Vou lutar com todas as forças para manter o marco da democracia, diz Dilma

Presidenta recebeu apoio de artistas, intelectuais, políticos e de diversos movimentos sociais que condenam o impeachment, no Palácio do Planalto

                                 

Um dia após milhares de pessoas saírem às ruas do país contra o golpe, a presidenta Dilma Rousseff fez um duro discurso, no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (17), contra aqueles que querem encurtar o seu mandato e afirmou que lutará com todas as forças para manter o 'marco' da democracia.

 

“Eles (os golpistas) dizem que o impeachment está na Constituição, é verdade. O impeachment é uma previsão da Constituição Federal, porém, não há em nenhum lugar da Constituição que diz que é por divergência política ou por discordância de programa de governo. Todas as questões do impeachment são caracterizadas como crime de responsabilidade ou contra crime de coisa pública (corrupção), e em nenhum desses dois casos eu me enquadro. Tentaram, tentam e tentarão, mas não acharão uma vírgula contra mim”, afirmou a presidenta.

 

Dilma reiterou ainda que é preciso fortalecer a democracia brasileira e agradeceu ao apoio dos movimentos sociais de esquerda que foram às ruas nesta quarta-feira (16) em defesa do seu mandato. “Por isso eu não tenho menor constrangimento de pedir o apoio de vocês, mesmo diante das divergências. Certamente, apesar de sermos diversos, temos em comum uma posição do que queremos neste País. Nós, da minha geração, que participou da luta contra a ditadura, sabemos o valor da democracia na vida diária. Mas, também, sabemos que a democracia é através do processo de escolha”.

 

O encontro contou com a presença de representantes do movimento sindical, como a CUT, além de intelectuais, artistas, políticos, economistas, representantes dos movimentos estudantil, rurais, negro, urbano e LGBT.

 

Em sua fala, a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, reforçou que a Central não abrirá mão de fazer lutas e criticas ao governo. Entretanto, não permitirá qualquer retrocesso na democracia. “Reforçamos as nossas críticas à economia, que afeta apenas uma parte da sociedade. A CUT tem apresentado uma proposta para enfrentar a crise econômica, mas vamos defender a democracia que está em jogo”, disse.

 

Carmen destacou ainda que o governo precisa derrubar de vez a terceirização e a lei antiterrorismo, que retira os direitos dos movimentos sociais de ir às ruas. Dilma concordou com seu discurso: “Eu considero que todas essas leis (terceirização, maioridade penal e antiterrorismo) têm um caráter de extremamente regressivo no Brasil. Temos que olhar com cuidado essa lei antirrorista", reafirmou a presidenta.

 

O teólogo Leonardo Boff, que estava no encontro, levou um manifesto com mais de 800 assinaturas de intelectuais que defendem o mandato da presidenta. Boff afirmou que atrás desse processo (impeachment) há uma onda de revanchismo daqueles que perderam as eleições de 2014. “É um espírito de vingança de pessoas perversas que está República produziu que não tem nenhum sentimento de ética, e são eles que estão promovendo o impeachment. Mas vamos lutar contra isso, apoiar a democracia e essas conquistas que foram trazidas com suor, sangue e tortura”.

 

O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, afirmou que o encontro era espaço de diálogo entre os movimentos sociais e o governo contra o golpe, mas, também, contra a atual política econômica, que tem gerado desemprego. “O que nos une nessa frente é que todos nós somos a favor da democracia e contra golpe e contra esse procedimento de impeachment. Mas ao mesmo tempo não podemos admitir que o parlamento seja ainda dominado por personagens como Eduardo Cunha e, por isso, adotamos a bandeira do “Fora, Cunha”. E somos defensores de todos os direitos dos trabalhadores e nos insurgiremos contra qualquer medida que possa afetar esses direitos e advogamos por mudanças na política econômica”, realçou Stedile.

 

Para o economista Marcio Pochmann, a situação na qual o Brasil passa não pode ser comparada com outros momentos de dificuldade. “As famílias, as empresas e o governo não podem continuar submetidos à lógica do mercado financeiro, do mercado especulativo. O País precisa olhar para o médio e longo prazo na concepção de construir, portanto, um plano trienal para inclusão social e crescimento econômico sustentável", disse.

 

O cineasta Luiz Carlos Barreto leu um manifesto durante o evento em defesa democracia e rechaçando o impeachment. "Nós que vivemos direto ou indiretamente sob o regime da ditadura militar, que sofremos censura, restrições e várias formas de opressão para restabelecer o Estado de Direito, não aceitaremos qualquer retrocesso nas conquistas históricas”.

 

Fonte: CUT Nacional

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