Conferência de Mulheres: ainda existem muitos obstáculos na luta por espaço
Na noite desta quarta-feira (3), foi realizada a terceira conferência temática rumo ao 11º Congresso da CNM/CUT “Reconstruir o Brasil de forma sustentável e humanizada com trabalho decente, soberania, renda e direitos”. Os debates foram conduzidos pelo coletivo de Mulheres da entidade e trabalhadoras e trabalhadores metalúrgicos do país, que conversaram sobre os desafios na luta por igualdade de gênero dentro do local de trabalho, na estrutura sindical e também na sociedade.
A secretária de Mulheres da CNM/CUT, Marli Melo do Nascimento, parabenizou as palestrantes do encontro e reforçou que a luta das mulheres por espaços dentro da sociedade e do universo do trabalho é constante e com muitos obstáculos. “Temos uma sociedade machista, patriarcal, somos as primeiras a serem demitidas em caso de uma greve, por exemplo, e na pandemia vimos isso ser mais claro, quando as empresas demitiram primeiro as mulheres”, enumera a dirigente.
Marli pontuou que as mulheres ainda não conquistaram o espaço devido dentro das estruturas de poder das entidades sindicais, mesmo se preparando para isso. Reforçou também que a luta contra o assédio moral e sexual dentro do local de trabalho é diária.
Foram chamadas para palestrar na conferência a representante da Federação Sindical Global IndustriALL do Escritório Regional para América Latina e Caribe, Laura Carter, e a professora e pesquisadora do Instituto de Economia da Unicamp, Marilane Teixeira.
Perspectiva das lutas mundiais
Laura Carter avalia que os sindicatos e os movimentos sindicais são as melhores ferramentas para atender as lutas intersetoriais dos trabalhadores no mundo. Para ela, nem todos os sindicatos são progressistas no mundo. Laura recordou que muitos trabalhadores no país votaram em Bolsonaro nas últimas eleições e desconfiam da atuação dos sindicatos e que é preciso trabalhar para conquistá-los.
A representante da IndustriALL destacou que as mulheres estão conduzindo lutas importantes de resistência política pelo mundo, como a luta das trabalhadoras em Myanmar, Estados Unidos, Inglaterra e Índia.
Porém, mesmo demonstrando disposição de luta, as mulheres, segundo a sindicalista, ainda enfrentam, na grande maioria do planeta, sindicatos baseados em estruturas patriarcais, que acabam servindo apenas para manutenção de poder de que já está no poder e não para construção de consensos com todos os espectros da sociedade.
Para mudar essa realidade é preciso incorporar uma perspectiva de gênero nos sindicatos, indo além das ideias do papel e focando na mudança de atitude. Laura reforçou que é preciso tornar as mulheres visíveis em todos os aspectos do trabalho.
Desigualdades estruturais
Marilane Teixeira falou como as desigualdades que estão presentes na sociedade se refletem no espaço de trabalho e avalia que o horizonte de luta do movimento sindical e social é mudar essa sociedade. Para a pesquisadora, a vitória do presidente Lula abre uma nova perspectiva na busca por mudanças estruturais e mostra que a sociedade ainda busca um processo de transformação.
Um dos desafios mostrados pela palestrante é a busca por políticas públicas voltadas para o cuidado, políticas essas que permitiram o emprego de mais mulheres. Hoje existiriam cerca de 43 milhões de mulheres fora da força de trabalho no Brasil por falta de políticas públicas para o cuidado. Marilane ressaltou que o governo Lula está se empenhando nesse sentido ao fazer um grupo de trabalho para montar uma política nacional de cuidados para as mulheres e também ao anunciar o Projeto de Lei que prevê a igualdade salarial entre homens e mulheres. O texto do PL foi aprovado pelo Congresso Nacional na manhã desta quinta-feira (4).
A pesquisadora criticou a falta de renovação de novas lideranças e a ocupação de espaços por mulheres e jovens no movimento sindical. Ela parabenizou a CNM/CUT por valorizar a organização no local de trabalho como forma de construir as relações com os trabalhadores, enxergando nisso uma forma de valorizar o trabalho de base sindical, o que, em outros espaços, é visto com punição e redução de poder.
Por fim, ela destacou que é necessário que as mulheres sindicalistas conversem com o movimento feminista, para troca de ideias e incorporação de pautas de ambos os lados, reafirmou a importância da negociação coletiva e da luta pela redução de jornada de trabalho como forma de organizar a vivência em sociedade sob outra perspectiva.
Aumentar contratação
Ao final da Conferência, o secretário-geral da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, afirmou que a entidade possui um desafio importante para aumentar a contratação de mulheres, com salário melhor e condições melhores de trabalho, pensando também na diversidade no local do trabalho.
Já o presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, o Paulão, alertou que a chegada da Indústria 4.0 abre novos desafios para os trabalhadores e que as mulheres podem ser as mais prejudicadas se não houver uma transição justa na indústria, e que é preciso pensar em reindustrialização no país, mas sem prejudicar os trabalhadores/as.
A secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT, Christiane Aparecida dos Santos, disse que é importante o movimento sindical contribuir para pensar estratégias para aumentar também a contratação de mulheres que sofrem violência doméstica.
Fonte: CNM/CUT
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