Ato em Porto Alegre denuncia que PM e Forças Armadas servem a um governo moribundo

Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo participaram do ato

 

A CUT-RS, centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo condenaram, durante ato realizado no início da noite desta quarta-feira (24), em Porto Alegre, o aparato militar utilizado para reprimir os mais de 200 mil manifestantes que participaram da marcha em Brasília contra as reformas da Previdência e trabalhista, em defesa da renúncia do presidente ilegítimo Michel Temer (PMDB) e da realização de Diretas Já.

 

A condenação se estendeu às Forças Armadas que foram chamadas por Temer para cercar o Congresso Nacional e a Esplanada dos Ministérios na tarde desta quarta. Em nota, as organizações que integram as duas frentes afirmaram que as Forças Armadas “rebaixaram seu papel para servir a um governo moribundo”.

 

Uma das coordenadoras do ato foi a secretária de Finanças da CUT-RS e representante da Frente Brasil Popular, Vitalina Gonçalves. Ela declarou que “o Brasil está em luta hoje porque não vamos aceitar o golpe dentro do golpe”.

 

Desde as 15h já havia uma concentração no local, uma vigília pela democracia. Por volta das 18h começou o ato. Os músicos Mari Martinez, Lucas Hanke e Nino foram encarregados da apresentação cultural e de animar os presentes antes das falas de representantes das centrais, movimentos sociais e partidos políticos.

 

 

Na concentração do ato, praticamente todas as atenções estavam voltadas para os acontecimentos da tarde em Brasília. Como estão as coisas? Notícias sobre feridos? É verdade que Aécio foi preso? – essas eram algumas das perguntas que se ouviam no local.

 

Enquanto as pessoas iam chegando para a manifestação, representantes de entidades e movimentos sociais, que integram a Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, se alternavam em manifestações em um caminhão de som, falando sobre os últimos acontecimentos e apontando os desafios colocados para o futuro próximo.

 

Trabalhadores não aceitam indiretas

“Hoje é um histórico para o país. A classe trabalhadora está de parabéns pelo enfrentamento que fez em Brasília”, disse o vice-presidente da CUT-RS, Marizar de Melo. Ele repudiou Temer e as suas reformas. “As mudanças na Previdência e na CLT representam um retrocesso para a nação brasileira. Não há saída que não seja as eleições diretas com a escolha do povo”, defendeu Marizar.

 

A dirigente da Intersindical, Neiva Lazzarotto, lembrou os milhares de companheiros gaúchos que lotaram ônibus e viajaram por 36 horas até Brasília. “Porque o povo vai para as ruas derrubar esse golpista”, declarou.

 

O dirigente da CTB, Vitor Espinoza, disse que a luta da classe trabalhadora é necessária, pois o Congresso não pode eleger um presidente, pois já mostrou sua incapacidade. “Por isso, vamos combater esse governo antidemocrático e golpista. Vamos exigir diretas já!”

 

 

Congresso enlameado pela corrupção

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Edegar Pretto (PT), esteve no local para levar sua solidariedade aos manifestantes. Ele destacou o caráter de resistência da manifestação e defendeu o afastamento de Michel Temer, a convocação de eleições diretas e a interrupção da votação das reformas da Previdência e Trabalhista no Congresso Nacional.

 

Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina, Cedenir de Oliveira defendeu que não há outra saída para a crise a não ser a realização de eleições diretas. “Esse Congresso, que está enlameado pela corrupção, não tem a mínima condição de oferecer uma saída para a crise política”, afirmou.

 

Na mesma linha, o ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, criticou os ensaios que começam a ser feitos em Brasília para a substituição de Temer pela via de uma eleição indireta no Congresso. “Qualquer saída indireta representará uma traição ao povo brasileiro”, resumiu Pont.

 

A deputada estadual Manuela D’Avila representou o PCdoB e lembrou que os que estavam na Esquina Democrática eram as “mesmas mulheres e homens que há um ano estavam aqui denunciando o golpe e que agora denunciamos as reformas dessa gente, que querem ver grávidas em ambiente insalubre, que querem acabar com a aposentadoria”. Para a parlamentar, o fato de o Temer ter colocado o exército nas ruas em Brasília significa “um primeiro e perigosíssimo passo a uma ditadura. Mais do que nunca precisamos deixar claro que queremos votar para presidente”.

