Juros precisam baixar pela metade para o país crescer, dizem economistas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta terça (1º/08) e quarta (2) para definir a taxa de juros, a Selic, que hoje está em 13,75%. A expectativa do mercado financeiro é que o corte seja de 0,25%; os mais otimistas projetam um corte de meio por cento.
Se o corte for mantido nesses patamares mais uma vez o BC estará impedindo a retomada do crescimento econômico do Brasil, segundo os economistas Ladislau Dowbor, professor da PUC de São Paulo e Marcelo Manzano, da Unicamp.
Para Dowbor uma taxa razoável seria de 5% a 6%, menos da metade da atual, o que daria em termos de juros reais 1,5% de lucro, já descontada a inflação, como é praticada em países da Europa e os Estados Unidos.
“Os rentistas, que são uma minoria, ganham aqui no Brasil 8,5% de juros sem fazerem nada, sem produzir nada. É um escândalo”, diz Dowbor.
O economista Marcelo Manzano concorda que os juros estão muito altos e que um corte maior na Selic seria o ideal, mas ele entende que um juro real de 3% a 5% seria um patamar razoável.
“Os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico que reúne 38 países de economias mais avançadas] trabalham com juros mais baixos, mas infelizmente temos uma moeda menos valorizada, e isso obriga o país a trabalhar com um juro maior. Se baixar demais pode ocorrer a fuga de capital financeiro, pois seria mais confortável para os investidores manter o dinheiro no exterior. Ainda assim, a atual taxa praticada pelo BC é desproporcional”, afirma Manzano.
O economista da Unicamp conta que os mercados são todos interconectados e, por isso é preciso manter uma certa margem de segurança para evitar que qualquer solanco na economia mundial, como ocorreu em 2008, façam os investidores brasileiros e estrangeiros preferirem comprar títulos em outros países, gerando uma fuga de capitais.
Ele acrescenta que os juros estão subindo nos Estados Unidos, Japão e Europa, mas as economias desses países estão crescendo pressionando os preços para cima, o que é muito diferente do Brasil onde a inflação está caindo e a economia retraída.
“Para quem precisa investir na produção, comprar equipamentos e gerar empregos ao buscar empréstimos fica inviável, e os pequenos comerciantes que precisam de capital de giro e buscam empréstimos mensais pagam juros absurdos”, diz o economista da Unicamp.
A justificativa para a atual taxa de juros neste patamar nada tem a ver com o controle da inflação. É, na verdade, esfriar a economia porque ninguém está consumindo. O interesse é o pagamento de títulos da dívida pública com juros altos, com risco zero, avalia o economista Dowbor.
“A última vez que o país cresceu efetivamente foi 3% em 2013. No ano passado houve uma recuperação da economia pós pandemia, mas recuperação não é crescimento”, diz Dowbor.
Segundo ele, o juro médio pago pelas famílias brasileiras está bem acima da Selic, chegando a 55,8% ao ano, enquanto nos países da OCDE fica em 4% a 5%. Para as empresas os juros chegam a 23,1%.
“Não há quem aguente esses juros elevados. Uma economia muito parada drena recursos públicos em favor de grupos econômicos que enriquecem por simples transferência de lucro”, diz.
Ele conta que o Brasil tem uma dívida pública de R$ 7,5 trilhões e 82% deste valor vêm de juros sobre juros pagos pelo Brasil. O país não se endividou fazendo obras ou gastando. Os donos de todo esse dinheiro são essencialmente bancos e grupos financeiros como o BlackRock – fundo que Campos Neto disse que poderia gerenciar as reservas nacionais de R$ 380 bilhões.
“Manter os juros neste patamar faz com que eles ganhem cada vez. É dinheiro dos nossos impostos, que em vez de financiar educação, saúde e infraestrutura, é apenas lucro líquido para uma minoria”, critica o economista da PUC.
Para ele se a taxa for reduzida em apenas 0,25% mostra a força dos grandes bancos, sistemas de fundos que paralisam a economia e vão tirando enquanto podem.
“Os rentistas pegam empréstimos no Japão a 2% e investem em títulos do governo brasileiro e saem com um lucro de 8,5%, drenando a riqueza do nosso país. Numa economia sem industrialização e frágil como está a do Brasil no momento, manter a taxa de juros para proteger o país da inflação é uma narrativa sem vergonha”, conclui Dowbor.
A posição da CUT sobre a taxa de juros
A CUT e demais centrais defendem além de um corte maior na taxa de juros que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, seja demitido do cargo. Após a independência do banco no ano passado, somente o Senado pode tirá-lo da presidência.
Para as entidades sindicais Campos Neto deliberadamente prejudica o Brasil ao fazer oposição ao governo Lula, a partir de uma instituição essencial para o crescimento econômico sustentável do país, com geração de emprego e renda.
Fonte: CUT Nacional
Foto: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL – ARQUIVO