Governo quer fechar estatal e entregar a trilionário dos EUA fabricação de chips

O convite do ministro das Comunicações, Fabio Faria, ao homem mais rico da história moderna, o trilionário norte-americano, Elon Musk, com uma fortuna calculada em R$ 1,7 trilhão, para que construa uma fábrica de semicondutores no Brasi , causou revolta no país.

Trabalhadores e trabalhadoras do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) foram às redes sociais para defender a manutenção da única estatal do país e da América Latina, que produz chips, mas que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) quer fechar.

Os ex-ministros dos governos do PT Miguel Rossetto e Ricardo Berzoini, que acompanharam a instalação da Ceitec, classificaram a proposta de fechar a fábrica de chips, como escandalosa, ilegal e estúpida, até por que a instalação de outra fábrica aqui demoraria anos e aprofundaria a dependência do Brasil no setor de semicondutores.

A Associação dos Colaboradores da Ceitec (ACCEITEC) publicou nas redes sociais  um post dizendo:“Montar uma fábrica de #chip não é bem assim, sem uma contrapartida como fizeram a Índia. Montar aqui no Brasil para atender exclusivamente a produção da Tesla, recebendo todo os subsídios fiscais e usando nossa mão-de-obra barata”.

Para os ex-ministros Miguel Rossetto e Ricardo Berzoini, dos governos Lula e Dilma Rousseff, que agora acompanham os desdobramentos do possível fechamento da estatal, o problema não é convidar um empresário a abrir uma empresa aqui, e sim querer fechar a única que temos, com a desculpa de que não dá retorno financeiro. E isso no momento em que o produto está em falta em todo o mundo e países como Estados Unidos e China investem pesado para aumentar a produção.

“Pode abrir, mas não precisa fechar outra. O objetivo da Ceitec é acumular conhecimento, e isso se faz com investimento pesado, as máquinas de circuitos integrados são caríssimas, e quem fabrica é a Holanda. Nós precisamos aprender e isso leva tempo, investimento, e capital humano. Fechar a Ceitec é fazer com quem os cérebros saiam do país”, diz Ricardo Berzoini, ex-ministro do Trabalho e Previdência do governo Lula e das Comunicações do governo Dilma, ao explicar que sem empresas aqui na produção de chips, os cientistas brasileiros irão buscar empregos fora do país.

Miguel Rossetto também defende novos investimentos no setor de semicondutores.

“Outros investimentos são importantes e bem-vindos, mas o Brasil precisa de mais investimentos públicos e privados na ciência para reduzir a sua dependência. Hoje tem uma crise global, pela interrupção da fabricação de chips, por causa da pandemia. É mais uma demonstração da necessidade de rompermos essa dependência produtiva e tecnológica. É inaceitável a liquidação da Ceitec”, afirma Rossetto.

Segundo ele, a Ceitec pública faz  parte de um projeto de microeletrônica nacional, que começou a ser construído em 2000, mas só foi impulsionado por Lula e Dilma. A estatal começou a operar em fase preparatória em 2005 e só foi constituída oficialmente em  2008, mas a conclusão de todo o processo foi em 2017.

“É muito pouco tempo para dar lucro. O governo brasileiro investe apenas R$ 80 milhões ao ano. Não é nada se comparado a outros países do mundo,  como a China, Estados Unidos, Alemanha, Coréia do Sul  e Taiwan, que investem bilhões de dólares para serem independentes em tecnologia”, diz Rosseto.

Ele, que foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, no governo Dilma, acrescenta ainda que “diante da situação de crise de abastecimento de semicondutores, a Ceitec tem  todas as condições deixar de ser dependente do governo. Quando uma empresa começa entrar no azul, o governo vem e destrói, não  é nem privatizar, é liquidar”.

Para Rossetto, a  microeletrônica e seus componentes são parte decisiva da grande economia do século 21, da  inteligência das coisas , a inteligência artificial e o 5G, que têm como base os semicondutores.

“O Brasil não pode abrir mão da capacidade tecnológica desses componentes. isto é decisivo para uma política industrial moderna e sustentável e para gerar empregos qualificados e diminuir a enorme dependência por importação. É preciso impulsionar a pesquisa, a ciência e nossa capacidade de fabricação”, diz o ex-ministro.

“É vital para o Brasil romper essa dependência produtiva e tecnológica. A China deixou de ser somente exportadora de arroz, mas se dependesse do ministério da  Economia, o Brasil será apenas um grande exportador de soja “, acrescenta o ex-ministro.

