Saúde mental do trabalhador depende da articulação entre sindicatos e poder público

Para preservar e cuidar da saúde mental do trabalhador e da trabalhadora é preciso normatizar o que é o adoecimento psíquico, por meio de pesquisas e convenções, criar um robusto sistema de notificação dos casos, vigilância social e sindical que garanta as investigações dos casos, e ainda e vigilância de saúde nos espaços de trabalho articulada com a rede de atenção básica da saúde pública. Isso foi o que a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT Nacional, Madalena Margarida da Silva , defendeu no “Fórum Sofrimental Mental e Suicídio Relacionados ao Trabalho”, organizado pela Universidade de Campinas (Unicamp) e a Rede Margarida,  da qual a CUT  é membro.

“A atuação sindical por melhores condições de trabalho é fundamental neste momento. Estamos vendo um grande número de sindicatos se interessando pelo tema da saúde mental e de como está a vida do trabalhador no contexto mais geral, e sabemos da relevância do tema”, afirma Madalena.

O evento debateu os contextos que estão levando o adoecimento do trabalhador, entendendo que a depressão não é um sintoma isolado de cada um, mas um problema que atravessa toda a sociedade e todas as dimensões da vida.

Quando ouvir pode salvar 

A secretária da  Mulher Trabalhadora  da CUT Nacional, Juneia Batista, também esteve no debate e afirmou que os relatos de assédio moral e sexual – um dos fatores que leva ao adoecimento psíquico das mulheres, senão são novos, continuam sendo estarrecedores.

“É urgente que nossas ações contemplem mais espaços de escuta. Sabemos que nas categorias onde isso já existe, como nos bancários, o acolhimento está mais presente. Recentemente conseguimos intervir no caso de uma guarda municipal que estava em um situação de estresse e medo muito intensos em função de assédio no ambiente de trabalho, mas isso só foi possível quando damos espaço para que esses casos venham à tona. Para que as mulheres falem sobre suas angustias”, defende Juneia.

Menos metas, mais saúde 

O adoecimento do trabalhador causado por metas abusivas é central na ação do movimento sindical bancário. Em números totais, de 2012 a 2021, 42.138 bancários receberam o benefício acidentário pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em razão de doenças e acidentes relacionados ao trabalho. No mesmo período, 156.670 outros trabalhadores da categoria tiveram reconhecido o afastamento por doença comum.

A partir de 2013, transtornos mentais e comportamentais passaram a ser a principal causa de afastamento. Se considerarmos todas as categorias, de 2012 a 2021, transtornos mentais foram responsáveis por 5% dos afastamentos por acidentes de trabalho, e 10% dos afastamentos por doenças comuns. Entre os bancários esse número é muito maior.

No mesmo período, no setor econômico que inclui bancos e financeiras, os transtornos mentais representam 39% dos afastamentos por acidentes e doenças do trabalho e 29% dos afastamentos não reconhecidos como acidente ou doença do trabalho.

Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho – uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Para o secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mauro Salles, “os números mostram que, mesmo subnotificadas e não reconhecidas como tais, as doenças do trabalho que acometem os bancários são um alarmante sinal de um sistema de organização do trabalho que adoece muito mais que outras categorias”.

Por isso, com a ideia de promover a conscientização a respeito desse quadro e intensificar a luta por melhores condições de trabalho dentro da categoria, a Contraf-CUT está promovendo a campanha “Menos Metas, Mais Saúde”.

“A conscientização sobre os efeitos negativos das metas abusivas é o primeiro passo para garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores do ramo financeiro. Nossa missão é construir um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado, onde as metas não sejam prejudiciais à saúde dos profissionais”, afirma Salles.

 

Fonte: CUT Nacional

Foto: AGÊNCIA BRASIL /ARQUIVO

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