“O Sindicato é a voz dos trabalhadores”, afirma o diretor do STIMMMESL, Alexandre da Rocha

Gremista, fã de música, formado em letras Inglês, tatuado, com piercings, marido da Bruna e pai do Raul, de 5 anos. Assim é Alexandre Rosa da Rocha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STMMMESL). Aos 39 anos, ele está finalizando seu primeiro mandato da direção da entidade, fala dos desafios dessa tarefa e de uma certeza: “O Sindicato é a voz dos trabalhadores”.

Na entrevista desta sexta-feira (15), Alexandre também destaca a importância da formação para o dirigente sindical e do diálogo para construir uma entidade forte. “Tem que ir conversando… O trabalhador, a trabalhadora tem que entender que há todo um processo por trás de um acordo coletivo, uma negociação”.

 Confira a íntegra da entrevista:

Conte um pouco da sua história? Como entrou no movimento sindical? 

Me chamo Alexandre, tenho 39 anos, sou casado com a Bruna e tenho um filho de 5 anos, o Raul. Faz 20 anos que trabalho como metalúrgico, comecei na Gerdau em 2001, mas terceirizado, lá fiquei quase três anos. Depois trabalhei cerca de três meses na Taurus e logo a Gedore me chamou e é onde trabalho há 17 anos. O movimento sindical entrou meio de repente, por volta de 2016 comecei a pensar nisso, tinha o Zé Galo que era diretor e trabalhava no mesmo setor que eu, ele já sabia que sairia da direção e queriam substituir, fiquei interessado, um dia vim conversar com o Valmir sobre a possibilidade de entrar na chapa. Aí aconteceu, em 2018. Já vinha uns dois anos antes me preparando, participando mais das coisas do Sindicato e já era sócio desde 2005.

Você está no primeiro mandato como diretor do sindicato. Como está sendo a experiência? 

Muito boa, muito rica. Aprendi bastante com as formações que participei e fiz bastante formação. Quase todas que apareceram, eu fiz. Tive a oportunidade de estudar, principalmente a questão histórica. Acho que a formação foi o que mais aproveitei, que me agregou para estar lá na fábrica e saber conversar com os trabalhadores e trabalhadoras, com o pessoal do Recursos Humanos (RH) também, questões de negociações. Então para mim, foi muito bom.

E qual foi o maior desafio que enfrentou neste período? 

Acho que o desafio foi no começo, quando iniciei na direção, a gente estava sofrendo muito ataque, principalmente nas redes sociais. Então, para mim foi um desafio lidar com a crítica. Às vezes a gente acha que vai começar e todo mundo vai estar do teu lado e não é assim. Vai ter que lidar com a crítica, vai ter que saber como conversar com as pessoas, tu já está noutra posição. Na medida que tu vira um dirigente sindical, se torna uma pessoa pública na tua empresa, as pessoas te olham de outra maneira, tu tem que lidar com as emoções.

Na tua opinião, como o movimento sindical pode se aproximar do jovem?  

Acho que a partir da inovação. O Sindicato tem que abrir mais os espaços, inclusive para a comunidade, não só na categoria, mas para comunidade. Abrir um espaço cultural, participar de eventos, abrir a estrutura do Sindicato para que alguém possa desenvolver feiras, evento cultural para o povo participar, acho que assim se consegue se aproximar do jovem. Acho que as redes sociais também é um caminho, a linguagem para se aproximar do jovem.

Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência? 

Neste período foi difícil, tudo aquilo estava acontecendo e parecia que os trabalhadores não estavam acreditando. Então hoje, passados cinco anos que eles estão vendo, que está caindo a ficha do trabalhador. Finalmente, entendem o movimento que estava sendo feito naquela época contra a reforma trabalhista e depois a reforma da previdência que muitos achavam que não era tudo aquilo. Agora, o trabalhador está indo se aposentar e os advogados falam que terá que trabalhar mais tantos anos. É triste isso, na época que o Sindicato fazia o movimento, eu não participava da direção, mas estava na fábrica e muitos trabalhadores falavam que era politicagem e agora estão vendo, que só estamos perdendo, muitos perguntam se dá para reverter a situação. E não é tão fácil assim.

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso? 

Eu acho que tem que ser com o diálogo. Uma coisa que tem dado certo, ao menos, onde trabalho, é o diálogo, não adianta. Tem que ir conversando… O trabalhador, a trabalhadora tem que entender que há todo um processo por trás de um acordo coletivo, uma negociação. Chegar só com resultados para eles, não adianta, tem que explicar, é quase um processo de formação. Acho que parte disso, do diálogo, é interessante porque fazer o acordo coletivo na época e explicar é assim, é por causa disso e voltar também a fatos históricos. Também temos que manter o trabalhador informado com tudo que acontece na política, sempre com diálogo na categoria. Porque se deixar só na época da campanha salarial passa batido, as pessoas pensam que tem que ganhar o dissídio, o reajuste porque é lei e tem que explicar que não é lei. E isso, esse diálogo, tem que ser constante e diário.