 

O deputado estadual e representante do PSOL, Pedro Ruas, lembrou que a batalha contra o Temer é a mesma contra o Sartori e o Marchezan. “É uma luta de classe, é o enfrentamento ao neoliberalismo”, disse.

 

Já o dirigente do PSTU, Júlio Flores, disse que o dia de hoje demonstra a profunda luta de classes que o país vive.  “Hoje tivemos um grande enfrentamento ao capital”, definiu ele ao garantir que em breve a classe trabalhadora fará uma nova greve geral.

 

Concluindo as manifestações, o presidente do PT-RS e prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, salientou que os trabalhadores que se manifestaram hoje são “os construtores do país, enquanto a burguesia brasileira quer aniquilar os trabalhadores”. Para ele, o que aconteceu em Brasília deixa claro que “nós não vamos permitir” esse desmonte e, por isso, “queremos eleições diretas já”, defendeu.

 

Unidade do campo e da cidade

O estudante David Almansa, que se manifestou em nome da UNE, acredita que o governo ilegítimo colocou o exército para bater em estudantes e trabalhadores porque “negamos o projeto deles por quatro vezes”. Segundo ele, “a UNE está mobilizando os jovens e os estudantes brasileiros para restabelecer a democracia, pois o verde amarelo é nosso”.

 

Falando em nome dos movimentos urbanos da Frente Brasil Popular, Suelen Gonçalves afirmou que a unidade construída hoje, com o “ocupa lá e ocupa aqui é para enfrentar esse governo ilegítimo, pois sabemos que neste governo golpista não tem espaço para as nossas pautas”.

 

Por volta das 19 horas, a manifestação ganhou o reforço de um grupo de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que tinham se concentrado na Faculdade de Direito. As faixas e cartazes pediam o afastamento imediato de Temer da Presidência da República e a realização de Diretas Já, como forma para o país superar a crise política que atravessa.

 

 

O ato foi encerrado com a leitura da nota das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo em repúdio à repressão sofrida pelos trabalhadores à tarde na capital federal.

 

Caminhada com outra dinâmica

Cerca de meia hora depois, os manifestantes iniciaram a caminhada subindo a Borges de Medeiros. Desta vez, porém, ao contrário de atos anteriores, que seguiram pela Borges rumo ao Zumbi dos Palmares, a caminhada dobrou à esquerda na Salgado Filho, provocando um pequeno alvoroço entre um destacamento da Brigada Militar que acompanhava o início da manifestação.

 

A caminhada, que reuniu milhares de pessoas, seguiu pela Salgado Filho em direção à João Pessoa, acompanhada de perto por um helicóptero da Brigada Militar. A ausência do caminhão de som, que acompanhou as últimas manifestações, deu outra dinâmica à caminhada, animada por vários grupos de percussão que embalaram os cânticos e gritos, pedindo Fora Temer e Diretas Já. Ao longo da João Pessoa, várias pessoas manifestaram apoio das janelas e sacadas de seus apartamentos, piscando as luzes ou acenando bandeiras improvisadas com panos e toalhas.

 

Um pouco antes do cruzamento da João Pessoa com a Venâncio Aires ocorreu o momento de maior tensão da caminhada. A Brigada Militar postou um pequeno exército no Parque da Redenção, com pelotões do Batalhão de Choque, acompanhados por cães, viaturas e o recém adquirido “caveirão”, uma viatura anti-distúrbios que ficou na esquina da José Bonifácio com a João Pessoa, quase em frente à antiga sede do PMDB, aguardando a passagem dos manifestantes.

 

A caminhada pegou a Venâncio Aires e foi obrigada a entrar na Lima e Silva, pois uma nova barreira do choque da Brigada estava postada na quadra seguinte. A marcha seguiu pela Lima e Silva até a Perimetral e chegou ao fim no Largo Zumbi dos Palmares, sem qualquer incidente. Mesmo com a dispersão da caminhada, o helicóptero da Brigada Militar seguiu circulando a área e sobrevoando os manifestantes à baixa altitude.

 

Como no início, as conversas finais tiveram Brasília como centro das atenções. A entrada das Forças Armadas nas manifestações de rua sinalizou o ingresso em um novo período. Em resposta à disposição do governo Temer de aprovar as reformas da Previdência e Trabalhista a qualquer custo, manifestantes sinalizavam que a forma de luta para enfrentar à crescente repressão que acompanha essa tentativa pode ser uma greve geral por tempo indeterminado no país.

 

Fonte: CUT-RS com Sul 21

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