento do país, do comércio, da economia, dos Estados Unidos, Europa, que é para onde as empresas daqui exportam. 

 

Como atrair mais sócios para o sindicato? 

Tem que usar uma estratégia agora, fazer mais campanhas de sócios. Nós já fizemos uma por ano, acho que teríamos que fazer mais duas por ano e ampliar a divulgar da sede, das piscinas, do salão de festas, distribuir mais brindes, camiseta, trazer uma coisa nova para o jovem e assim atrair mais sócios. Esclarecer também o que temos de direito, o que nos foi tirado e os diretores dentro da fábrica também tem que ir à luta para conseguir mais sócios. E não é só um, são todos.  

 

Gostaria de acrescentar alguma coisa? 

Hoje, o nosso Sindicato é um dos maiores e está crescendo cada vez mais, vejo muitos trabalhadores, até de outras categorias, falando que o único sindicato que representa o seu trabalhador é o STIMMMESL. O nosso Sindicato é referência aqui na região e até no mundo, nós somos privilegiados e a nossa categoria está crescendo, como agora vai vir um polo novo da Taurus, que vai gerar uns mil empregos, então nosso Sindicato vai crescer ainda mais. Vejo um bom desempenho no nosso Sindicato, então é atrair cada vez mais sócios e seguir o trabalho. 

 

 

Fonte: STIMMMESL 

Imagens: Israel Bento Gonçalves 

 

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