“A formação de dirigentes sindicais é um desafio constante”, diz o ex-diretor do STIMMMESL, Ademir Maia Coito

Por 12 anos, o advogado Ademir Maia Coito foi diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL), de 2006 até 2018. “O que mais marcou não foi evento ou fato, mas a repetição de eventos e fatos: a dificuldade de convencer os trabalhadores e trabalhadoras da importância de uma convenção coletiva e de um acordo coletivo todos os anos”, recorda.

Hoje, com 47 anos, ele mora em Esteio, é casado com a Aline há 23 anos e é pai de duas filhas, Laura de 3 anos e Sophia, de 15. Nesta entrevista de sexta-feira (3), Ademir lembra a sua trajetória, fala da importância do movimento sindical, da atual conjuntura de desmonte de direitos e da necessidade de formação de dirigentes sindicais. “Tendo em vista que a tecnologia e o mundo do trabalho transformam-se no tempo e no espaço e, as relações de forças e de representatividade, também.”

Confira a íntegra da entrevista:

 

Conte um pouco da sua história. Como entrou no movimento sindical?

A minha jornada começou no STIMMMESL no ano de 2006 e fiquei até 2018. Fui convidado por um dirigente sindical e eu, sem muita orientação, aceitei o desafio. Também atuei como secretário de Imprensa e Divulgação da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTM-RS), de 2012 a 2015.

 

 

O que mais te marcou no período como dirigente sindical?

Difícil de responder com uma única resposta, mas vou dinamizar. O que mais marcou não foi evento ou fato, mas a repetição de eventos e fatos: a dificuldade de convencer os trabalhadores e trabalhadoras da importância de uma convenção coletiva e de um acordo coletivo todos os anos, o último, quando necessário renovar por fábrica. Que há um sindicato patronal forte e organizado, que, ainda que forte e organizado, também está submisso e sujeito as normas, leis, convenções e acordos coletivos. Que uma convenção coletiva ou acordo coletivo, o primeiro depende da concordância entre os dois sindicatos representativos, o sindicato dos trabalhadores e o sindicato das empresas/empresários para só assim virar uma Convenção Coletiva de Trabalho e fazer lei entre as partes.

 

Muitos diretores entram no movimento sindical após serem cipeiros ou negociadores de PLR. Qual a importância dessas ferramentas, tanto para os trabalhadores, como para os sindicatos?

São duas comissões de representação, uma de segurança e saúde e outra econômica, ambas com grande relevância, importância e fortalecimento na segurança e ganhos econômicos dos trabalhadores e trabalhadoras. Para os sindicatos, representa o fortalecimento nas relações de confiança e de trocas de experiências, trabalhadores mais confiantes e determinados.

 

Você se formou em direito. Como é olhar para o desmonte da CLT como advogado?

Infelizmente, a reforma trabalhista não foi nada boa para os trabalhadores. O trabalhador reconhecidamente como vulnerável frente a um CNPJ (empresa/empresário), com a reforma trabalhista ficou mais fragilizado nas relações de emprego.

 

Qual a tua avaliação dos ataques que a classe trabalhadora tem sofrido desde o golpe de 2016. Como as reformas trabalhistas e da previdência?

É visível o empobrecimento dos brasileiros. A constatação de desemprego e crescente vulnerabilidade social, salários baixos e subempregos ofertados como oportunidades.

 

 

Na tua opinião, qual a importância dos sindicatos na vida dos trabalhadores?

É importantíssimo. Sabemos que há uma representação sindical patronal fortíssima. Nada mais justo que um Sindicato de trabalhadores forte e de alto nível para dar equilíbrio nas relações de representatividade frente ao poder econômico.

 

O movimento sindical, como um todo, está muito desacreditado. Como reverter isso?

Acredito que investindo no conhecimento e fazendo com que esse chegue aos trabalhadores e trabalhadoras, de forma objetiva e construtiva, preconizados pelos limites legais e pela relação ético-respeitosa.

 

Na tua opinião, qual o principal desafio do movimento sindical no próximo período?

A formação de dirigentes sindicais é um desafio constante, tendo em vista que a tecnologia e o mundo do trabalho transformam-se no tempo e no espaço e, as relações de forças e de representatividade, também.

 

O que você diria para um trabalhador entrar para o movimento sindical?

A busca pela qualificação e o conhecimento é muito importante, trilhar o caminho da ética e do pensamento coletivo é fundamental para um caminhar representativo e digno.

 

 

Como o sindicato pode atrair mais sócios?

Não há uma receita mágica, há gerações, frutos de suas épocas, vários pensamentos na categoria… Portanto, os dirigentes devem ser sempre atualizados em matéria de direitos e deveres dos trabalhadores, detentores da informação rápida e transformadora. A receita mais eficaz ainda é ser dinâmico e plural, que acolhe, convence e direciona a melhor saída para uma dúvida ou dificuldade.

 

Fonte: STIMMMESL

Imagens: Israel Bento Gonçalves (STIMMMESL)

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