Não só aqui, mas em diversas entidades, é alto o número de oposição. Não tua opinião, falta consciência de classe para os trabalhadores? 

Ah falta. É um dos principais fatores, que ligo com a pergunta anterior, tem que estar sempre explicando. As pessoas já vem, acho que é cultural, a questão de consciência de classe, pois muitos acham que tem um emprego e por isso tem que se submeter a muita coisa, a empresa me dá um convênio, me dá não sei o que… E não entende o seu papel na sociedade, o quanto está se submetendo naquele emprego. Por isso, também, temos que estar sempre conversando, os trabalhadores acham que tudo acontece porque é lei, por isso a importância das formações, para dizer qual é o papel do trabalhador na sociedade. Não é só ir trabalhar e gerar lucro para a empresa, tem que pensar na qualidade de vida, não achar que aquilo ali é o que serve para a tua vida. Não quero saber de nada, não quero saber de política, só quero saber se vou fazer meu rancho, pagar a conta de luz, que a gasolina baixe, acham que isso é o suficiente, mas há muita coisa por trás. Isso que as vezes acaba fazendo com que as pessoas se distanciem do Sindicato. As pessoas não querem saber sua posição na sociedade.

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período? 

O desafio é continuar se mantendo. Um primeiro passo já foi depois da reforma trabalhista, que achavam que os sindicatos iam acabar e muito pelo contrário, continuam fortes e atuantes. Continuamos dialogando, fazendo as nossas atividades. O desafio maior, eu acho, é continuar mobilizando a categoria com tantas perdas que estamos tendo, é fazer o trabalhador acreditar no Sindicato com todas essas perdas que ele está tendo, saber a importância que tem ele ser sócio, participar para tornar cada vez mais o Sindicato forte para ter a contrapartida, primeiro a voz. O Sindicato é a voz dos trabalhadores. Então o desafio é esse, fazer o trabalhador entender o contexto e que vir para dentro do Sindicato. Dá para mudar isso, tudo que fizeram para os trabalhadores e com a aposentadoria? Dá, mas temos que ser fortes e ter a nossa representatividade para mudar.

E da indústria? Como gerar empregos? 

Indústria é complicado, aqui em São Leopoldo até que dá para dizer que tem uma realidade meio a parte, porque gera bastante emprego. Embora, temos que ver o tipo de vagas que está gerando. Tem emprego, mas já não paga mais insalubridade, geralmente ganha apenas o piso. Temos que ver o tipo de vaga, pois tem que gerar emprego de qualidade. A indústria passa muito pelo governo, por isso está meio desacreditada, o governo só pensa em agronegócio e agronegócio não traz muitos benefícios. Ele bomba, exporta, mas tem 14 milhões de desempregados e pagamos tudo mais caro, além de não empregar tanto como a indústria. Então, está bom pra quem? A parcela de quem está lucrando é bem menor. Então tem que ter um programa de retomada da indústria para poder gerar emprego, incentivar o produto nacional, girar essa indústria. Porque do jeito que está é uma parcelinha de gente lucrando e resto do povo correndo atrás, sem grana, com dificuldades.

Como atrair mais sócios para o sindicato? 

Sempre digo e retomando, é com diálogo e transparência. Tem que ser um Sindicato transparente, a pessoa que está na fábrica tem que saber o que o Sindicato faz. Por exemplo, hoje não estou trabalhando na fábrica estou aqui, tem que explicar o porquê. Outra coisa que eu faço, que gosto, é aquele sócio que tu conquista, não aquele sócio de momento. Lá na fábrica eu gosto de ir conversando aos pouquinhos com as pessoas, porque na hora que trazer aquele sócio, traz o  trabalhador ou a trabalhadora fechada com o Sindicato. Conversar aos poucos, porque não te associais, conhece o Sindicato, outro dia a pessoa te pergunta algo… Ter esse tipo de diálogo, explicar. Aí acontece algo mais pontual com aquele trabalhador e tu mostra que o Sindicato acompanha toda a situação. Gosto de associar assim, claro que tem campanha de sindicalização ou alguém te procura querendo ser sócio, mas eu gosto com diálogo e transparência e quando vê a pessoa está até falando para outras do Sindicato. É a pessoa que vai defender a entidade. Por isso, que a formação é o caminho para o dirigente sindical.

Fonte: STIMMMESL

Iamgens: Israel Bento Gonçalves

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