Trigo já subiu 46,2% no mundo e até preço do pão francês pode disparar. Veja por que

O pão francês, um dos produtos mais consumidos pelos brasileiros, que já estava registrando seguidas altas porque a plantação de trigo foi afetada pela seca em algumas regiões do país e enchentes em outras, deverá ficar mais caro nos próximos meses por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia. E não é só o pãozinho nosso de cada dia que terá preços reajustados, vários alimentos têm trigo na composição e vão subir também, entre eles o óleo de soja.

O motivo é que os dois países do leste europeu, juntos, são os maiores produtores de trigo, responsáveis por 29% do consumo mundial e o conflito afeta não só a produção, mas toda a logística de exportação. Portos estão fechados, o transporte está parado e, somado a isso, há sanções econômicas contra a Rússia. Com todos esses fatores, a demanda supera a oferta em escala global e, conforme as leis de mercado, quando isso acontece, o primeiro impacto é um aumento no preço de produtos.

Desde o início do conflito, o trigo já subiu 46,25% no mercado global. Os efeitos desses aumentos serão sentidos por aqui quando a indústria da alimentação tiver de comprar as novas safras, inclusive do percentual de produção brasileira, já que os preços acompanham as cotações internacionais. Com o real desvalorizado em relação ao dólar, há um efeito ainda maior.

Além da guerra, no Brasil, as intempéries climáticas – calor intenso e ausência de chuvas – no último ano e o aumento do custo de energia elétrica, também usada na produção do trigo, causaram impacto nos preços do trigo produzido aqui.

De acordo com informações de um estudo publicado pelo Banco do Nordeste, o Brasil era o 16° produtor mundial de trigo em 2021, com importações superiores às exportações, ou seja, mais compramos do que vendemos trigo no mercado mundial. A produção brasileira foi de 6,2 milhões de toneladas, o que representa 54% do consumo nacional. O restante, 46%, vem de outros países.

“O aumento ainda não chegou, mas vai chegar e isso deverá se refletir já na próxima pesquisa sobre a cesta básica”, afirma a técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ela explica ainda que o impacto do conflito que envolve também sanções econômicas à Rússia será sentido pelo mundo todo.

“No Brasil, um dos produtos mais consumidos é o pão francês. É um alimento que não falta na mesa da grande maioria dos brasileiros. Mas não é só ele. Uma grande parte do que consumimos tem trigo em sua composição. Por isso, as famílias brasileiras, principalmente as mais pobres vão sentir um grande impacto no orçamento que já sofre com os altos preços da energia elétrica, do gás de cozinha e dos outros alimentos”, diz Patrícia.

De acordo com dados do Dieese, no período de 12 meses (fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022), a média do aumento do pão francês, nas 17 regiões onde a pesquisa da Cesta Básica é realizada, foi de 9,23%.  A maior alta foi em Curitiba (PR), onde o aumento foi de 16,12%. Patrícia afirma que ainda que não seja um grande aumento se comparado a outros produtos, como café que somente no ano de 2021 aumentou 130%, a soma dos aumentos causa impacto significativo no orçamento.

Mas se o Brasil produz, por que importa trigo?

“O Brasil produz trigo, mas ainda é dependente da importação”, diz a técnica do Dieese, explicando que a produção no país se concentra na região Sul, por causa do clima mais temperado – condição climática propícia para o plantio do cereal. Os principais fornecedores do grão ao Brasil são os Estados Unidos, o Paraguai, o Uruguai e o Canadá.

“Nós comemos muitas coisas que levam o trigo em sua composição. Não é só pão francês. O trigo está presente em alimentos que talvez nem imaginemos. Faz parte, fundamentalmente da alimentação do brasileiro mais pobre e representa cerca de 30% das calorias diárias ingeridas”, ela diz. (Veja abaixo alguns produtos que levam trigo)

Em entrevista à IstoÈ , o analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Álvaro Augusto Dessa explicou que os estados do Paraná e Rio Grande do Sul produzem 85% do total nacional, mas apesar disso, no ano passado, foram exportados dois milhões de toneladas porque sai mais barato importar o produto. O motivo, segundo ele, é o custo com transporte do trigo para outras regiões como o Norte e Nordeste.

No entanto, ele lembra que o Brasil não compra trigo da Rússia há dois anos, portanto o que encarecerá o preço no Brasil nos próximos meses será o preço internacional, majorado pela crise no leste europeu que afeta o abastecimento e, como já citado, a chamada lei da oferta e da procura encarece os preços.

 

O que poderia ser feito para evitar mais esse peso no orçamento do brasileiro?

“Há um projeto da Embrapa para que seja feita a ‘tropicalização’ da produção do trigo, mas é um projeto a longo prazo. Deve demorar de cinco a dez anos. Mas, em termos de políticas públicas, o que poderia ser feito é o Governo Federal promover um subsidio à importação para que o preço seja mais barato”, diz Patrícia Costa, do Dieese.

Ela reforça que assim como outras commodities, como o petróleo, o trigo atrelado ao mercado internacional, “então qualquer mudança lá fora, o preço sobe aqui também”.

Mas ela reforça como solução politicas pontuais no sentido de proteger o consumidor, “o que é difícil com o governo Bolsonaro que não tem prioridade para controlar os preços para a população de baixa renda”.

Aliado a isso, a crise causada pela pandemia do novo coronavírus e a política econômica do governo de Jair Bolsonaro (PL), que entre outras consequências têm causado altos índices de inflação, aumento de preços e carestia contribuem para o cenário previsto para os próximos meses em relação ao preço do trigo.

O trigo na alimentação do brasileiro

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO),o trigo seja é o segundo alimento mais consumido no mundo. No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é de que o trigo faça parte do grupo dos alimentos energéticos que devem ser consumidos em maior quantidade (de 6 a 11 porções por dia, dependendo da idade e do estado de saúde de cada pessoa). No dia a dia dos brasileiros ele é o ingrediente principal de pães, massas, bolos, biscoitos, pizzas, mas também está “escondido” em vários outros produtos. Alguns deles são:

  • Sorvetes
  • Chocolates
  • Sopas
  • Carnes processadas (como o hambúrguer)
  • Presunto
  • Molhos
  • Comidas industrializadas
  • E …na cerveja

 

Fonte: CUT Nacional

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