A possibilidade do fechamento da Ceitec  foi criticada pelo ex-presidente Lula, durante sua passagem pela França, quando falou no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), pela comemoração de 10 anos do seu título de Doutor Honoris Causa da Sciences. Para Lula é importante que o Brasil e a América Latina possam se reindustrializar e vender produtos com valor agregado, e não ser apenas ser um exportador de matérias-primas e commodities.

“Nós na América do Sul e na América Latina queremos nos desenvolver do ponto de vista industrial, então é importante que a gente possa se industrializar para exportar produtos manufaturados, de maior valor agregado”, disse Lula, que criou a Ceitec em sua gestão.

Confira a fala de Lula no vídeo

A liquidação da Ceitec

O Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu o leilão da Ceitec no último mês de setembro e pediu ao Ministério da Economia, esclarecimentos sobre a liquidação da empresa, já que, segundo os ministros da Corte, ficou configurado os imensos prejuízos para o país.

Segundo Rossetto, a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, que vem debatendo o assunto, também entende que a liquidação da Ceitec é um desastre para o Brasil.

“A posição do ministro da Economia é  estúpida, é a destruição da indústria brasileira, como se um país sobrevivesse de soja, ferro e shopping center”, afirma.

O ex-ministro Ricardo Berzoini concorda que a liquidação da Ceitec é uma estupidez do governo Bolsonaro, que não enxerga a importância da empresa para diminuir a dependência da importação de chips.

Segundo ele, o trilionário Elon Musk tem sua fábrica em Taiwan, pela tecnologia que eles produzem, direcionada a aeronaves e até objetivos militares. Diferente da Ceitec que produz chips para outras finalidades, consideradas mais simples, mas não menos importantes.

“Não se instala uma fábrica que produz semicondutores de um dia para outro. Se ele resolver colocar uma fábrica no Brasil vai precisar de profissionais. Aqui está faltando chip até para carros. Estou até com saudades do meu Chevette 74, que andava bem e não tinha chip”, ironizou Berzoini.

Sobre a Ceitec

Em defesa da empresa, a Associação dos Colaboradores da Ceitec, lançou comunicado sobre a sua produção. Segundo a ACCEITEC, ela possui 46 patentes concebidas no Brasil e no exterior. Foram cerca de 105 milhões de chips já produzidos pela empresa; realizados aproximadamente 34 milhões de encapsulamentos de chips e fabricados 3,1 milhões de Tags, etiquetas e Inlays.

A empresa também desenvolve produtos de qualidade que estão certificados  junto a importantes órgãos internacionais. A certificação COMMON CRITERIA (obtida para o chip do passaporte), conferida a menos de 10 empresas desse setor no mundo, é a mais relevante entre todas já obtidas.

Produtos, Serviços e Negócios

Identificação Veicular, segmento que inclui uso de RFID passivo para identificação automática de veículos, para diversos fins, como, por exemplo, pagamento de pedágios;

Rastreio e Identificação, segmento que inclui produtos para os segmentos de logística, controle de ativos e TAGS especiais;

Agronegócio, segmento que inclui produtos para as áreas de pecuária e agricultura;

Identificação Pessoal, segmento que inclui produtos para uso em documentos de identificação e bilhetagem;

Serviços, segmento que inclui o desenvolvimento e o fornecimento de soluções completas, serviços específicos dependendo da aplicação e packaging;

Saúde, segmento que inclui produtos como sensores e dispositivos microfluídicos;

Projetos sob demanda, segmento que engloba dispositivos como IPDs (Integrated Passive Device), SIPs (System in a Package) e caracterização estrutural;

Sensores e plataformas de análise para aplicação em detecção doenças (animais, humanas e vegetais) e monitoramento de equipamentos (automobilístico, agrícola entre outros).

Principais patentes e produtos da empresa

Chip do Passaporte (CTC21001);

Dispositivo sensor eletroquímico do tipo micromódulo (possibilita a realização de testes rápidos para detecção de doenças como DENGUE e COVID19) BR 10 2020 017310 3;

Dispositivo microfluídico e processo para medição eletroquímica de micro-RNAv (possibilita a detecção precoce de Câncer em estágios iniciais) BR 10 2020 017927 6;

Identificação e rastreamento de pneus (BR 10 2019 002815 7US20200254827A1)

 

Fonte: CUT Nacional

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