Trabalhadores rejeitam jornada exaustiva e exigem melhores salários

O cenário de pleno emprego no Brasil, combinado com a saída de milhões de jovens do mercado de trabalho, está mudando o perfil da relação entre trabalhadores e empregadores. O resultado é um “apagão de mão de obra” na indústria, mas que, na verdade, revela um recado claro da classe trabalhadora: é preciso valorizar o tempo de vida, melhorar salários e romper com jornadas exaustivas como a escala 6×1.

Pesquisas recentes mostram que cada vez mais brasileiros estão rejeitando as condições tradicionais de emprego com carteira assinada, principalmente pela rigidez da jornada e pela falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Segundo levantamento do Datafolha, divulgado em junho, 59% da população adulta no país hoje prefere trabalhar por conta própria, enquanto apenas 39% consideram melhor ter um emprego formal.

Essa tendência reflete exatamente as bandeiras levantadas pela CUT-RS na campanha “A vida não tem hora extra”, que defende a redução da jornada de trabalho, o fim da escala 6×1 e a valorização dos salários.

Tempo de vida virou prioridade

De acordo com o Datafolha, aumentou de 21% para 31%, desde 2022, o número de pessoas que consideram mais importante ganhar mais, mesmo sem registro formal. Ao mesmo tempo, caiu de 77% para 67% o percentual que ainda valoriza a carteira assinada mesmo com salário menor. Os dados reforçam o diagnóstico: o trabalhador quer tempo de vida e remuneração justa.

Outro levantamento, feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), aponta que 20,5% das indústrias paulistas não conseguiram preencher vagas abertas no primeiro trimestre deste ano. Além disso, 77% das empresas classificaram o processo de contratação como difícil ou muito difícil.

A explicação vai além da falta de qualificação: é a insatisfação com o modelo atual de emprego. Segundo o Instituto Locomotiva, 63% dos trabalhadores ouvidos afirmam que o emprego formal oferece pouca flexibilidade para conciliar vida pessoal e profissional. Isso impacta diretamente a atração de mão de obra, especialmente entre os jovens.

Fim da jornada 6×1 e salários dignos

Para a CUT-RS, os dados são mais uma evidência de que é urgente avançar na luta pelo fim da jornada 6×1 e pela redução da carga horária semanal sem redução de salário. “A classe trabalhadora está dizendo em alto e bom som: não queremos mais viver para trabalhar. Queremos trabalhar para viver, com tempo para a família, estudo, saúde e lazer”, destaca Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS.

O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, reforça esse argumento ao afirmar que o “tempo” virou o principal ativo para os trabalhadores. “Quando se assina a carteira, vem junto a jornada 6×1, com horários rígidos, e isso tem gerado insatisfação”, afirma.

O aumento das oportunidades em aplicativos de transporte, entregas e vendas online, com maior flexibilidade de horário, vem acelerando essa mudança cultural. “As pessoas preferem formas de trabalho que permitam conciliar renda e qualidade de vida. O tempo virou um bem precioso”, analisa Meirelles.

Para a CUT-RS, o momento exige uma resposta firme por parte dos empregadores e do Estado: é preciso melhorar salários, oferecer jornadas mais humanas e criar políticas de emprego que respeitem o tempo de vida das pessoas.

O próprio mercado já começa a sentir a pressão. “A lei da oferta e da procura também vale para o trabalho. Se querem contratar, terão que pagar melhor e acabar com jornadas abusivas. A escala 6×1 não faz sentido numa sociedade que valoriza o tempo e a qualidade de vida”, reforça Amarildo.

A luta por salários dignos e pela redução da jornada segue como prioridade para o movimento sindical. “A vida não tem hora extra, e os trabalhadores não vão aceitar voltar ao tempo da exploração desenfreada”, conclui o presidente da CUT-RS.

Fonte: CUT Nacional com informações do Jornal Folha de São Paulo

Foto: Divulgação

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