Compreender o processo de sindicalização é o nosso desafio em 2023
Confira o artigo de Paulo Chitolina
Há muito falamos em reuniões internas e grupos de formação de dirigentes sobre a importância da sindicalização. Tamanha relevância do tema levou a IndustriALL Brasil a executar em 2022 um curso com o objetivo de construir um plano estratégico para a Sindicalização, do qual a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT) esteve presente. Em artigo recente, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio também aponta uma reflexão pertinente sobre o tema ao falar da queda de trabalhadores e trabalhadoras sindicalizados nos países da OCDE [1], elencando como fatores “a globalização, as mudanças demográficas na força de trabalho, a desindustrialização e o encolhimento do setor manufatureiro, a queda dos empregos no setor público e a disseminação de formas flexíveis de contratos”.
No entanto, é preciso pensar o papel de cada instância do movimento sindical dentro do processo de sindicalização. Como presidente de um sindicato de base metalúrgico, acredito que o trabalho realizado com os trabalhadores e trabalhadoras coloca-se como o momento crucial, e para tanto, são indispensáveis o planejamento e a coordenação das ações, bem como que os diretores sindicais envolvidos na campanha tenham pleno conhecimento sobre o seu Sindicato, a estrutura oferecida, a Convenção Coletiva de Trabalho da categoria e os benefícios e vantagens da associação.
É importante mencionar que as formações promovidas pelas instâncias superiores do movimento sindical se ocupam em construir estratégias e abordagens, de forma a otimizar a ação da sindicalização. Porém, tornam-se ferramentas “inúteis” quando não há conhecimento suficiente sobre a própria base ou ausência de proximidade e trabalho sindical no dia a dia das empresas. Por isso, sucintamente, arrisco apontar alguns caminhos para avançarmos no desafio da sindicalização em 2023, a partir da campanha que empreendemos junto aos metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul.
A organização é fundamental para o êxito da ação. Neste sentido, iniciamos em julho de 2022 um processo de planejamento coletivo com os 40 diretores do Sindicato. A parceria com a formação da CUT-RS e da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS) auxiliou na definição de prazos, metas e de um calendário de visitas às fábricas.
Uma campanha que busque ampliar e diversificar os sentidos da sindicalização é o caminho. Com base em reflexões mais recentes sobre o papel do Sindicato de base no cotidiano dos trabalhadores [2], construímos um slogan e uma identidade para a campanha que buscasse acolher os trabalhadores, afirmando que estamos “Juntos, no trabalho e na vida”.
Movimentar as redes sociais e canais de comunicação é envolver os trabalhadores na campanha. Por isso, coletivamente e antecipadamente discutimos as nossas estratégias de comunicação, que foram ativadas desde o evento de lançamento da campanha até a cobertura completa de ação nas fábricas. O movimento de publicação nas redes sociais e demais canais de comunicação (listas de transmissão no whatsapp, jornais impressos e site) mostrou-se expressivo no período da campanha, revelando uma crescente no envolvimento dos trabalhadores/as com o Sindicato.
O resultado em três meses de campanha é a adesão de mais de 670 trabalhadores e trabalhadoras à luta sindical em nossa base. Para além disso, algumas constatações chamaram a nossa atenção durante a ação sindical. A primeira, sem dúvida, foi desmistificar a ideia de que o trabalhador “não gosta” do Sindicato. A recepção em todas as empresas foi satisfatória e evidenciada nos números da sindicalização. A abordagem durante a entrada ou saída dos turnos, de forma específica em uma campanha de sindicalização, foi um momento rico para o esclarecimento das dúvidas. Para muitos trabalhadores, a presença do Sindicato na porta da empresa bastou para se sindicalizar.
Na mesma linha, percebemos a existências de muitas dúvidas a respeito do Sindicato, desde a lógica de operação das negociações até a gama de serviços e benefícios que são oferecidos pela entidade. Muitos trabalhadores relataram não ter conhecimento sobre a organização dos empresários também em sindicatos, questão que abre possibilidades de discussão junto com as categorias sobre a importância e os sentidos de se organizar para fortalecer e avançar.
De modo geral, podemos afirmar que o êxito de nossa campanha foi o envolvimento dos trabalhadores e a presença do Sindicato nos locais de trabalho, com diretores dispostos a conversar com a categoria. Certamente é preciso melhorar, principalmente no que se refere à capacidade de conscientização da classe frente ao avanço de uma ideologia neoliberal que rompe com os sentidos de solidariedade e coletividade, além da necessidade de encontrarmos caminhos para acolher trabalhadores e trabalhadoras que atuam de forma terceirizada e/ou temporária dentro das empresas. Porém, em um cenário de profunda precarização da classe trabalhadora, o acolhimento e a escuta são ações políticas indispensáveis, capazes de aglutinar as categorias na luta sindical e, por que não, de construir um horizonte de maior autonomia financeira às entidades. Este deve ser o trabalho dos sindicalistas de base em 2023 e o desafio a ser superado.
Referências
[1]https://blogdoclementelucio.blogspot.com/2022/12/sindicalizacao-em-queda-nos-paises-da.html
[2]https://www.cut.org.br/noticias/sindicatos-precisam-ouvir-e-acolher-o-trabalhador-aponta-marcio-pochmann-5c13
Paulo Chitolina é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita/RS e também integra a direção da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTM-RS)
Fonte: CNM/CUT
Imagem: Pixabay