Frente Brasil Popular divulga calendário de protestos contra desmandos de Bolsonaro
A CUT, movimentos sociais e entidades que compõem a Frente Brasil Popular (FBP) se reuniram em São Paulo, na manhã desta segunda-feira (2), para debater a estratégia de enfrentamento aos ataques do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) contra os trabalhadores e as trabalhadoras e os brasileiros mais pobres.
Na reunião, realizada na sede da CUT, ficou definido um calendário de lutas, que começa no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, segue no dia 14 com protestos exigindo justiça pela morte de Marielle Franco, vereadora do Psol assassinada no Rio de Janeiro em 2018, e no dia 18, com o Dia de Mobilização em Defesa da Educação e da Democracia, que está sendo organizado por todas as centrais sindicais.
Consenso entre as entidades, a defesa da democracia será pauta principal das mobilizações. A secretária de Mobilização e Relação com os Movimentos Sociais, Janeslei Albuquerque, explica que as entidades somarão forças num “grito único das ruas”, contra o governo Bolsonaro.
“Nosso foco é de que só podemos ter luta num contexto de democracia. Fora disso é opressão, totalitarismo e negação o direito à liberdade e à vida das pessoas”.
Por isso, as entidades definiram que o eixo principal de todas as mobilizações deve ser dar um “basta ao governo Bolsonaro”, que conforme lembra Janeslei, é “um governo que joga direitos no lixo, cospe na cultura brasileira, destrói a economia em favor do sistema financeiro e tem profundo desprezo pelos pobres, além de abusar de mentiras para ludibriar o povo brasileiro.”
Motivos e desafios
Bolsonaro cumpriu o objetivo de preparar um terreno favorável para sua reeleição em 2022. Essa é a análise de Valter Sorrentino, secretário de Relações Internacionais do PCdoB. Ele afirma que o projeto passa da destruição das políticas sociais que protegem os mais pobres ao terror ideológico que tem como instrumento principal as redes sociais e que, de acordo com ele, propiciam o cenário de caos visto hoje no Brasil.
“É uma contrarrevolução econômica que acompanha uma realidade mundial de avanço do conservadorismo que favorece o setor produtivo e isso impacta nos mais pobres e nas nações em desenvolvimento”, afirmou Sorrentino.
As redes sociais, ele diz, colocaram a luta de classes em um novo patamar. Se antes havia a disputa ideológica, por canais de informação, agora a “guerra” é feita por algoritmos, que são sistemas que captam todas as informações de usuários das redes, de forma a direcionar informação – falsa ou verdadeira – e assim, facilitar a manipulação dos cidadãos.
Em uma linguagem simples, o algoritmo direciona ao indivíduo, tudo aquilo que, com base em seu perfil, ele provavelmente esteja mais receptivo a ver, ferindo a forma democrática de informação, em que os dois lados da questão são apresentados e assim, o usuário tem a chance de formar sua própria opinião.
Sorrentino vê a necessidade de uma estratégia que passa pela criação de uma agência de notícias do campo democrático que possa ter um alcance maior sobre todos os brasileiros, para que a disputa ideológica seja mais justa.
O mundo brasileiro
A realidade mundial, de avanço do conservadorismo social e econômico, encarnada no Brasil pelo governo Bolsonaro, gera “uma asfixia econômica e uma crise de democracia que dá origem ao autoritarismo”, afirma Valter Sorrentino.
“Hoje, a emoção domina a razão e a tendência não é que se ache o meio termo para a sociedade, mas sim a polarização”, diz o dirigente sobre a democracia ser afetada pela forma de Bolsonaro governar o país. Ele complementa: “nossa sociedade está cada vez mais fragmentada e isso impacta diretamente na representação e defesa dos direitos”.
Como caminho para enfrentar esse autoritarismo, ele destaca que as disputas devem ter como eixo principal a defesa da “democracia”. Bolsonaro ataca abertamente as instituições brasileiras como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Para ele, forçar um embate, ou seja, “mudar a percepção dos brasileiros sobre o que representam as instituições é uma forma de isolar e barrar o avanço fascista de Bolsonaro”.
A deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, concorda com a análise sobre a estratégia de Bolsonaro. Para ela, o ‘capitão’ é eficaz em manipular a opinião pública e depois “surfar na onda de descontentamento do povo brasileiro sobre o Congresso”.
“Os partidos de oposição vão traçar estratégias para defender os valores democráticos e das instituições que não têm defesa intransigente da população. Há pesquisas que mostram que a visão do povo brasileiro é crítica sobre esses valores e Bolsonaro surfa nessa onda, usando as instituições para fazer o que ele quer”, afirma a parlamentar.
Ela considera que a convocação para as manifestações contra o Congresso e contra o Supremo Tribunal Federal, feita por Bolsonaro em vídeo compartilhado em sua própria de WhatsApp, nada mais é do que “o modo de operar as coisas com a lógica de abafar pautas mais importantes, ou que ataquem eles ou que eles queiram que aconteçam”. Por isso, ela diz, Bolsonaro “cria esses fatos”.
Exemplo é o resultado econômico da política do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, que já apresenta retração na previsão do Produto Interno Bruto (PIB) que já baixou de 25% para 1,5% em 2020. “Além disso, o dólar bate recordes e a bolsa está em queda”, completa Gleisi Hoffman.
A deputada avalia que, para além do eixo da democracia, a Frente Brasil Popular deve manter e reforçar em sua luta pautas como a saúde, a educação e outras políticas sociais que afetam diretamente os mais pobres. “São causas fundamentais e para diálogo que podemos fazer com o povo que vai ser disputado pela bandeira do autoritarismo”, afirma.
Ela explica que o objetivo principal do governo é implementar o projeto ultra neoliberal e isso só é possível atacando a democracia. “Esse projeto lida com direitos das pessoas. Por isso, espaços democráticos têm que ser eliminados e Bolsonaro cumpre esse papel”.
Na avaliação de Mônica Valente, secretária de Relações Internacionais do PT, Bolsonaro usa o discurso de que, para melhorar o Brasil, ele precisa enfrentar o Congresso com um discurso ‘antissistema’.
Para ela, “é necessário mostrar e fazer a disputa política na sociedade contra o modelo econômico implementado e contra essa face autoritária de Bolsonaro”.
Mônica diz ainda que a Frente Brasil Popular deve reforçar debates nas eleições municipais de 2020. “Temos que jogar peso nessas eleições porque há uma sede de participação política de setores como a juventude e a partir dos municípios é possível avançar na disputa política na sociedade”.
Calendário de lutas
Março:
5 a 14: Jornada de luta das mulheres
08/03: Dia Internacional das Mulheres
14/03: dois anos do assassinato de Marielle Franco
18/03: Dia Nacional de Mobilização em defesa da Educação e da Democracia
Maio:
1°/05: Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras com atos unificados das centrais sindicais
Fonte: CUT Nacional