CUT-RS alerta para riscos do acordo Mercosul-União Europeia ao mundo do trabalho
A CUT-RS participou, nos dias 10 e 11 de setembro, do seminário “O Mundo do Trabalho e o Acordo Mercosul-União Europeia”, realizado na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu (PR). O evento, promovido pela Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), reuniu trabalhadores, empregadores e representantes de governos para debater os impactos do acordo sobre a integração regional, a economia e os direitos trabalhistas.
Durante a atividade, o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, destacou que o Mercosul, desde sua criação, enfrenta dificuldades de integração, especialmente na área aduaneira e trabalhista. Para ele, o acordo firmado com a União Europeia pode aprofundar desigualdades e trazer sérias consequências para os trabalhadores.
“O próprio Mercosul ainda não corresponde ao que deveria ser, e já temos obstáculos importantes, como os problemas na integração aduaneira e a falta de diálogo no campo trabalhista. O acordo com a União Europeia, da forma como está posto, nos coloca numa relação desigual: nós oferecemos produtos primários, como carne, grãos e minérios, enquanto eles entram com tecnologia, veículos, produtos farmacêuticos e serviços”, alertou Amarildo.
Segundo o dirigente, essa lógica ameaça transformar o Brasil e os demais países do bloco em meros exportadores de commodities, o que enfraquece a indústria regional e coloca em risco milhares de empregos. “Estamos preocupados porque o acordo pode gerar desemprego no Mercosul. Precisamos discutir com os trabalhadores e também com os sindicatos europeus como buscar maior equidade nessas relações, sem cair numa visão neocolonialista”, acrescentou.
Críticas e necessidade de revisão
Amarildo ressaltou ainda que a conjuntura internacional mudou desde a assinatura do texto original, o que torna necessária uma revisão profunda. Ele citou as tarifas impostas pelos Estados Unidos e o novo interesse da Europa no Mercosul como fatores que abrem espaço para renegociar os termos.
“Queremos participar de um acordo que leve em conta direitos, garantias e limites claros para não gerar impactos negativos na economia e no mundo do trabalho. É preciso ajustar, mediar e mitigar riscos, caso contrário estaremos abrindo nossas portas de forma desproporcional”, avaliou.
Ao final do seminário, está prevista a elaboração de uma carta conjunta do movimento sindical, reunindo centrais de todos os países do bloco, como a CUT, a CTA do Uruguai e do Paraguai, entre outras. O objetivo é apresentar uma posição unificada diante das negociações.
Perspectiva sindical
Para o secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT e secretário-geral da CCSCS, Quintino Severo, o seminário representou um passo importante na construção de alternativas. “Apesar da revisão em 2023, seguimos sem garantias de que o acordo trará benefícios reais para os trabalhadores. Nosso desafio é ampliar mercados sem reduzir o Mercosul à exportação de produtos primários, mas preservando empregos e fortalecendo a indústria”, afirmou.
Luta por integração com justiça social
A CUT-RS reafirmou, em Foz do Iguaçu, que a integração regional deve ser pautada pela defesa da soberania, da indústria e dos empregos, e não por uma abertura comercial que privilegie o capital estrangeiro em detrimento dos trabalhadores da América Latina.
“Queremos um acordo que promova equidade, desenvolvimento sustentável e justiça social. O mundo do trabalho precisa ser ouvido e respeitado nesse processo”, concluiu Amarildo.
Fonte: CUT-RS
Foto: Reprodução